Beautiful dream

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Eu havia sido avisado que as noites eram frias, mas não pensei que seriam tanto. Havia acabado de anoitecer, eu tinha terminado de arrumar tudo, coloquei as comidas no armários, os lençóis na cama e as roupas no armário. Pela primeira vez entrei no banheiro, vendo um pequeno ofurô redondo, de madeira. O deixei enchendo e enquanto isso, decidi dar uma olhada no lado de fora. Para a minha surpresa, ao abrir a porta, notei algo no chão; era uma rosa vermelha. A peguei na mão, não havia sido cortada e sim provavelmente arrancada de uma roseira, mas ainda sim estava linda e cheirosa. Sorri sozinho, pensando em quem deveria ter feito aquilo. Fiquei pensando que eu deveria ter ficado assustado, mas aquela rosa me deu tanta paz que poderia ser mágica. É claro que tentei saber se a pessoa que havia feito aquilo ainda estava ali.

– Hey? Tem alguém ai? – ninguém respondeu – bem, obrigado pela rosa – nada ouvi, porém senti uma presença, e por mais estranho que pareça, meu coração se aqueceu.

Entrei, vendo o ofurô já cheio. A janela do banheiro era grande, quase como uma porta. De vidro, era coberta por uma cortina. Resolvi deixar a cortina aberta, assim poderia observar o lado de fora sem que ninguém me visse, já que não era como se houvessem pessoas passando por ali. Me despi, entrando na água quente com a rosa em mãos.

– Quem poderia ser? – perguntei para o vento. Ainda sorrindo ao sentir aquele cheiro adocicado dos sais de banho que havia comprado; morango com hibisco. A luz do ambiente era baixa e amarelada, logo foquei o olhar pela janela, observando o balançar das árvores. Me vi pensando em tudo aquilo que eu queria escapar.

O motivo de eu estar ali refletindo sobre tudo é que eu parecia realmente estar ficando maluco. Havia acabado de completar 18 anos, o momento onde todos me afundaram de perguntas sobre o que eu queria fazer, para qual faculdade iria, qual o curso, se eu não pretendia trabalhar, talvez mudar de cidade, e questionavam o fato de eu não ter uma namorada, diziam que eu não deveria demorar, que eu teria que me casar algum dia... Tudo aquilo estava acabando comigo. Na verdade eu não queria ir para a faculdade, não naquele momento, não quando eu nem ao menos tinha a noção de qual curso fazer. E eu não queria um emprego, não naquele momento, era errado querer ao menos alguns meses de descanso, sem fazer absolutamente nada depois de tantos anos naquela inferno chamado de escola? Bem, o fato era que ninguém me entendia. Eu não queria me casar. Eu não queria seguir a profissão da família. Eu aspirava por mair. Nada acadêmico, horários chatos e falta de liberdade, terno e gravata, "Bom dia senhor Byun", só de pensar em tudo aquilo eu tinha vontade de chorar. Minha família jamais entenderia, somente é claro, meu avô, que me incentivava em absolutamente tudo.

Perdido em meus pensamentos, a água esfriou, me vi ainda segurando a rosa, que foi deixava de canto enquanto eu me levantava. Ri ao notar a situação; nu, frente a uma enorme janela. O frio logo me acertou, fazendo-me sair daquela água, me secando e vestindo algo quente; moletom, meias felpudas e meu gorro azul preferido. Preparei uma xícara de chá e um sanduíche, me embolando no canto do grande sofá e apreciando aquele momento de silêncio.

A minha primeira noite ali foi extremamente agradável, por mais frio que estivesse, me embolei bem em meio as cobertas, sentindo tudo o que ocorria lá fora; o barulho do vendo, as corujas piando, prováveis animais passeando em meio as árvores... E um sonho.

"Uma coroa de flores coloridas estava em minha cabeça, o peito desnudo por conta da camisa branca com parte dos botões abertos. O sol poderia ser visto, mesmo que escondido pelas copas das grandes e majestosas árvores, estava no meio da floresta, do outro lado do rio. O clima estava frio, as folhas flutuavam aos meus pés. Olhava maravilhado para tudo aquilo; as cores, formas e a sensação de paz que aquele lugar me proporcionava. De repente, um barulho me chamou a atenção, procurei ao redor, a fim de achar a causa do ruído, e foi aí que eu vi.

 Um grande animal, sua cor era caramelada e seus pelos eram brilhantes, olhos grandes e escuros, chifres pomposos de cor marfim, o corpo era coberto por manchas mais claras, as patas, mais escuras que o torso, a ponta do focinho preta. Era um cervo que, parado em um mesmo lugar, me observava sem ao menos mexer um músculo. Me analisava atentamente, começando a dar pequenos passos ao meu redor. Por algum motivo eu não sentia medo, seus chifres não me pareciam ameaçadores e sim belos.

– Oi amiguinho – resolvi dizer algo. Não era loucura falar com animais, me lembrei que sempre falava com o gato da minha vizinha.

E o cervo se aproximou, encarando meus olhos. As esperas profundas eram como galáxias, a proximidade fez com que eu sentisse a quentura de sua respiração em meu rosto.

– Você é tão lindo – dizia, e me pareceu que o animal se aproximava quando ouvia minha voz. Ergui a mão lentamente, testando a reação do animal, que continuou me fitando. Levei a mão esquerda a um dos chifres, tocando aquela superfície sólida e fria. Aquelas formas eram tão mágicas para mim. Escorreguei a mão por sobre a cabeça, fazendo o animal soltar ar quente pelo focinho. Acariciei seu pelo baixo.

– Tão macio – disse, mais para mim mesmo. E depois de um tempo naquele carinho, o animal se afastou, virando as costas e andando pomposo mais para dentro da floresta. Passei a seguí-lo, suas orelhas mexiam-se conforme ouvia meus passos sobre as folhas secas, e após um pequena caminhada, chegamos a ponte que me levaria de volta ao outro lado do lago, para minha cabana.

– Quer que eu vá embora? – perguntei, e naquele momento ele se foi por entre as árvores. Continuei olhando ao redor, o sol estava se pondo, o tempo esfriando, e quando cogitei atravessar aquela ponte, ele voltou. Segurava um lírio em sua boca.

– Pra mim? – sorri e ele se aproximou. Levantei a mão e a peguei – Obrigado.

E daquela vez ele se foi, e não retornou mais. Atravessei a ponte e..."

Acordei com raios fracos de sol em meu rosto. O clima estava agradável novamente. Retirei a blusa de as meias, ficando apenas de calça. Andei pela casa, abrindo todas as cortinas, todas as janelas. Deixando tudo fresco e bem iluminado. Preparei meu café da manhã; iogurte, granola e framboesas.

Aquele estranho sonho, por algum motivo havia me deixado mais vivo e ainda mais em paz. Resolvi planejar algo para fazer, no dia anterior, havia pegado o número de telefone de Luhan e Sehun.

"O convite de trilha ainda está de pé?" Enviei para Luhan. Logo a resposta veio.

"Sim! Hoje?"

"Pode ser. Me deu uma vontade imensa de fazer algo interessante hoje." Estava animado, torcendo para que tudo desse certo.

"Ok, vou avisar Sehun. Sairemos do trabalho daqui há 4h. Arrume uma mochila com água, um pouco de comida e mais o que achar necessário"

Estava realmente satisfeito com aquilo, meu segundo dia naquele lugar e já me sentia ótimo. Depois de comer, comecei a arrumação, na mochila: uma blusa de frio, corda, lanterna – já que não sabia até que horas os meninos gostariam de andar – mais tarde prepararia as coisas comestíveis.

Mais uma vez me lembrei do sonho, havia uma ponte nele e me perguntei se essa ponte realmente existia. Resolvi procurar. Calcei os sapatos e uma camiseta e me dirigi a porta, ao abri-la notei uma coisa no chão.

– Isso não pode ser real – disse para mim mesmo em descrença. No pequeno tapete frente a porta, jazia um lírio.

Beautiful creature | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora