Prólogo

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Era um dia comum, em que eu voltava do colégio para casa, já que era o aniversário da minha avó. Iríamos visitá-la aquela noite. Papai estava um pouco tenso, como se soubesse que algo ruim iria acontecer, ele tinha suas manias e superstições, mas não era nada daquilo.

Troquei de roupa para o vestido rendado que minha mãe havia me dado naquele aniversário, e então eu e papai esperamos por ela para que pudéssemos ir logo. Era uma viagem de duas horas.

Mamãe chegou, com seus olhos verdes brilhantes e o cabelo que parecia fogo. Ela era linda e a pessoa mais amável do mundo. Disse que estaria pronta em quinze minutos. Quinze minutos que foram cruciais.

Ela estava no banho, quando bateram na porta.

— Val, vá para o seu quarto. E se esconda — sussurrou papai, se distanciando da porta após ver quem era.

— Por quê? — perguntei, estranhando tal atitude.

— Confie em mim... — disse, mas bateram novamente.

Corri para o armário do meu quarto, sem entender nada do que se passava. Homens entraram, pelo o que ouvi. Então a voz do papai, alterada, implorando por algo. E então um estouro. Um tiro. Após isso não teve nenhum som, a água do banheiro parava.

— Will? — mamãe gritou, perto da minha porta. — Will...? — e então ela dera um grito.

— Olha só... William tinha bom gosto — ouvi uma voz desconhecida.

— E-eu... — minha mãe falava, mas nada saía.

Ouvi algumas risadas, e então a porta do meu quarto foi aberta. Como se soubessem que eu estava lá, tremendo, lágrimas corriam pelo meu rosto. Achei que iria embora logo, mas a porta do roupeiro fora aberta. Um homem de uns 35 anos abriu a porta, um sorriso maléfico em seu rosto e sangue sujava sua camisa branca.

— Ora, ora, ora, o que temos aqui? — disse, ainda sorrindo, se aproximou de mim. — Aquele vagabundo teve uma bela boneca, não acha?

Não sabia o que responder, apenas me segurou pelo cabelo atrás da nuca e me arrastou até a sala.

— Não, por favor... — mamãe suplicou. — Me levem, mas não lhe façam mal...

Mamãe estava de toalha, seu rosto vermelho como o cabelo. Dois homens a seguravam, como se ela fosse fugir a qualquer segundo. E iria.

— Não farei mal nenhum a ela, Cassie — disse o homem, passando a ponta dos dedos em meu rosto. — Ela irá gostar de tudo, tenho certeza.

Ela chorava mais e mais, até que tentou se soltar. A empurraram no chão, de barriga para baixo, então um dos homens que a segurava a prendeu no chão, machucando-a.

— Mamãe! — gritei, tentando alcançá-la, mas o homem me parou.

— É isso que acontecerá com você se for contra nós — disse, segurando meu rosto na direção dela.

O mesmo homem estava ali, mas ele forçava seu quadril no dela, e seus gritos eram rasgados, cheios de dor.

— Agora, bonequinha, vamos conhecer o que lhe aguarda...

* * * * *

Acordei suando. Lembrar daquela noite era horrível, faziam-se anos. Mas naquela noite vi o corpo de meu pai, inerte e sem vida no chão. Vi minha mãe ser estuprada diante de meus olhos. E desde então, virei a prostituta particular de Klaus.

Eu o odiava. Odiava mais do que era possível alguém poder. Mas eu teria minha vingança, ele iria sofrer e eu faria isso.

Minha mãe, Cassandra, havia se tornado prostituta também, mas não morávamos juntas. Ela fora para a Irlanda, eu fui trazida para a Rússia, ambas longe da Alemanha.

Faltavam uma hora para o evento que Klaus pedira que eu cobrisse. Eram de uma família na Suíça, ele queria um bom serviço. Eu detestava que qualquer  um passasse a mão em mim como se eu não valesse nada. Parei de chorar todos os dias quando completei quinze anos. Klaus nunca tentou ser legal, mas nunca foi desagradável. Isso não implicava na dor que ele sofreria. Sofreria pelos Morgenstern.

— Vamos lá, Doll, hora do show — falou, passando a mão em minha bunda enquanto eu arrumava o corpete ridículo que ele me comprou aos dezoito anos. "Presente de aniversário", disse ele.

— Certo — falei.

— Quem sabe mais tarde não nos divertimos? — disse, dirigindo as mãos para os meus seios.

— Certo — respondi. Aprendi da pior maneira a não respondê-lo.

Klaus deu um tapinha em minha bunda, um sinal para ir.

Doll fora um apelido mais ridículo do que este corpete, já que ele cansara de falar "boneca". Klaus estava com seus 41 anos, seria atraente se não fosse um cretino.

Entrei na sala, uma calcinha de renda preta, saltos, meia-calça e cinta-liga, e aquele corpete. Fiquei em um dos cantos, enquanto conversavam, iria somente quando me chamassem. Eu não queria, era o aniversário de morte do meu pai. Queria ficar no quarto e lamentar sua morte.

— Venha aqui, Doll — disse um deles, razoavelmente aceitável.

Me dirigi até ele, de cabeça baixa e sentei em seu colo quando o mesmo me puxou para ele. Minhas costas estavam em seu peito, eu sentia meus olhos marejados. Eu não iria conseguir. Suas mãos me apertavam, com certa delicadeza. Eu não queria. Eu iria desmoronar e Klaus se irritaria.

— Klaus arranjou umas putas bonitas — um mais novo falou. Quias matá-lo, devia ter dezessete anos. — Mas nosso dinheiro, nada... — falou, passando a mão em meu peito.

Fechei os olhos para não ver, e esconder as lágrimas também. Foi naquele momento que um estrondo na porta soou. Dez homens armados entraram, atirando em cada um deles. Logo eu estava no colo de um morto.

Acabei caindo no chão, acho que alguém me empurrou antes. Talvez para me salvar, mas era provável que era para que eu levasse o tiro por alguém.

— Alguém tem ideia de quem ela seja? — uma voz soou.

— Não — uma voz firme e rouca falou. — Leve-a, talvez saiba de algo.

— Ela é só uma puta, não deve saber nada — um riu.

— Que seja. Se não souber de nada, servirá para algo — aquela mesma voz falou.

Algo bateu em minha cabeça, e então tudo ficou preto e fui carregada dali.

Velvet Crowbar #1 | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora