Capítulo 2

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- O Charles me mandou ir pra uma cobertura em Londres amanhã!

- Que tudo!

- Qual parte do "eu detestei isso" você não entendeu?

- Mas você não veio de lá?

- Vim de Dublin, mas eu detesto aquela Terra...

- Eu não entendo?

- Foi gente daquela Terra que me abandou...

- Mas você já voltou lá.

- Voltei, mas ela, aquela Terra, como sempre roubou algo de mim mais uma vez.

- Cat, eu não estou entendo juro...

- Esquece. –Disse secando uma lágrima que ainda insistia em cair.

- É o menino da foto não é?

- Não sei o que você está falando...

- Eu sou lenta, mas algumas vezes meu processador funciona, aquela foto que você nunca se desgruda, porque nunca me contou a história dela?

- Porque não é importante.

- Não é o que seus olhos dizem, olha, sou sua amiga e quando quiser desabafar estarei aqui, certo?

Tantos anos que fazem, será que vai me ajudar colocá-lo para fora?

- Certo.

- Bem, vou para casa.

- Espera!

- O que foi?

- Eu quero contar.

- Bem é melhor eu me sentar não é?

- Sim... Eu não sei por onde começar...

- O começo é ótimo.

Respirei.

- Eu fui criada num orfanato, como você sabe, nunca fui de amizades e não precisava, tinha o melhor amigo de todos, seu nome era Adam, e éramos inseparáveis. Ele sempre me protegia, principalmente de uma meninas malvadas que insistiam em querer me bater. Lembro de uma tempestade que teve e eu estava tão assustada que sai escondida do dormitório das meninas, me fingi de menino e entrei escondida no dormitório masculino, encontrei ele e ele me contou uma história para eu não ter medo, depois dormi com ele, ele me abraçou e me senti protegida, sempre foi assim com ele, me sentia protegida. No meu aniversário de 12 anos, fugimos por um dia do orfanato e brincamos o dia inteirinho num parque mais afastado, depois tiramos essas fotos na cabine do shopping, a noite voltamos e como sempre, levamos broncas, ficamos de castigos, e fomos separados por duas semanas, sempre elas nos afastavam como castigos, diziam que a gente era toxico um para o outro, então, sempre estávamos de castigo, sempre encrencados, aprontando tudo...

- Nossa...

- É... Nossa, mas na minha vida nunca algo é pra ser certo... Aos 16 anos uma mulher apareceu no orfanato alegando ser a mãe do Adam, ela disse que foi obrigada a dar o filho, ela era muito nova e seus pais a obrigaram, Adam era filho de uma família aristocrata, a mãe rica que se envolveu com o motorista, um escândalo, mas os pais dele enfrentaram barreiras e conseguiram ficar juntos e sempre procuraram pelo filho que havia sido dado pelo próprio avô. Depois de um certo tempo Adam entendeu e os perdoou, então ele foi embora do orfanato e eu fiquei sozinha. Ele vinha sempre me visitar, seus pais não eram ricos, a mãe dele renunciou a herança e então não tinham como me adotar também. Mesmo ele vindo me visitar não era a mesma coisa. Eu estava crescendo e começava a ver as coisas diferentes, queria ser uma pessoa importante e independente. Decidir que ia estudar e ser alguém na vida. Também queria conhecer lugares, viver sabe. Quando fiz 18 anos e sai do orfanato eu queria sair de Dublin, sair da Inglaterra, conhecer novos ares... Eu chamei o Adam, era o nosso plano de criança, falávamos que quando saíssemos daquele lugar iriamos desbravar o mundo, conhecer cada cantinho. Quando eu conversei com ele, não esperava aquela resposta...

- Ele não quis não foi?

- Foi... Ele disse que ainda queria viver mais com os seus pais, queria poder curti todo o tempo que não pode. Ele pediu para eu viver com eles por um tempo, mas eu estava sobrando naquela história, então com o dinheiro que a madre tinha me dado peguei o primeiro avião e vim para a América, trabalhei de garçonete por um tempo até que consegui passar na faculdade de jornalismo, tinha contato com ele até então, mas fui roubada e levaram meu celular, perdi seu número, então decidir me dedicar e construir uma carreira solida, me tornar diretora de uma revista de sucesso, entrei na Talzinnton, e até hoje estou, e mesmo com todos os anos de trabalho nem isso eu conseguir, ser diretora. Viajei para a Inglaterra nesse meio tempo, fui até Dublin contar para ele que trabalhava numa grande revista agora, mas os vizinhos disseram que ele havia se mudado, ninguém sabia informar para onde. Fiquei uma semana em Londres, olhando cada esquina esperando ele esbarrar comigo, mas nunca conseguir... Então, prometi que nunca voltaria aquela Terra amaldiçoada e aqui estou, 10 anos depois indo para lá amanhã.

- Eu nem sei o que dizer, é muita coisa para absorver.

- É.

- Você é muito batalhadora sabia?

- Talvez... –falei sem ânimo.

- Você o amava?

- Claro, era meu melhor amigo, era minha família...

- Não digo assim Cat, digo como algo a mais...

- Quer dizer como...

- Isso.

- Eu... eu não sei... nunca parei para pensar nisso, mas era só uma linda amizade.

- Mas você indo lá é uma nova chance de encontrar ele.

- Não sei...

- Você está com medo?

- Estou... claro que estou, ele deve estar lindo e com uma família formada e eu aqui ainda tentando ser diretora de uma droga de revista e ao menos tenho um namorado, saí de lá para uma vida melhor e sinto que ainda estou no mesmo lugar.

- Você não está no mesmo lugar, você sabe, talvez algumas coisas aconteçam quando tem que acontecer.

- Meus pais me abandonaram, isso tinha que acontecer também?

Meu Porto Seguro- Um conto de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora