A Paz que não quero

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"Às vezes eu falo com a vida

Às vezes é ela quem diz

Qual a paz que eu não quero

Conservar

Para tentar ser feliz ..."[1]

Hoje, dia 19 de novembro de 2007, uma força policial, com 400 homens fortemente armados, da Policia Federal, Civil e Militar desencadearam a operação "PAZ NO CAMPO", cuja meta era invadir, retirar e prender os camponeses sem terra que estavam ocupando a Fazenda Forkilha. Mas o que seria a princípio uma operação de paz se tornou uma operação de terrorismo, com policiais agindo como cães ferozes e na contra mão da democracia e de um estado democrático de direito.

Os camponeses sem terra foram torturados, humilhados, desumanizados, etc, sendo todas essas penas inexistentes em nossa legislação. As mulheres ameaçadas de perderem seus filhos, os homens jurados de morte e as crianças açoitadas na frente de seus pais. Isso foi o retrato bárbaro da "desocupação" feita pela dita força policial. Por conseguinte, por volta das 21h do dia de hoje, 03 ônibus cheios de trabalhadores chegaram à DEPOL de Redenção.

Todos eles se encontravam sujos, com fome, sede e muitos ensanguentados. Os poderosos fazendeiros, aparentemente conseguiram intimidar os trabalhadores, pois muitos deles estão crentes que são errados, que são bandidos. Camaradas, defensores da democracia constitucional e lutadores da liberdade, essa situação deve ser revertida, pois os trabalhadores não podem serem intimidados dessa forma desumana, e menos ainda se intimidarem na luta pela reforma agrária. Por isso, solicitamos, para o mais breve possível, o apoio da CPT, da mídia, mesmo da Comissão de Direitos Humanos ou mesmo de entidades além do nosso território nacional, no sentido de divulgar o ocorrido, ajudar os camponeses e exigir que se cumpra a lei de nosso pais e os tratados internacionais ligados a proteção da dignidade da pessoa humana, a defesa da vida e da liberdade.

Saudações!

Mathos Messias Conceição

Durante a elaboração da carta sentíamos nossos nervos como exposto na flor da pele. Estávamos numa lan-house próxima à delegacia. Ele estava concentradíssimo e redigiu em poucos minutos as poucas linhas da carta, pois tínhamos que enviar o mais rápido para amigos, entidades sociais, jornais e revistas, ou qualquer entidade, órgão, ser ou divindade, que pudesse se compadecer da situação daqueles miseráveis marginalizados. Então era pegar as ideias principais do fator acontecido, colocá-las numa forma clara e convincente, e, por fim, enviar – torcendo para sensibilizar alguém. Queríamos de alguma forma ser útil naquele instante de repressão e desrespeito aos direitos humanos e constitucionais. Embora acreditássemos que ter alguém defendendo a causa daqueles pobres excluídos do sistema fosse algo difícil, senão impossível. Sem falar no poderio da UDR – União Democrática Ruralista – que era uma suposta entidade criada pelos grandes latifundiários da nossa região para defender seus interesses corporativos, ainda que fosse necessário para isso o uso de força armada e do assassinato, como relatavam o povo da região. Ela contava com políticos de peso fosse na assembleia estadual, fosse no congresso nacional.

Isso me fez Lembrar das histórias bárbaras da época da colonização que são contadas ainda hoje pelos moradores mais antigos de nossa pequena cidade de Redenção, no estado do Pará. Estas se assemelham muito àquelas que constituíram a nossa nação, Brasil. O negócio era retirar a riqueza daqui o mais rápido possível e voltar para a terra natal com os bolsos transbordando de dinheiro. Para eles não importavam as consequências ou o preço que isso iria acarretar. Se se encontrassem com povos nativos, e eles representassem empecilho, exterminavam-se como se faz a um formigueiro ou a um ninho de ratos, sem pena ou pesar. Parecia mesmo que sentiam prazer em poder matar e o melhor é que nem tinham que responder por isso, "ficava de graça", como dizia no dito da língua local. Se se tratassem de poceiros, o trato era igual. Pistoleiro, Grileiro e Capangas eram termos corriqueiros como chuva e sol. Latrocínio, homicídio, genocídio, tortura e exploração de tudo quanto fosse espécie, também, se faziam bem presente em nosso "dia a dia".

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