revelações part. 2

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( ... ) Shaka de Virgem encontrava-se na área privativa de sua Casa, meditando e jejuando. Seu cosmo se expandia à medida que aumentava sua concentração, mas logo sua atenção era perturbada por seus pensamentos, o que se tornara recorrente desde a discussão que tivera com Saga de Gêmeos há uns dias atrás.

Ele não sabia quanto tempo havia se passado; continuava cuidando de seus outros discípulos, mas ao notar que Maia nunca mais voltara a falar com ele desde o treino na arena do Coliseu, sentiu-se estranhamente sentido: Sua razão e lógica diziam que fizera o certo ao forçá-la a mostrar seus alter egos. Afinal, como esperavam que ajudasse a aspirante à Armadura de Gêmeos a reconhecer suas fraquezas mentais e espirituais, impedindo que fosse corrompida por alguma parte maligna de sua mente?

"Saga, aquele hipócrita, ele mesmo sofreu com o resultado de sua dupla personalidade... e Maia não tem um, mas DOIS alteregos! Era minha obrigação saber o que eles são capazes de fazer e como podem influenciá-la!" – pensava o virginiano, tenso.

As memórias daquela manhã de treino passaram por sua mente, e focaram-se na atuação da Amazona de Plêiades durante a luta com Camus; Shaka notou que ela não queria machucar o aquariano, apenas revelando suas verdadeiras habilidades quando se sentiu encurralada pelos poderes glaciais do francês, e pela privação de sentidos à qual ele mesmo a submetera.

"Pelo menos ficou claro que ela não tem obsessão pelo poder, e também não é arbitrária; ela estava na mente do homem mais reservado do Santuário e não teve intenção de desvendar o inconsciente dele! O que de certo modo, é muito bom, ela respeita as pessoas." – Shaka montava um quebra-cabeça interno.

De repente deu uma risada breve e irônica, relaxando e diminuindo seu cosmo; desistiu de meditar, sua alma e mente estavam perturbadas e nem o jejum de dois dias o estava ajudando a manter o foco. Passou a mão pelo rosto, enxugando o suor que se acumulara na testa ao forçar sua concentração, e demorou-se um pouco nas pálpebras fechadas, massageando-as. A voz de Saga veio à sua mente:

"Para o homem mais próximo de Deus, você precisa aprender a respeitar os seres humanos que deveria defender. Você me decepcionou, Shaka."

Sim, ele deveria aprender a ler melhor as pessoas não apenas em batalha, mas em seu cotidiano; evitando problemas, constrangimentos e situações como a que ele mesmo criara. Afastou-se de tudo e de todos desde aquele dia, não por receio das consequências de seus atos ou da reação dos outros, mas porque de certo modo tinha vergonha de como agira, e precisava repensar tudo o que havia acontecido.

Despertou de seus pensamentos ao ouvir passos na entrada do Templo de Virgem; espantou-se ao ver a figura da Amazona de Cassiopéia se aproximando, com passos decididos e fortes. Admirou a persistência da garota; ele a testara e fizera de tudo para mostrar um de seus piores lados para ela – o crítico – e mesmo assim ela não desistira de cumprir seu castigo ao cuidar do Jardim das Árvores Gêmeas.

O indiano deu um leve sorriso. Fazia pouco tempo que ela frequentava seu templo, quatro vezes por semana, mas o jardim adaptara-se à alma dela quase que instantaneamente. Não gostara de vê-la se balançando nas árvores sagradas, mas a pureza de intenção e pensamento dela no momento nutrira as mesmas tão profundamente que quando meditara embaixo delas depois, ele pôde sentir toda a paz, segurança e liberdade que ela mesma sentira naqueles poucos minutos em que ficara ali. Uma sensação mágica; e todos os dias que ela vinha, cumpria o trato de cuidar bem do jardim, falando com as plantas, com as árvores, regando-as, lendo histórias de livros e poesias, contando suas lembranças, experiências. Muitas vezes, ouvira a risada clara e limpa dela enquanto meditava no Templo com uma de suas pupilas; e isso trazia à Sexta Casa uma vibração diferente, como se ali realmente pudesse haver algo mais que somente calma.

A saga das Amazonas de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora