Naquela semana era a quarta vez em que Stênio soltava algum de seus presos. Também era a quarta vez em que invadia o escritório do ex marido, contando também, era a quarta vez em que ia para o shopping extravasar. Heloísa sabia que não ía lá só para reclamar, o fato de ser seu ex marido a soltar um de seus presos a incomodava muito, mas sabia que era só o seu trabalho. No fundo ela ia lá só para ter o gosto de brigar com ele novamente, o gosto de vê-lo, a vontade que ela tinha era de bater nele, mas também de o empurrar até a mesa e fazer amor como sempre acontecia quando eles eram casados e ela aparecia no escritório. Eram casados, eram casados até ele acabar com tudo, até ela descobrir uma das inúmeras traições. Toda noite quando ia dormir, ela imaginava como seria retomar o casamento, como seria ter a filha novamente ao seu lado, como seria chegar em casa a noite e encontrar o marido a esperando com uma taça de vinho pronto para fazê-la esquecer de tudo e todos. Mas, sabia que não tinha volta. Apesar de o divórcio ter acontecido há dois anos, as feridas ainda estavam alí. Feridas de alguém que com diabetes que acabou se machucando e como o esperado não fechou, nem cicatrizou. A doença deles não era a diabete, não era uma doença que se trata com remédios, era o amor. O amor, uma simples palavra mas que carregava grandes sentimentos. Um culpava o outro pelo fim do casamento, ele a culpava por trabalhar demais e esquecer da família e ela, ela o culpava por ser fraco demais a ponto de se deitar com outra mulher, a ponto de chegar em casa com perfume barato e blusa com marca de batom que não era dela. Pior eram as desculpas, " eu tava no ônibus e a garota caiu em cima de mim. " " você ta louca, foi só uma conhecida que me cumprimentou e o cheiro do perfume ficou impregnado. "
Quanto mais ele mentia, quanto mais ele traía, mais ela fazia vista grossa e se afundava no trabalho. Até que um dia foi inevitável a descoberta da traição, até que um dia levar aquele casamento adiante se tornou um fardo, até que um dia o divórcio se tornou a única solução. Ele não queria, ela bateu o pé, o divórcio aconteceu. Junto com o divórcio veio a dúvida, " com quem a menina fica? "Ela nem sabia, mas todas as vezes em que alguém o procurava para resolver questões com a polícia civil a qual a ex mulher era delegada, ele aceitava. Não pelo dinheiro, muito menos para competir, o prazer de vê-la entrar pela porta do Alencar&Quadros, toda raivosa segurando seja um gravador ou arquivos era maior que qualquer coisa.
- Donelô? Donelô a senhora não pode... - Lena tenta em vão parar a delegada que passava feito um furacão por sua mesa seguindo direto para o escritório.
- POSSO SABER QUE PALHAÇADA É ESSA STÊNIO? - Helô joga o habeas corpus na mesa do advogado.
- Um habeas corpus?
- Não se faça de engraçadinho, eu não sou a Xuxa pra aturar tuas brincadeiras. Como você teve coragem seu cretino? Você sabe como eu trabalhei pra concluir esse caso, e você já tava com o habeas corpus escondido na gaveta. Argh Stênio eu odeio você. - Desabafa caindo na cadeira.
- Será? Será que odeia mesmo? Não é o que parece cada vez que nos encontramos, cada vez que eu te toco, cada vez que eu te beijo.
- Rá - Interrompe - Tu não faz isso há mais de dois anos meu filho. - Debocha
- Tudo isso? parece que foi ontem que você invadia minha sala já tirando a roupa dizendo que queria fazer amor a tarde inteira. - Sentindo o rosto esquentar, a delegada fica quieta. Tomando aquilo como um incentivo, Stênio se aproxima da cadeira da ex sussurrando em seu ouvido. - Parece que foi ontem que, cada vez que você gozava você gritava meu nome, arranhava minhas costas e me mordia de tão forte que era o prazer. Lembra Helô, Lembra de quando fomos no aniversário de 4 anos da Letícia, eu fiquei tão possesso por te ver conversando com aquele imbecil, que te arrastei para o primeiro banheiro e te comi alí mesmo, por trás.
- CHEGA - Levanta - eu não vim aqui pra ficar ouvindo essas gracinhas, se você não consegue ser profissional e conversar sem envolver sexo no meio, então você está na profissão errada meu querido.- Seguindo em direção a porta, a delegada para ao ouvi-lo chamar.
- Helô?
- O que foi? Fala logo que eu tenho que voltar pra delegacia.
- Cala a boca.
- O quê? quem você acha que é pra... - A puxando para um beijo forte, Stênio a silencia da melhor forma que conhecia. Da melhor forma que ELES conheciam. O beijo era muito mais importante que o sexo, demonstravam com a boca o que não tinham coragem para dizer. E é naquele beijo que cada um tenta demonstrar a falta que o outro faz. É naquele beijo que os sentimentos se misturam e a certeza do divórcio caí para a incerteza.
- O que foi isso? - Respirando com dificuldade, Stênio se afasta apenas o suficiente para que recuperem o fôlego.
- Não sei, mas não vai acontecer de novo. - Tentando provar o contrário, o advogado a beija de novo, de novo e de novo.
- Por que você não assume que ainda me ama? seria tão mais fácil.
- Pode parecer que sim, mas eu não sou mais aquela menininha idiota com sonhos de construir uma família, Stênio. Você conseguiu destruir isso no momento em que achou que eu não descobria suas traições.
- Que traições? Pelo amor de Deus. Oh Helô? Para né? já disse que isso é coisa da sua cabeça.
- E ainda se faz de cínico. Já deu por hoje, Stênio. Não adianta tentar fazer esse circo todo, nossa história acabou. Não vai ser um beijo que mudará isso. Não será uma tarde intensa de sexo que mudará o que eu vi. PORQUE EU VI. Eu vi aquela mulher dançando no seu colo, eu vi você a olhando do mesmo jeito que olhava pra mim quando eu dançava pra você. Eu vi também você seguindo com ela para um motel. O motel em que sempre íamos. Ah, Stênio. Por que isso? Me deixa passar, é melhor esquecer que após o divórcio aconteceu alguma coisa entre a gente.
- Você algum dia irá me perdoar?
- Quer perdão? procure um padre. - Segue para a porta vacilando alguns passos quando a voz embargada do advogado.
- "Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida." - Ela não sabia se um dia aquilo iria se concretizar. Apenas sabia que o amava e isso era o bastante para que uma pequena esperança surgisse em seu interior. Heloísa e Stênio foram fracos, fracos o suficiente para se perderem e apenas o tempo poderia dar a possibilidade daqueles dois corações se tornarem apenas um só."Eles se amam. Todo mundo sabe mas ninguém acredita. Não conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossível. Ele continua vivendo sua vidinha idealizada e ela continua idealizando sua vidinha. Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem não dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas não ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. E assim vão vivendo até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por aí, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é difícil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso" - Tati Bernardi
Citações:
- Armandinho
- Tati BernardiAVISO
Como eu prometi nos comentários, tá aqui uma fanfic de capítulo único. Amanhã eu vou tentar continuar a Eu imaginei a minha vida sem você, e foi insuportável. E não, eu não postei essa como outra história porque eu não sou obrigada a nada.
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Eu imaginei a minha vida sem você, e foi insuportável
FanfictionUma viagem a trabalho que prometia ser como outra qualquer, acabou sendo o pior pesadelo de Heloísa.