Capítulo 15 - Fim de Jogo

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Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o quer quer
Meu coração de criança
Não é só lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo em mim

Coração Vagabundo (Caetano Veloso)

Naquela noite, Lia tivera um pesadelo. 

Acordou ensopada de suor, os cabelos, a camiseta, até o lençol da cama estavam encharcados. Levantou-se ainda trêmula, sem ter certeza se havia acordado ou se estava em algum outro nível do sonho. 

Uma antiga sensação de abandono a tomou de assalto, como a que sentiu nos primeiros meses após a trágica morte de seus pais, e ela deixou o apartamento em pânico. 

Passava das duas horas da madrugada quando tocou insistentemente a campainha de Taylor. Quando ele abriu a porta, a mulher jogou-se em seus braços aos prantos. Taylor apenas confortou-a. 

Sem dizer uma palavra, o advogado pegou a doce e frágil jovem no colo, e suspirou quando ela passou os braços em volta de seu pescoço, escondendo o rosto na curva de seu ombro, para ocultar seu descontrole. Atravessou o apartamento e entrou no quarto, deixando-a em sua cama, sendo puxado para perto por ela. 

Lia não queria ficar sozinha. 

Não depois de ter tido um pesadelo horrível, depois de tantos anos de sono tranquilo. 

Para ela era impossível que aqueles terrores noturnos pudessem voltar a atormentá-la, pois eles tinham sumido há tempos. Assim que deixou a casa em que vivia com seu padrasto, seu estado emocional voltou aos poucos a normalidade.

Depois que seus pais morreram num acidente gravíssimo entre a lancha em que passeavam e um barco cargueiro, seu padrasto mudou completamente. Cláudio Pedrosa era casado com Dora Barcelos desde que Aurélia tinha sete anos, e sempre agiu como se ela fosse sua filha, por isso foi difícil para a jovem entender a mudança brusca de comportamento. 

Lia prendeu-se ao corpo forte de Danyels para evitar que ele saísse da cama, e ele deu-se por vencido, acomodando-se melhor e a puxando para perto. 

O moreno tinha um talento enorme para cuidar de Lia. Ele sabia sempre a melhor forma de trazê-la para ele emocionalmente, quando falar e calar. Taylor era o homem perfeito para Lia Barcelos. 

Carinhosamente, Danyels acariciava seus cabelos e costas, permitindo que ela se livrasse da dor e do pânico. Beijou a testa de Lia e permaneceu naquela posição até que ela voltou a dormir.

— Você está vestido. — Lia observou assim que acordou e percebeu que seu namorado, deitado seu lado na cama, usava a mesma calça azul marinho, cinto preto e camisa social do dia anterior.

— Sim, não tive tempo de me trocar ou tomar banho. — Ele justificou.

— Você saiu ontem à noite? — Ela quis saber, notando que o visual dele estava desgrenhado, algo que não era comum. A camisa completamente aberta e os cabelos bagunçados, demonstravam que algo estava errado.

Taylor apenas confirmou com a cabeça. 

Uma pontada de ciúmes cortou o peito de Lia. Ela se perguntava porque ele saiu na noite anterior e não dissera nada. Não que o namorado precisasse deixá-la ciente de todos os seus passos, mas quando despediram-se, às dez da noite, ele afirmou que iria tomar banho e dormir em seguida.

— Então, você ainda estava acordado quando toquei a campainha?

— Sim. — Danyels disse num tom baixo. — Estava bebendo uma dose de uísque. Não que eu seja de beber, mas ontem estava precisando de algo forte.

Entre Dois OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora