Capítulo 7

39 5 3
                                    

Ayla

Eu, definitivamente, sou um elefante, ou talvez um golfinho. Tenho uma memória que me crucifica, castiga e me faz lembrar de coisas nas quais eu preferia esquecer. E meu pai é uma delas. Não que eu não o amasse, longe disso, mas é que, digamos que ele não foi o melhor pai do mundo. Sempre ausente, dando mancadas, frio, calculista e preocupado apenas com Daphne. As vezes dava raiva, se bem que, Daphne precisava mesmo de mais atenção que eu.

Nunca vou me esquecer do dia que ele disse que se orgulhava de mim.

**
Eu tinha 16 anos, estava fazendo um curso rápido de enfermagem após voltar pra casa depois de anos morando com a tia Mia. Ellen, como sempre, não estava em casa e meu pai, fazendo plantões.

Mas nesse dia, ele estava cuidando da Daphne, que havia acabado de ter um ataque. Nem lembro porque. Ela e Liz haviam brigado e eu, como sempre, defendi a Daphne com unhas e dentes.

Papai chegou em casa e brigou com a Daphne, depois, eu fui conversar com ele. Nesse dia, eu queria um amor paternal, estava precisando. Bati na porta de seu escritório, ele me permitiu entrar, entrei, brigamos um pouco, depois me lembro que disse.

- Você só tem orgulho da Elizabeth porque foi você que a criou! Aliás nem ela né! Só ela é seu orgulho, eu faço tudo para que tenha orgulho de mim e o que eu ganho? Bronca por defender minha irmã. Posso não ter razão, mas sou eu que tento controlar as coisas quando você não está.

Ele apenas me olhou calmo, eu chorava. Ele veio até mim e abraçou, beijou minha testa e disse.

- É claro que eu tenho orgulho de você Ayla. Das três, você é a forte, tenta fazer o trabalho da sua mãe. Você defende a Daphne, e isso é lealdade. Admiro isso em você. - ele diz e enxuga minhas lágrimas. - Agora pare de chorar, você não merece isso. Agora, me licença que eu preciso trabalhar e me acalmar.

- bom pai. - digo baixo e saio da sala com um sorriso no rosto.

****

Sorri com a lembrança e me lembrei que hoje era o segundo aniversario de morte dele. Logo meu sorriso se esvai e eu lembro que tenho que ligar para Daphne, para saber como estavam as coisas lá em casa.

Ligo para ela, ficamos conversando por um tempo. Falamos sobre nosso pai e sobre tudo que aconteceu no tempo que eu estive fora. Quando a campainha toca, corro até ela e a abro. Era Luke, e sua cara era de poucos amigos.

Rapidamente me despeço de Daphne e desligo o celular, olhando o garoto.

- Tá tudo bem Luke? - minha voz era calma.

Uma Garota Qualquer Onde histórias criam vida. Descubra agora