-Aurelia, leste da cidade, aproximadamente seis horas da tarde -Esta é a área da plebe, que não está nem um pouco resguardada, muito afora apresentável. Ruas esburacadas, onde nem mesmo um forte e obstinado asno conseguiria atravancar. Clínicas médicas lotadas, cheias de ditos-cujos adoentados fisicamente e mentalmente. Comércios, talhos e entre outras, armazéns de mantimentos se esgotando cada vez mais. O índice de criminalidade acresce em períodos de crise, anormalidade motivada pelo fechamento de uma cervejaria local.
-Sai daqui moleque!
Diz um indivíduo rechonchudo vestindo um avental branco denegrido de sangue, o bigode sujo de sebo e a careca cintilando de tanta oleosidade. Ele chuta uma criança de aproximadamente seis anos para além de seu estabelecimento, o garoto vestido em "farrapos" que se resume a um jaleco velho gris, descalço, com somente uma luva na mão destra e um gorro cinzento todo escavado na cabeça acobertando os compridos cabelos castanhos e anelados.
Ele rapidamente é amparado por seu fiel companheiro, um cão magro e alto de pelos acinzentados abarrotados de nós, o cão exibe os caninos para o cônjuge dono do estabelecimento que chutou o menino como sinal de intimidação, o homem dá uma risada levando a mão a sua enorme barriga e adentra em seu estabelecimento.
-Vamos embora Bolota.
Aquela cena mesmo sendo vista por todos os cidadãos que perambulavam por aquela movimentada rua, é ignorada. Isso é algo comum na era atual, uma era de injustiças e de pessoas desprovidas de qualquer humanidade e coragem.
O garoto caminha sendo seguido por Bolota, desvia da movimentada rua e entra em um beco, o ar gélido adentra sua pele sensível e suja de graxa, terra e suor.
-Fique aqui amigo.
O cachorro late bem baixinho e se apoia nas patas traseiras encarando o garoto com o focinho levantado. O menino sobe em uma lata de lixo de madeira e começa a revirá-la. Pega de dentro de um saco escuro um sanduíche, ou, pelo menos, o que resta dele. Desce da lixeira e estende a mão com o sanduíche em direção ao cachorro, este que aproxima o focinho e cheira o alimento.
-Eu sei que a aparência não é das melhores.
O cachorro morde a ponta do sanduíche e começa a mastigar com os poucos dentes que lhe restam, o menino estende a mão com o resto do sanduíche em direção ao cachorro e ele encara o garoto com seus olhos miúdos e negros.
Você precisa disso mais do que eu.
-Você acha?
O amplo "Navio em chamas", um ilustre bar situado nos arrabaldes de Aurelia, famoso por suas longas noites atopetadas de muitas bebidas, drogas, prostitutas e jogos de azar. Digamos que é um estabelecimento de muita notoriedade na província mais pobre da cidade, talvez histórico? Pois é, o Navio em chamas fora fundado por um pirata que após anos e anos saqueando e queimando cidades acabou descobrindo seu ponto de "paz" justamente em Aurelia, onde o mesmo conheceu uma jovem meretriz e se apaixonou. Uma linda história de amor, não? Vejamos, então porque o nome Navio em chamas? É claro, o pirata chamado John Crystal saqueou e matou muitas pessoas, como já dito. Saquear e trucidar fulanos é uma atitude correta? Obviamente não, ou quem sabe seja na mente desprovida de comportamentos normalmente humanos de John Crystal. Matar pessoas e roubá-las causa um estado de revolta em seus meios familiares, e por acaso o famigerado pirata acabou conglomerando em seu encalço um número exorbitante de inimigos. E o que aconteceu depois? Você se pergunta, não é? Pois então saciarei esta curiosidade. O pirata John Crystal fundou um bar que hoje é o tal já referido, tinha muito dinheiro e influência e como um bom pirata, nunca abandona seu navio. Aliás, o bar era o navio, um detalhe ainda não esclarecido, ele fundou-o sobre o piso de seu amado e também odiado (por outros) navio. O fato é que durante uma longa e festiva noite, John Crystal e sua amada meretriz (ninguém lembra o nome dela, alguns especulam que era Linda Jones) se apreciavam na ampla cabine do capitão, e durante este momento glorioso o navio fora invadido por seus muitos inimigos e queimado. Como um pirata de honra ele submergiu junto com seu navio resistindo até o final, já Linda Jones (Seria esse o nome dela mesmo?) Escapou ao pedido do amante e com seus mais valiosos tesouros e anos mais tarde inaugurou o bar "Navio em chamas" em tributo ao seu querido John Crystal. Outro pormenor, ela usou a pouca madeira que encontrou do navio pirata para arquitetar a miniatura do histórico e aterrorizante "Linda Sea", o nome que John gritava em seus últimos momentos de vida enquanto estertorava em meio as chamas.
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As Crônicas Estelares - A Espada Rebelde
Viễn tưởngO que esperar de um mundo que não espera nada de você? Um mundo que apenas tira de você aquilo que mais preza, aquilo que mais ama. Aliás meu nome é Stella Stoyadinov Calijin, mas me chamem apenas de Stoya. Quando eu tinha apenas 7 anos, minha...