Capítulo 15

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Os faróis do carro de Dylan cegavam meus olhos enquanto ele dava ré da garagem da minha casa. Avistei Kat através do vidro, sentada no banco da frente, ainda chorando. Quem dera eu soubesse que aquilo só era o começo da tristeza eterna da minha irmã. Eu queria gritar e pedir para eles não saírem com o carro da garagem, para que eles ficassem em segurança, lá comigo. Eu tinha oito anos e eles me largaram sozinha de tão fora de si que estavam com a situação. Os olhos de Dylan encontraram os meus e fiz uma prece silenciosa para que ele lesse o pânico em meus olhos, para que visse que não era para ele ir e muito menos levar minha irmã junto, grávida. Mas ninguém me deu ouvidos. Ninguém. E o grito subiu em minha garganta.
Senti algo frio e molhado na minha cara. Me levantei depressa, debatendo-me.
- Ei, sou eu. Calma.
Minha respiração estava ofegante. Virei a cabeça e meus olhos focaram nos olhos verdes de Philip.
- Você está bem? - perguntou Matt, entrando no meu campo de visão.
Fiz que sim com a cabeça e reparei que eu estava deitada dentro de um vestiário.
- Como eu vim parar aqui?
- Nós te trouxemos - Matt respondeu sorrindo.
- Nós uma ova, quem carregou ela, fui eu! - falou Philip meio bravo.
Philip me carregou até aqui? Olhei para seus braços discretamente. É, ele parecia bem forte, tipo muito forte, é...ele me aguentava. Me aguentou no aeroporto, já tinha me carregado uma vez, normal. Então porque eu sentia esse calor estranho? Mais que merda.
- Ah mano, eu vim junto, dá na mesma. - falou Matt me fazendo tirar os olhos dos bíceps de Philip. Senti meu rosto corar.
Philip o encarou sério, pronto para dar uma resposta.
- Vamos parar vocês dois - falei me sentando rápido e jogando meus cabelos na frente do rosto.Os armários vermelhos giraram e eu respirei fundo afastando a tontura.
- Nossa Sophie, você tá vermelha.
- Estou tonta - falei, esse não era o motivo real, mas por hora, servia.
- Nossa Doce, pior que está mesmo - concordou Philip.
Matt e Philip me encaravam com atenção e senti meu rosto queimar mais ainda. Doce?! Agora tinha apelido para o apelido?
- Nunca ensinaram a vocês que não se deve falar a uma pessoa que está vermelha, que ela está realmente vermelha? - levantei a sobrancelha para eles, brava.
- Foi mal - disse Matt
- Você fica ainda mais fofa assim, tomatinho - falou Philip.
- Mas que inferno! - resmunguei ficando de pé. E senti meus pés vacilarem. Mãos fortes me pegaram pela cintura e fui forcada a me sentar.
- Vai devagar, você acabou de acordar de um desmaio. - repreendeu Philip com os olhos preocupados. Tentei não pensar muito a respeito dessa preocupação toda comigo.
- Tá - respondi. Lembranças do treino me vieram à cabeça - o treino acabou?
- Não, só estão esperando você acordar e ver se ainda pode jogar - respondeu Matt.
- Você ficou menos que cinco minutos desacordada, então acho que ainda estão todos esperando.
Concordei com a cabeça.
- Bom, acho que vou avisar o treinador que a Sophie acordou e que em cinco minutos ela está em campo, tudo bem?
- Tá - falei meio receosa. Será que eu tinha visto direito? Não podia ser ele.
Philip percebeu minha hesitação.
- Vai lá cara, vou ficar aqui com ela até a hora em que estiver pronta para jogar.
- Tudo bem - respondeu Matt e saiu do vestiário.
O silêncio predominou.
- Você quer conversar sobre isso?
Neguei com a cabeça olhando para os meus pés.
- Tudo bem então - falou se levantando e começou a andar na minha frente, fiquei observando-o - Que ironia que é a vida. Você desmaia e acaba nos seus dois lugares preferidos de todo o campus.
O olhei sem entender e ele deu um daqueles sorrisinhos sacanas. Lá vem.
- No vestiário masculino e ao meu lado - disse dando ênfase para me provocar.
Revirei os olhos, mas mesmo as piadinhas dele não conseguiam me distrair ao que eu achava estar me esperando lá fora. Parecia até uma brincadeira sem graça do destino.
- Vamos lá Doce, me diz o que aconteceu - falou Philip sentando ao meu lado.
Olhei para dentro dos seus olhos verdes, respirei fundo e falei:
- Eu não sei o que aconteceu, eu pensei ter visto alguém e... - balancei a cabeça. Não era possível. Não existiam dois 'Dylan Lancaster'. Impossível. Apesar do tal 'Chad Huther' ser uma cópia idêntica do ex-namorado morto da minha irmã.
- Pode contar pra mim - falou Philip - Eu sei que tem alguma coisa a ver com o Chad. Ele te fez alguma coisa? - perguntou bravo de repente.
- Não, ele não me fez nada - falei e vi os ombros de Philip relaxarem.
- Então o que é?
- Ele é igualzinho uma pessoa que conhecia a uns anos atrás.
- Um ex-namorado?
- Não, quer dizer, não meu, da minha irmã.
- Você gostava dele?
- Gostava
- Doce, você ficava com o namorado da sua irmã? - perguntou assustado.
- Não! - falei negando com a cabeça - ele era tipo um irmão mais velho. Ajudava Kat a cuidar de mim. Ele que me ensinou a gostar de futebol, me ensinou a jogar, aliás...
- Então certamente você não ficou em choque porque não gostava da pessoa...
- Não... - respondi baixinho olhando para baixo. Eu não queria chorar na frente dele.
- O que aconteceu com ele?
Antes que eu pudesse responder Matt abriu as portas do vestiário.
- Todos prontos? - falou animado e ao me ver cabisbaixa, repreendeu-me - Garota das toalhas...
- Matthew...- imitei-o me levantando e vi que Philip estava esperando uma resposta - deixa para lá.
Ele se levantou meio bravo comigo.
- Se você pensa que essa conversa terminou mocinha esta muito enganada.
Quem era ele na fila do pão, para me obrigar a falar alguma coisa para ele. Ele nem meu amigo era. Era só um... Estranho.
- Se você pensa que eu tenho alguma coisa para te contar, eu não tenho. E mesmo se tivesse... Não somos amigos, lembra? - falei tentando ignorar o cheiro dele que entrava em minhas narinas por ter chegado tão perto. Dei as costas, passando por Matt em direção ao campo.
"Essa conversa não terminou, mocinha" Era só o que me faltava, Philip me repreendendo para contar uma coisa minha. Nunca.
Franzi os olhos para a claridade do campo e quando o treinador Stevens me viu sendo guiada pelos meus cães de guarda gritou:
- Dawter! Brondy tá pronta para jogar?
Antes que Philip tivesse a chance de responder, gritei:
- Brondy tem boca senhor! E sim, eu estou pronta.
Escutei Matt rir e o treinador me olhou com aprovação.
- Então vamos começar - falou treinador Stevens.
Cheguei no círculo de garotos a minha espera e é claro que as piadinhas sobre o meu desmaio começaram.
- Isso que dá querer entrar em um time que a prevalência é masculina. - disse alguém.
- Vai acabar ficando aqui para reserva - continuou outra.
- Olha, eu não estou aqui para agradar ninguém, muito menos um bando de maricas que não tem o que fazer da vida e agem como se ainda estivéssemos em séculos passados. As mulheres jogam futebol, e se querem saber jogam muito bem. Quem vai acabar comendo poeira, são vocês. Então, me façam o favor, antes de me encherem a paciência, que não está nem um pouco boa hoje, vão arrumar outra coisa para vocês pensarem, se é que vocês pensam em alguma coisa. - falei para ninguém específico e recebendo vários olhares surpresos. Ninguém esperava que a menininha iria responder, no máximo um choro. Pobre iludidos.
- Ora, ora. Parece que temos uma afiadinha na turma. - escutei uma voz dizer.
Virei já próxima para acabar com o próximo idiota quando vi que era ele. Meu estômago revirou e não conseguia responder. Nada. Puta merda, igualzinho.
- O que foi princesa? O gato comeu sua língua?
Chad Huther tinha a aparência idêntica do ex-namorado perfeito da minha irmã. Mas a educação, já era outra história.
- Eu vou fazer você comer a sua língua se você falar mais alguma coisa para ela - Philip apareceu me colocando atrás dele. E eu de boa vontade me encolhi. Odiava ser indefesa, mas aquilo era demais, ele era demais.
- A princesa não sabe se defender sozinha? Igual a alguns minutos atrás?
Minha cabeça girava. E eu vi todos os músculos de Philip ficarem tensos. Ele iria arrebentar Chad, por mim. mas eu não era indefesa. Apesar da semelhança sinistra, Chad não era Dylan, e esse fato me fez contornar Philip e dizer:
- Eu sei muito bem me defender sozinha, agora você não se passa de um completo imbecil. Por acaso você ganha pontos por enfrentar uma garota? Que coisa mais máscula de se fazer. Agora você me dá licença, porque ao contrário de você, eu quero treinar.
Dei as costas para ele e me aproximei do treinador respirando, inspirando, respirando, inspirando.
- Pronta? - perguntou o treinador.
- Prontíssima.

Doce Sophie (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora