Capítulo 1: Praia ( primeira parte.)

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O litoral era quente, na verdade mais abafado do que meu corpo estava acostumado a sentir. Talvez fosse por estarmos na alta temporada, em uma cidade tropical no começo das férias de verão.

Mas uma coisa era certa, odiava o calor. O frio era muito mais, digamos, "acolhedor", a estação que mais combinava comigo, um período de recolhimento e reflexão. Nessa época do ano, costumava passar a maior parte do dia em meu quarto, fugindo do mundo pecaminoso e ardiloso que projetaram em minha mente fechada e cautelosa — até demais —, ficando em paz até o momento em que era necessário sair, aí não havia outra opção a não ser arrastar-me para fora do ninho solitariamente pessoal e formar um sorriso escancarado para minha mãe religiosa, pai intolerante e irmão distante. Tinha de exibir felicidade em estar com a família mais venturosa e respeitável do bairro onde morava em Campinas. Ao menos era isso o que a maioria pensava sobre nós: religiosos e conservadores — bom, não se podia dizer isso do meu irmão mais velho, que largara a escola e matava o tempo fumando maconha.

Mas, afinal, por que diabos eu estava reclamando? Estava no apartamento do pai da minha melhor amiga e longe dos julgamentos a cada passo "errado" que dava. A propósito, ainda nem decidira com que roupa iria à praia, e meu Deus! Restavam apenas poucos minutos antes que Ana chegasse do mercado com seu pai!

Nunca fui à praia, me ensinaram que era um lugar impuro para se estar, com todas aquelas almas perdidas e seminuas perambulando suadas de um lado ao outro, mas como havia prometido, era meu primeiro dia naquela cidade e tinha de ir. Sempre cumpri minhas promessas, mesmo as sem o rótulo de "agradável".

Eu jamais usaria sunga. Sempre afirmei isso em meu íntimo, não só por achar incorreto exibir o corpo diante de desconhecidos, mas também porque minhas pernas eram extremamente brancas, e isso era esfregado na minha cara pelo grande espelho em minha frente. Pareciam duas coxas feitas de sulfite! Meu estômago se revirou só em pensar nos milhares de olhos curiosos deslizando sobre o garoto com as pernas de branca de neve — apelido sem graça que Ana colocou em mim, e eu o repudiava.

— Belas pernas. — Levei um soco no pé da barriga ao ouvir uma voz soar na porta do quarto. — Olha, se eu curtisse garotos, te pegaria com certeza. — Samuel trilhava minhas pernas com aqueles olhos grandes e azuis e um sorrisinho bobo nos lábios carnudos.

— Não sabe bater? — retruquei, sentindo o calor corar minhas bochechas.

— Estou na casa da minha namorada, tenho liberdade para entrar como quiser. — Sim, ele era o verdadeiro namorado da minha melhor amiga. Mas não demonstravam isso a ninguém, pois fazia parte de um acordo entre nós três.

Era basicamente isso: ela fingia ser minha namorada para meus familiares, e ele fingia ser meu namorado perante a família dela. Motivo? Cleber, pai de Ana. Ele exigia que a filha namorasse apenas quando terminasse os estudos, e também não gostava muito de Samuel, o que acentuava a importância de sua exigência. Porém, depois que criamos essa história, ficou um tanto mais fácil por assim dizer, afinal gays são os únicos em que se pode confiar perto de uma garota de 17 anos com um corpo invejável. Esse era o pensamento dele. E minha mãe, bem, sempre cobrou uma nora, perguntando de forma desconfiada o motivo de ainda estar sozinho. Como não queria fingir gostar de alguma garota e acrescentá-la a lista das pessoas que engano, fizemos esse acordo.

— Mas já que somos namorados fictícios, acho que posso ao menos acariciar suas pernas de branca de neve, não?

— Fique longe de mim! — Dei um passo para trás, pegando uma toalha verde que estava sobre a cama ao meu lado direito. Samuel também estava de sunga, mas a dele era preta, não vermelha como a minha. As coxas não eram musculosas, mas levemente definidas e bronzeadas.

O Peso de Amar. (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora