Capítulo 4

69 7 7
                                    


Faz um ano desde de que meu pai viajou para oferecer apoio ás famílias refugiadas de um país em guerra. Um tanto arriscado por ser um país terrorista, mas até agora, e espero por um longo tempo, nada de ruim lhe aconteceu.

Não me leve a mal, tá? Eu super apoio e admiro meu pai ser tão bom e gentil com essas pessoas, eu queria ter essa coragem e essa benevolência toda que ele possui mas, não posso deixar de pensar que ele é meu pai. E como pai é o dever dele estar presente em todos os momentos e fases da minha vida.

Até porque, não é a primeira vez que ele faz isso, não é a primeira vez que ele ajuda outras pessoas enquanto deixa sua filha nas mãos de uma mãe que pula de cidade em cidade por conta de um trabalho idiota.

É claro que, como uma boa pessoa e um bom pai que realmente é, sempre me enviou cartas de suas aventuras por lá. Lá não tem um bom sinal então, as cartas foram a melhor alternativa para mantermos contato.

Ser uma boa filha durante anos sempre fez a família se orgulhar de mim, mas apenas evasivamente, eles nunca realmente prestaram atenção no que eu tinha feito de bom.

E após essa longa viagem de meu pai e mesmo com os meus pedidos e apelos enchendo-lhe a paciência, ele foi do mesmo jeito e vi que nada que eu pudesse fazer poderia mudar isso.

A não ser aprontar.

Eu sei, parece clichê, mas devido ás circunstâncias foi a melhor opção para fazê-lo mudar de ideia e acompanhar minha adolescência como qualquer pai faria.

Então me revoltei.

Mudei meu estilo, me livrei dos meus amigos de boa influência, fiz tatuagens, pintei meu cabelo diversas vezes, coloquei piercings e tudo o mais que faria pais se preocuparem com seus filhos.

Mas nada disso adiantou, pelo contrário, eu acabei me acostumando e gostando de viver dessa forma, pelo meu comportamento um tanto ostil, fiz minha mãe perder o emprego diversas vezes como fiz hoje.

E nem assim, meu pai mudou de ideia.

Quando eu fazia algo realmente grande, ele telefonava (quando achava sinal), ou enviava-me cartas falando o quanto estava decepcionado comigo e o quanto que eu estava errada fazendo essas coisas e blá, blá, blá...

Eu, corriqueiramente, me acostumei a ser o que sou hoje. E temo que, caso algum dia eu venha a decidir ser como antes eu não consiga, porque eu finalmente me libertei.

- Filha? - Ela me chamou após eu ter ficado alguns minutos olhando meus dedos nervosamente.

Ela se arrastou até o meu lado esperando eu dizer alguma coisa, e eu diria. Diria tudo que eu guardei durante esse ano.

- Eu tenho medo mãe. - Sussurro, deixando uma lágrima rolar começando a borrar meu deliniador preto. - Tenho medo de nunca ver o papai de novo, tenho medo de... - Digo com a voz embargada, respirando fundo para continuar. - Tenho medo de tirarem ele de mim, tenho que algum terrorista acabe com a minha esperança de um dia vê-lo novamente, tenho medo de ele estar cuidando de alguém com tanto carinho que não seja eu. Porque eu também preciso dele, mãe. - Digo já entre lágrimas. Mamãe me abraçou e eu continuei com meu lamento. - Imagina como ele deve ter mudado? Imagina como o cabelo dele deve estar ligeiramente comprido e embaraçado, como sua barba deve está por fazer, alguns pêlos tortos e brancos aqui e ali. Imagina como deve estar queimado do sol escaldante de algum deserto que ele tenha passado. Imagina como deve estar magro, com fome, com sede. Imagina como ele deve estar se esquecendo de mim a cada dia, como ele deve estar deixando de me amar a cada dia, como ele deve estar esquecendo da minha voz, do meu rosto, do meu cabelo, do meu tom de pele...Imagina como ele deve ter esquecido que tem uma filha. - Digo enxugando meu rosto na sua blusa.

Era egoísmo, eu sei. Mas eu queria ele aqui comigo...

Será que era pedir demais?

Presas no ElevadorOnde histórias criam vida. Descubra agora