04.Navio em chamas.

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-Aurelia, leste da cidade, aproximadamente seis horas da tarde -

Esta é a área da plebe, que não está nem um pouco resguardada, muito afora apresentável. Ruas esburacadas, onde nem mesmo um forte e obstinado asno conseguiria atravancar. Clínicas médicas lotadas, cheias de ditos-cujos adoentados fisicamente e mentalmente. Comércios, talhos e entre outras, armazéns de mantimentos se esgotando cada vez mais. O índice de criminalidade acresce em períodos de crise, anormalidade motivada pelo fechamento de uma cervejaria local.

-Sai daqui moleque!

Diz um indivíduo rechonchudo vestindo um avental branco denegrido de sangue, o bigode sujo de sebo e a careca cintilando de tanta oleosidade. Ele chuta uma criança de aproximadamente seis anos para além de seu estabelecimento, o garoto vestido em "farrapos" que se resume a um jaleco velho gris, descalço, com somente uma luva na mão destra e um gorro cinzento todo escavado na cabeça acobertando os compridos cabelos castanhos e anelados.

Ele rapidamente é amparado por seu fiel companheiro, um cão magro e alto de pelos acinzentados abarrotados de nós, o cão exibe os caninos para o cônjuge dono do estabelecimento que chutou o menino como sinal de intimidação, o homem dá uma risada levando a mão a sua enorme barriga e adentra em seu estabelecimento.

-Vamos embora Bolota.

Aquela cena mesmo sendo vista por todos os cidadãos que perambulavam por aquela movimentada rua, é ignorada. Isso é algo comum na era atual, uma era de injustiças e de pessoas desprovidas de qualquer humanidade e coragem.

O garoto caminha sendo seguido por Bolota, desvia da movimentada rua e entra em um beco, o ar gélido adentra sua pele sensível e suja de graxa, terra e suor.

-Fique aqui amigo.

O cachorro late bem baixinho e se apoia nas patas traseiras encarando o garoto com o focinho levantado. O menino sobe em uma lata de lixo de madeira e começa a revirá-la. Pega de dentro de um saco escuro um sanduíche, ou, pelo menos, o que resta dele. Desce da lixeira e estende a mão com o sanduíche em direção ao cachorro, este que aproxima o focinho e cheira o alimento.

-Eu sei que a aparência não é das melhores.

O cachorro morde a ponta do sanduíche e começa a mastigar com os poucos dentes que lhe restam, o menino estende a mão com o resto do sanduíche em direção ao cachorro e ele encara o garoto com seus olhos miúdos e negros.

Você precisa disso mais do que eu.

-Você acha?



O amplo "Navio em chamas", um ilustre bar situado nos arrabaldes de Aurelia, famoso por suas longas noites atopetadas de muitas bebidas, drogas, prostitutas e jogos de azar. Digamos que é um estabelecimento de muita notoriedade na província mais pobre da cidade, talvez histórico? Pois é, o Navio em chamas fora fundado por um pirata que após anos e anos saqueando e queimando cidades acabou descobrindo seu ponto de "paz" justamente em Aurelia, onde o mesmo conheceu uma jovem meretriz e se apaixonou. Uma linda história de amor, não? Vejamos, então porque o nome Navio em chamas? É claro, o pirata chamado John Crystal saqueou e matou muitas pessoas, como já dito. Saquear e trucidar fulanos é uma atitude correta? Obviamente não, ou quem sabe seja na mente desprovida de comportamentos normalmente humanos de John Crystal. Matar pessoas e roubá-las causa um estado de revolta em seus meios familiares, e por acaso o famigerado pirata acabou conglomerando em seu encalço um número exorbitante de inimigos. E o que aconteceu depois? Você se pergunta, não é? Pois então saciarei esta curiosidade. O pirata John Crystal fundou um bar que hoje é o tal já referido, tinha muito dinheiro e influência e como um bom pirata, nunca abandona seu navio. Aliás, o bar era o navio, um detalhe ainda não esclarecido, ele fundou-o sobre o piso de seu amado e também odiado (por outros) navio. O fato é que durante uma longa e festiva noite, John Crystal e sua amada meretriz (ninguém lembra o nome dela, alguns especulam que era Linda Jones) se apreciavam na ampla cabine do capitão, e durante este momento glorioso o navio fora invadido por seus muitos inimigos e queimado. Como um pirata de honra ele submergiu junto com seu navio resistindo até o final, já Linda Jones (Seria esse o nome dela mesmo?) Escapou ao pedido do amante e com seus mais valiosos tesouros e anos mais tarde inaugurou o bar "Navio em chamas" em tributo ao seu querido John Crystal. Outro pormenor, ela usou a pouca madeira que encontrou do navio pirata para arquitetar a miniatura do histórico e aterrorizante "Linda Sea", o nome que John gritava em seus últimos momentos de vida enquanto estertorava em meio as chamas.

As Crônicas Estelares - A Espada RebeldeOnde histórias criam vida. Descubra agora