"Olhar
Dentro do olho
Do furacão
Do deserto
Humano da vida
Perceber a luz
Que brota do fundo
Da escuridão das mentes
Secas
Donde a vida se faz"[1]
Era mais uma manhã costumeiramente escaldante em nossa cidade de duas estações trocadas, trocadas porque as pessoas tinham o hábito de confundir a ideia de verão com a de inverno. Entretanto, neste dia havia um vento fresco que ousara desafiar o sol, um castigador determinado como um religioso na busca duma pobre alma distante de Deus, e nós sabemos bem como são determinados os religiosos. Esse clima de contrastes trouxe ao meu coração lembranças do tempo de criança, em que, em dias como este, trepava num pé de árvore qualquer, preferencialmente manga e goiaba, e tentava pegar o vento com as mãos ou tentava jogar meu corpo ao vento numa vontade sobre-humana de voar livremente sobre a casa, o bairro, a cidade, enfim o mundo inteiro. Mas, devido à impossibilidade de voar eu me contentava com o simples balançar na ponta das galhas, indo de um lado para outro. Perdoe-me por esses devaneios, mas na hora foi a esse tempo meninice que minha imaginação me levou. Senti meu coração a explodir. Meu estado de momento era de quase sem ar, poderia se dizer entalado com um volume incalculável de lágrimas tentando passar pela garganta e chegar em meus secos olhos – será que consigo... me ... L-E-V-A-N-T-A-R... assim poderia respirar melhor! As emoções tem um poder incrível sobre a gente!
"...Vento, ventania, me leve para as bordas do céu
Pois vou puxar as barbas de Deus
Vento, ventania, me leve para os quatro cantos do mundo
Me leve pra qualquer lugar
Me deixe cavalgar nos seus desatinos
Nas revoadas, redemoinhos
Vento, ventania, me leve sem destino..."[2]Enfim saio da cama, entro no banheiro, ligo o chuveiro, porém meus pensamentos continuam presos ao vento, às árvores, ao voo...
– Meu filho, não vai sair desse bendito banheiro hoje não!!!
Ficava pensando o que meu garoto fazia tanto no banheiro. Com certeza estava fazendo o que não deveria. Sua lentidão toda só poderia ter vinda do lado da família de seu pai, raça que não vale nada é a dos homens cearenses. Estava tão cansada naquele dia, taí uma palavra que não era novidade para mim nos últimos tempos, sempre o cansaço teimava em incomodar minha paz.
A voz de minha mãe me fez cair em mim novamente. – Esses devaneios!. – Mãe a senhora nem me deixa banhar direito!. Pensar que eu estava tão dentro dum momento só meu, perdido em boas emoções, e minha mãe me arrancou daquele instante de êxtase. Dei uma olhada no espelho embasado e enxuguei meu rosto...
– Mal entro pra banhar e já vem esse abuso todo!
– Não resmunga não, pois não tem só você pra usar o banheiro, senhor MATHOS!
Criei esse garoto com tanto gosto e dedicação. Foi muito sacrifício para dar conta dele e mais quatro irmãos. Tive que trabalhar duro, caro leitor. Meu marido era um traste alcoólatra que só me dar dor de cabeça desdo início de nosso casamento. Eu sempre trabalhei em várias casas de família como doméstica para garantir o sustento da casa de tudo quanto fosse necessário...
– Vem que o café tá na mesa!
– Tá bom maieeeee... já tou indo!
Disse isso enquanto já me achava correndo do quarto para sala, meus irmãos todos mais velhos já haviam saído para mais um dia de labuta, pois já estava atrasado para mais um dia de trabalho na função de cobrador de loja.
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Egos em Expansão
RomanceInspirado nas estórias de vida de pessoas incríveis existentes neste pedaço de mundo, mas, cujo conteúdo se desenvolve de forma ficcional, levando o leitor a questionar modelos, ideias e linguagem. Vejamos no que vai dar... Boa Leitura PS: Este é um...