Capítulo 23 - Novo amanhã

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Mas só o tempo, só pra descobrir
Se a liberdade é só solidão
E só o tempo, só pra descobrir
O que é ser

Livre, se já não faz sentido
Ou nunca fez
Livre, pra encontrar motivo outra vez
Mais uma vez ou de uma vez

Liberdade ou Solidão (Tiago Iorc)

— Não estou pronta pra um acordo de paz. — A morena confessou. — Eu estive morrendo em vida pelos últimos seis meses. A única emoção que me mantém de pé agora é a raiva que sinto de você!

Adam recolheu a mão e a encarou com expressão chocada.

— Não vai ter trégua, não tem acordo. — Lia sibilou — Você não vai conseguir fazer com que eu esqueça tudo o que fez assim.

— Inacreditável! — Ele murmurou.

— Você pode ficar nesta casa, mas fique fora do meu caminho! — A viúva avisou.

Adam até pensou em lembrá-la que estava sozinho quando ela se aproximou, invadindo seu espaço pessoal, mas logo desistiu porque entendeu que não valeria a pena.

O empresário não era conhecido por sua paciência, mas, por algum motivo desconhecido continuava ali. Não era de seu feitio ser conivente com uma suicida em potencial.

Pouco a pouco, o que restava do dia deu lugar a noite. Enquanto circulava pela casa de seu irmão, sendo assaltado por lembranças felizes e dolorosas, Adam percebeu que tudo à sua volta estava muito silencioso.

Desde que chegou ao Rio de Janeiro, percebeu que a solidão e o silêncio já não lhe traziam o mesmo conforto de antes. 

Os dias e noites que vinha passando dentro da casa vazia e praticamente mal-assombrada de seu irmão caçula, com a viúva negra que estava sempre entocada no quarto, estavam destruído o pouco de sanidade que ainda possuía.

— Coma! — Sterne empurrou o prato na direção de Lia, já que ela não tinha aparecido para almoçar, e muito menos no horário do jantar.

A viúva o encarou como se tivesse duas cabeças e oito braços.

— Dê o fora daqui! — Ela disse enquanto sentava-se na cama de hospital, olhando horrorizada para a bandeja de madeira que mantinha o prato suspenso à sua frente.

— Vou te dar duas opções, mas, geralmente não dou nenhuma. — Adam retrucou antes de sentar-se no colchão ao lado dela. — Opção um: Você come e eu saio daqui. Opção dois: Você vai ter que olhar para meus encantadores olhos verdes pelo resto da noite.

Lia gemeu em sinal de frustração, percebendo que ele não estava para brincadeiras.

— Faz uma semana que cheguei e até agora você só bebeu chá! — Ele reclamou, visivelmente irritado. — Deve ter perdido uns três quilos!

— Isso não é verdade! Comi alguns biscoitos também! — Lia rebateu irritada. — Para sua informação, foram dois e não três quilos.

— Você vai comer! — Adam pegou a colher e enfiou no caldo cremoso, suspendendo em seguida e colocando na direção boca da mulher. — Não vai se matar de inanição no meu turno.

— Para com isso! — A mulher reclamou, e ele aproveitou para enfiar a colher cheia dentro da boca dela. — Mas que...

Adam já tinha enchido a colher novamente e empurrado entre os lábios de Lia, sujando-a um pouco.

— Está uma delícia, não é? — O loiro inclinou a cabeça e ofereceu um sorriso divertido.

— Está ótima, agora me dê isso aqui! — Ela puxou a colher da mão dele e serviu-se de mais um pouco de sopa, sob o olhar atento de Sterne. — Você não tem que fazer isso. Não é da sua conta.

Entre Dois OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora