Caminhos, Trilhas, em Lutas

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Parte I

"Eis que clareia o dia mais uma vez

Agora ele pode entender tudo

Resta claro os limites de sua prisão

Ele consegui distinguir as formas

Os contornos dos seres e coisas

Agora tudo possui colorido

Tudo pode ser previsto"[1]

Estávamos no último dia da semana da juventude católica, que culminava com o dia nacional da juventude (DNJ), e tínhamos passado semanas preparando uma mistura de caminhada, procissão e protesto. O OBJETIVO ERA USAR AS PALAVRAS DE DEUS PARA MELHORAR NOSSA REALIDADE COTIDIANA. – Fala galera jovem!

– Chegou na hora, VALMIR! Estamos fazendo os últimos ajustes pra começar!

– MATHOS... esse é o cara! Muito bem! Treinou para ir bem ao microfone?

– Ele parece muito tremulo! Rsrsrs...

– Me queimando né NILZA... Tou mais que preparado!

MATHOS realmente estava seguro e muito ansioso por aquele momento. Mas ainda não se fazia presente o "carro de som" que serviria para animar o evento, assim como amplificar as reivindicações da comunidade. Muitas pessoas do bairro, fieis ou não, estavam chegando pouco a pouco e nada de som. Nós havíamos escolhido o pior percurso possível, bem como havíamos decidido que o microfone ficaria disponível a todos da comunidade, para que caso quisessem, pudessem expressar sua indignação. Foi então que ergui a cabeça e vi o carro se aproximando de nós. Paralelamente, virei o rosto e avistei MATHOS se aproximando emocionado de mim. Abraçou-me fortemente, enquanto suas lágrimas molhavam meu ombro. Ele era uma cara absorvido nas causas pastorais. Parecia que para ele aquilo era como uma ilha segura na qual ele se sentia valorizado, algo talvez não encontrado no resto de seu mundo. Isso acontecia com quase todos os jovens participante do grupo JUEP da igreja católica. Na época, ele era coordenador deste grupo de jovens assim como eu.

EU ESTAVA NUMA SALADA DE NERVOSISMO E ANSIEDADE, afinal era o momento de sair "das quatros paredes" e ir ao mundo externo. – Será que iremos nos sair bem!. Achava-me uma peça fundamental daquela construção, algo como o rei no tabuleiro de xadrez. Recordo-me de ouvir um ou outro parente me falar da minha irrelevante importância para o mundo, todavia estava ali sendo necessário praquele grupo de pessoas. Podia sentir o orgulho pulsar em minhas veias. Retornei desses pensamentos com o barulho vindo do "carro de som" e naquele momento a emoção cresceu dentro de mim como uma semente de girassol em terreno bem adubado. Tal foi seu tamanho que meu rosto floresceu como que diante da luz do sol e meus olhos se rasgaram em lágrimas de alegria. Automaticamente corri ao meu amigo-irmão VALMIR e abracei-o com força. Foi um momento de sensações extremadas e desconhecidas.

– Meu amigo-irmão...!

– Nós merecemos companheiro!

"Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não

Nas escolas nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."[2]

Egos em ExpansãoOnde histórias criam vida. Descubra agora