Naquela mesma noite, Dimitri havia saído para um jantar, talvez descobrisse algo de Klaus. Acabei de me acomodando no quarto com várias cobertas e um balde de pipoca para ver alguma série. Quando decidi dar play em Borgias, Henrietta bateu na porta e entrou.
— Valora, senhor Matvey está aqui para vê-la — sorriu para mim e saiu, logo Matvey havia entrado.
Ele nunca havia conversado comigo por mais de dois minutos.
— Boa noite — falou, sorrindo e se jogando ao meu lado na cama.
— Boa noite — falei, tentando tapar a camisola com as cobertas.
— Você vai olhar Borgias? — falou, pegando o controle do Netflix.
— Pretendia — expliquei, emburrada. Sabia que ele iria colocar outro.
— Que pena, vamos olhar Sleepy Hollow! — falou, todo animado. — Dimka mandou que eu a divertisse.
Olhei com dúvida. Eu tinha Henrietta e Harry comigo, e alguns outros empregados comigo. Matvey não me explicou porque Dimitri o mandara até lá, mas acabei lhe achando uma pessoa divertida. Acabei adormecendo em seu ombro, e acordei com alguém berrando no quarto.
— O que diabos você está fazendo, Matvey? — ouvi a voz de Dimitri, alterado.
— Relaxa, mano, não fiz nada com a sua protegida — Matvey falou, com sarcasmo.
Dimitri e Matvey entraram em uma discussão em russo. Quis me levantar e ir finalmente assistir Borgias na sala, mas ouvir Matvey falar o nome de meu pai, me fez parar. Ambos arregalaram os olhos quando me virei para eles.
— Falem em inglês. Agora — pedi, segurando-os pelo colarinho.
— Matvey — Dimitri falou, o encarando.
Matvey concordou com a cabeça, e logo saiu, nos deixando a sós. Havia se passado uns cinco minutos da saída de Matvey, Dimitri tentou sair, mas o puxei pelo braço.
— Me conte, por favor, Dimitri — praticamente implorei para ele. Mas eu precisava de respostas.
Dimitri conheceu meu pai. Klaus odiava meu pai. Tudo a troco de quê?
— Não posso, Valora — respondeu, segurando a minha mão que lhe prendia. — Não agora — finalizou, tirando minha mão de seu braço.
Dimitri saiu, me deixando sozinha às 3:30 da madrugada. Não chorei, diferente da casa e Klaus, aqui aprendi a não chorar. Queria que Matvey voltasse. Foi o único que fez algo comigo, para me divertir. Me joguei na cama, não puxei as cobertas que estavam emboladas, e enfim, acabei dormindo sem sonhos.
* * * * *
Acordei com alguém me sacudindo e logo me deparei com os olhos azuis e gelados de Dimitri Velichkov.
— Valora, finalmente — falou, com alívio visível.
— O que houve? — perguntei, preocupada.
Dimitri se colocou para o lado, me alcançando um roupão preto.
O vesti, sem entender nada e sempre com o cenho franzido. Quando havia fechado o cinto, Dimitri me puxou pela mão pela casa. Descemos as escadas correndo, podia-se ver que ele estava claramente alterado. Seus cabelos presos no coque estavam molhados de suor. Paramos numa porta que sempre ignorei a existência.
Dimitri abriu a porta com calma. Matvey e mais dois homens estavam ali, mas não eram meu tio Sigmund e primo Christian.
— Valora, quero te mostrar esse vídeo, mas... — ele falou, me segurando pelos ombros. Naquele momento percebi que ele usava seu "pijama" usual e que la fora ainda era noite.
— Me fale, Dimka — havia percebido que chamá-lo pelo apelido lhe acalmava. Assim como o carinho que fazia com a mão do lado esquerdo de seu rosto.
— Merda, não sei se devia lhe mostrar isso — falou, me puxando pelos pulsos.
Paramos em frente ao seu notebook que estava na mesa. Nele havia um vídeo pausado no rosto de Klaus, não esperei por ninguém para me falar algo e apertei play.
— Bom dia, Velichkov — falava Klaus, muito próximo a câmera —, sei que você está com algo que me pertence — falou, e eu sentia como se Klaus me encarasse pessoalmente. — Que tal se fizermos assim... — parou, por alguns segundos, como se pensasse na proposta. — Você me devolve Doll, e eu não mato essa vagabunda? — falou, saindo da frente da câmera.
Era minha mãe.
Com uma arma na cabeça.
Minhas pernas fraquejaram e caí no chão, mas alguém havia me segurado. Novamente Dimitri. Queria matá-lo por ter me mostrado aquele vídeo. Seus cabelos estavam longos, mas nela não havia mais vida. Seus olhos não brilhavam, nem sua pele era pálida de uma forma bonita. Era branca como a morte. Olheiras profundas nos olhos verdes.
— Vamos dar um jeito, Val — Dimitri tentou me acalmar, mexendo em meus cabelos.
Nem percebi que chorava, estava pensando em formas de salvá-la. Uma delas era fugir e voltar a morar com Klaus, mas eu tinha medo.
— Отпуск — Dimitri falou, e todos saíram do escritório.
Queria chorar sozinha, mas tendo alguém como Dimitri, ajudava um pouco. Quando parei de chorar, ele secou algumas lágrimas que ainda caíam pelo meu rosto.
— Seja forte por ela, Valora — pediu, segurando meu rosto. — Nós vamos dar um jeito.
— Como? — perguntei, me segurando em suas mãos.
— Temos dois Velichkov, uma Morgenstern e já garanti ajuda de duas grandes famílias na Irlanda e uma na Rússia — falou, com um mínimo sorriso. — Nós temos essa ganha. Confie em mim.
Concordei com a cabeça. Ele havia planejado tudo desde que o momento em que havia lhe dito da minha mãe. Klau havia apenas declarado a guerra.
— Quando conseguirmos salvá-la, você me conta toda história? — pedi, encarando-o mais nos olhos.
— Valora... — falou, quase que em dor.
— Por favor! Eu te conto a minha história! — foi golpe baixo, eu sei, mas eu já confiava nele a ponto de tirar os esqueletos do armário.
— Valora, não precisa — falou, acariciando meu rosto.
— Mas... — quis argumentar, mas ele me cortou, me fazendo com suas mãos o encará-lo fixamente.
— Quero saber toda sua história. Não apenas um capítulo dela. E não quero que isso seja moeda de troca pela que tenho — pediu. — Quero merecer ouvi-la do início ao fim.
Abri um pouco mais meus olhos. Não esperava por aquilo. Nem quando eu estava na escola, ninguém me tratou assim. Com um sorriso fraco e lhe dei um beijo sua em sua bochecha, e saí, deixando-o sozinho dessa vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Velvet Crowbar #1 | ✔️
RomansaValora - ou Doll, como começou a ser chamada -, fora levada por Nicholas "Klaus" Schwarzkpof aos 14 anos após ter tido seu pai assassinado, e sua vida e a de sua mãe, assim como seus "serviços" a ele, eram a única forma de garantirem suas vidas. Em...