Capítulo 32 - A entrega

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Te quero assim
Como a luz da manhã
Chegando mansinha
Pra não te acordar
E quando se vê é um Sol
Que não se apagará
Se o jogo do amor
É estar por um triz
Você me deixou envolvido demais
Se a dor levou
O amor me traz e eu estou feliz

Cercados por esta magia
Que se chama desejo
Nossa própria armadilha
Teu cheiro no ar
Incenso de amor
Perfume da mais rara flor
Que enfeitiça o lugar

Delicadeza (Jorge Vercillo)

Quando os tímidos raios de sol entraram pelas frestas das cortinas naquela manhã, provocando certo desconforto nos olhos de Lia até que ela acordasse, o cheiro característico de Adam Sterne atingiu suas narinas. 

Seu perfume estava presente em toda parte, nos lençóis azuis claros, nos travesseiros, na camisola de Lia, em seu corpo, e essa sensação agradável arrancou um sorriso genuíno dos lábios da mulher. 

Lia espreguiçou-se lentamente, não parecendo ter a menor pressa em deixar a cama de seu cunhado e sentia como se todo o pudor tivesse deixado seu sistema. 

Decidira que aproveitaria aqueles momentos logo que descobrira-se sozinha no quarto. 

Por um minuto ou mais, a morena imaginaria que nenhuma tragédia havia acontecido em sua vida, que Adam não era um cretino arrogante — um canalha desgraçado e seu cunhado —, para poder aproveitar mais alguns momentos enrolada sob os lençóis dele. 

A cabeleira escura da mulher estava esparramada nos travesseiros, desalinhada, assim como a mulher que ocupava o meio do colchão.

— Já acordou? — A voz grave de Adam fez com que um sobressalto atingisse a mulher.

— Sim, já acordei. — Lia apressou-se em responder e sentou-se na cama com rapidez.

Adam observava os gestos da cunhada com uma sobrancelha erguida e trazia consigo uma bandeja de café-da-manhã. 

Quando Lia acomodou-se e recostou-se na cabeceira, a alça fina de sua camisola de seda escorregou por seu ombro, e Adam foi incapaz de evitar acompanhar o movimento do tecido, que delineava os seios fartos da mulher com perfeição. 

Ela mordeu a parte interna do lábio inferior, em pura expectativa, e Adam forçou-se a parecer uma pessoa normal.

—Trouxe alguma coisa para você comer. — Ele anunciou.

—Não precisava fazer isso por mim, posso descer.

— Eu quis trazer. — O loiro disse enquanto sentava-se na cama, fazendo o colchão sob si afundar um pouco em resposta ao seu peso. — Aceite, por favor.

Lia sorriu e pegou uma torrada da bandeja que Adam tinha acabado de posicionar à sua frente, mordendo um pedaço e mastigando suavemente, saboreando a refeição em silêncio. 

Sterne havia trazido uvas verdes, dois pãezinhos com manteiga, e tinha uma flor alinhada discretamente no canto da bandeja. 

Lia apreciou a bandeja em silêncio. 

Havia alguma coisa diferente na atmosfera entre os dois, parecia que havia alguma coisa suspensa no ar, ou algum mistério dentro dos olhos verdes, assim como nos olhos escuros de Barcelos.

— Você ficou comigo a noite inteira? — Ela quis saber.

—É que você estava tão abalada ontem à noite, pediu para que eu ficasse e não consegui deixá-la sozinha. Eu não sabia o que era certo ou adequado a ser fazer, eu...

Entre Dois OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora