Capítulo XVIII

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Quando acordo, demoro a reconhecer o lugar. Em nenhum dos hotéis em que já estivemos, tinha uma sacada com uma vista maravilhosa para Florença. Desta vez, Dimitri já estava acordado antes de mim, fazendo alguma coisa na cozinha, deixando um cheiro delicioso pelo quarto. Me levantei, trocando a camisola pela sua camiseta de Don Corleone. Andei até ele, abraçando-o pelas costas, repousando minha cabeça ali.

— Não era para você acordar até que isso estivesse pronto — resmungou, segurando minha mão.

— Está cheirando tão bem que me fez acordar — brinquei, alisando seu abdome.

— Volte para a cama, Valora — pediu, me abraçando pela cintura. — É surpresa, não a estrague.

— Tá bom, Velichkov — resmunguei, voltando para a cama.

Puxei as cobertas, tentando voltar a dormir, mas não saber o que ele fazia me intrigava, me fazendo querer andar até ele novamente e pedi para que ele me contasse. No final das contas, me sentei na cama e liguei a televisão, colocando em algum canal de notícias.

Acabei adormecendo, e só voltei a ver Dimitri com uma bandeja com um café-da-manhã, segurando uma torrada perto da minha boca.

— Bom dia, Valora — falou, sorrindo com ternura.

Sorri levemente, aceitando uma mordida, e ele logo se sentou ao meu lado, deixando a bandeja na minha frente. As torradas com manteiga e até um pote de morangos recém lavados, e um copo de suco de laranja fresco.

— Está bom? — perguntou, dando um leve beijo no meu ombro.

Murmurei um "sim". Aquela havia sido uma doce surpresa. Dimka aquela manhã estava atencioso, principalmente quando me deu os morangos na boca. Quando comigo tudo, Dimitri pegou a mezinha e levou até a cozinha.Na volta, se deitou por cima de mim, com a coberta entre nós.

— Por que tanta bondade? — perguntei, abraçando-o pelo pescoço.

— Último dia do ano. Queria ter tido um dia em que fui bom você, babe — murmurou, colocando o rosto em meu pescoço.

— Não foi o único dia, Dimka — murmurei, mexendo em seu cabelo. — O fato de você não ter me matado quando me viu, conta muito — ri.

Dimitri suspirou, caindo ao meu lado. Me virei para olhá-lo, e o vi encarando o teto, segundos depois me encarou. Estava triste, seus olhos mostravam isso, como a sua expressão.

— Eu soube que não deveria deixá-la lá, Val, mesmo quando falaram que não devia levá-la conosco — murmurou. — E todas as vezes depois, foi porque tudo me remetia àquela noite — explicou.

Seu rosto era mais trite, mas algo me dizia que não tinha nada a ver com aquilo.

— O que houve, Dimka? — perguntei, traçando sua mandíbula.

— Nada, Valora — murmurou.

— Conte-me.

— Não agora — falou, segurando minha mão.

Quando segredos ele tinha? Pensei que fosse apenas o do meu pai, mas algo que ia além disso. Me levantei da cama, e logo esqueci o que eu vestia.

— O que você está usando? — perguntou, quase em desespero.

Olhei para a sua camiseta, que ficava na metade das minhas coxas, não revelando nada que fosse de sua conta. O ignorei, andando até a cozinha. Servi mais um pouco do suco de laranja, e devido ao carpete, não percebi quando ele andou até mim, parando ao meu lado.

— Val, por favor, compreenda — pediu, alisando minhas costas. — Eu só não posso contar agora.

Me separei de seu toque, não querendo ouvir qualquer que fosse a desculpa. Eu apenas queria saber mais das coisas, eu estava envolvida naquela história tanto quanto ele.

Velvet Crowbar #1 | ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora