DIÁRIO: Quinta, 01 de Agosto de 2013.

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19:05.

Não sei por que o meu supervisor me mandou escrever um diário detalhado com data e hora de tudo. Ele exige coisas de mim como se fosse meu terapeuta. Aliás isso me lembra que eu preciso de um, apesar de que a supervisão já é quase uma terapia. Acho irônico o fato de nós psicólogos sermos os seres na face da terra que mais precisam atendimento psicológico.

Eu deveria estar escrevendo meu artigo, preciso entregar um rascunho de introdução amanhã. Mas estou aqui brincando de diário por culpa do meu supervisor.

21:08.

Ainda não escrevi nada do meu artigo.

Não consegui nem mesmo digitar o que já tinha rascunhado no caderno. Odeio essa folha branca na tela do computador. Ela me dá agonia e me sinto pressionada. Então usei uma técnica de relaxamento: decidi que não iria mais escrever; que iria mandar o meu orientador pra puta que o pariu. Aliás, decidi que não ia nem mesmo botar o pé na universidade amanhã. Me sentei na frente da TV, peguei um copo de refrigerante... E então, "boom", as palavras vieram até a minha mente. Pulei para a cadeira e comecei a fazer aquele texto aparecer na tela.

Sempre funciona.

22:13

Estou empacada. Me deu vontade de fumar.

Eu sei que tem cigarro na gaveta da escrivaninha. Está bem abaixo do laptop. Eu consigo sentir o cheiro da nicotina. Mas eu decido não fumar.

Muita gente pergunta: "por que você tem cigarro em casa se não fuma mais? Vai acabar caindo em tentação". É uma mensagem para o meu inconsciente. Sou eu dizendo para mim mesma quem está no controle. Eu sei que posso fumar a hora que quiser, mas a questão é que agora não quero.

Só estou tensa porque empaquei no texto.

23:21

Terminei e revisei a introdução do artigo. Acho que está bom.

Estou gostando dessa história de escrever um diário. Amanhã de manhã pretendo anotar aqui os sonhos que tiver. Também pretendo ler de novo essas anotações sobre a minha vida e ver se algo do que escrevi aqui faz algum sentido.

Preciso lembrar de reclamar com o síndico do cheiro de peixe podre que invade a sala toda vez que venta. Deve ter algum bueiro aberto aqui por perto.


A Noiva do Homem PeixeOnde histórias criam vida. Descubra agora