Transcrição de depoimento

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Transcrição parcial do depoimento de THALYTA CAMPOS PEREIRA:

Eu fiquei pensando naquelas histórias em que pessoa é encontrada sozinha, já morta. Deve ser uma forma muito triste de morrer. Não consegui tirar isso da cabeça então pedi permissão para ir até o apartamento dela saber o que estava acontecendo.

Eu já imaginava que o pior havia ocorrido, afinal de contas Thaís sequer chegou atrasada sem avisar antes.

Enquanto eu caminhava por aquele corredor sabia que não deveria estar lá, que ia ver algo que iria me chocar. Mas ainda assim me coloquei diante da porta e bati.

— Vá embora — ela gritou lá de dentro.

— Sou eu, Doutora. A Thalyta. Me deixe entrar!

Ouvi o barulho da porta sendo destrancada e então finalmente se abriu. Ela estava em péssimo estado: vestia um roupão folgado com manchas escuras sobre o corpo nu coberto de ferimentos. Seus cabelos estavam sujos e arrepiados e tinha os olhos fundos como quem não dorme há muitos dias. O cheiro dela também não era dos mais agradáveis, mas ainda estava ameno se comparado à podridão do apartamento. Eu tentei falar com ela:

— Taís você está bem? O que aconteceu? As pessoas estão preocupadas na universidade e —, mas ela não me ouviu.

— Eu tive que matá-lo — ela respondeu.

— O quê?

— Eu coloquei a mão no seu pescoço e apertei até ele se debater e parar de se mexer. Ele se mijou todo quando deu o último suspiro.

Eu fiquei muda.

— Ele queria me penetrar de novo com aquele pênis escamoso. Se minhas mãos ficaram feridas quando eu apertei o pescoço dele, imagina então se ele coloca... — ela disse me mostrando as mãos em carne viva.

— Do que você está falando, Thais? Quem você matou?

— O homem-peixe!

Eu vi um rastro de sangue saindo do quarto indo em direção à cozinha.

O que vi lá me fez perder o sono por vários dias. Eu não fazia ideia de onde haviam saído àquelas escamas. O cheiro pútrido me fez vomitar. Ele estava aberto. Todo aberto. E havia sangue para todo lado e pedaços de carne já escurecidos por todo o lugar. Os vermes se contorciam dentro dele. Haviam tantas coisas lá que eu não conseguia identificar. Escamas e pedaços de peixe... A cabeça dele estava esmagada no chão.

— Eu tive que abrir pra ter certeza. Ele era um deles. Eu podia ver suas guelras! Uma espécie de anfíbio, eu acho. — Ela disse, e pegando uma faca sobre a pia começou a coçar as mãos usando a lâmina.

— Doutora, você não está bem, precisa de ajuda. OK? Eu vou ligar para o...

— Sim, preciso. — Disse ela me interrompendo — Mas ninguém poderá me ajudar. As escamas estão crescendo em mim. Logo vou me tornar como ele — Ela disse apontando a faca pra mim.

— Thaís, eu... Eu não sou um "deles". Eu sou a Thalyta, lembra?

— Claro que é, todos somos os vermes dele... Meu deus. O que eu estou pensando? Você é inocente! Ao contrário de mim, que não tenho mais salvação. Ele já me viu! Espero que não veja você...

Então ela cortou o próprio pescoço.

A Noiva do Homem PeixeOnde histórias criam vida. Descubra agora