Capítulo 20: Surpresas.

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Era sexta-feira, três de agosto. A data especialmente aguardada nas últimas semanas. Por quê? Era o dia do aniversário dos irmãos Mendes. Sim, Ana e Apolo faziam aniversário no mesmo dia, mesmo ele sendo mais velho. Membros do Pequeno Vale estavam lá, todos eles! Meus pais e irmão. Cleber andava de um lado para outro tentando organizar as coisas entre as dezenas de cadeiras ocupadas no salão de festas alugado. Mais de cem convidados conversando e comendo, e música alta para completar.

— Feliz aniversário, seus cretinos! — Estava sentado em uma mesa próxima ao palco improvisado quando escutei alguém gritar atrás de mim, não somente eu olhei, mas todo mundo arregalou os olhos com o susto.

— Obrigada, sua louca. — Ana levantou-se para abraçar Yanca, que gritava histericamente feliz por algum motivo, dando pulinhos junto à amiga.

— Vem cá me dar um abraço, seu ogro. — Largou Ana, abrindo os braços para Apolo que estava ao meu lado.

— Não cansa de fazer escândalo por onde passa? — brincou ele, envolvendo-se entre os braços da menina com cabelos violeta e cabeça raspada na lateral.

— Estrelas devem chamar atenção, fofo — rebateu, com um risinho ao largá-lo. — Tenho que beber alguma coisa, com álcool, claro — especificou logo após me ver esticando um copo de guaraná em sua direção.

— Sirva-se sozinha, você é de casa — Samuel disse, sentado ao lado do meu irmão.

Yanca nem mesmo olhou para trás, virou-se e foi à procura do que desejava beber.

— Quem é essa menina? — perguntou minha mãe, saboreando um dos salgados do prato sobre a mesa redonda. Ela estava sentada de frente para mim e ao lado do meu pai.

— Uma amiga nossa, doidinha de pedra.

Todos rimos da maneira como Ana respondeu, tão sincera quanto à feição risonha de uma criança.

— Estão bem servidos? Querem algo mais?

— Não, estamos bem — meu pai respondeu a Apolo.

Senti suas mãos pesadas sobre meus ombros quando levava o copo de guaraná até os lábios.

— Já volto. — Levantei o rosto para perguntar aonde iria, mas fui surpreendido com um rápido beijo, fiquei parado com minha boca semiaberta. Ele sinalizou para Samuel, o qual o seguiu rapidamente sumindo entre as pessoas convidadas.

Meus olhos foram por instinto em direção aos meus pais, era a primeira vez que nossos lábios se encontravam perante eles. Aquilo certamente fez meu coração bater mais forte. Medo? Não mais. Vergonha, essa era a palavra certa.

Jonathan ria em seu interior, tirando onda da minha cara surpresa. Esperei alguma palavra do casal em minha frente, mas tudo que tive fora dois rostos tão vermelhos quanto o meu, igualmente sem graça e surpresos pela atitude. Não estavam acostumados com aquilo mesmo aceitando verdadeiramente, era compreensível.

— Para onde foram? — minha amiga indagou, arrancando-me daquela situação constrangedoramente engraçada.

— Não faço a mínima ideia — respondi, bebericando o meu refrigerante.

Virei-me para olhar em volta, avistando o conde do Pequeno Vale sentado mais a frente, braços jogados sobre os ombros do namorado e um sorriso largo em minha direção. Sorri de volta. Elizabeth e Beatriz estavam focadas em suas bebidas e petiscos, o que me fez dar um risinho mudo. Tamires logo ao lado de Jean e seu irmão, chamava a atenção de todos com seu porte feminino, e ainda assim, de barba. Tami adorava exibir seu lado drag e atrair holofotes para si, afrontando destemidamente o preconceito e intolerância da sociedade, e seu olhar dizia por si só sua felicidade em fazer tal coisa.

O Peso de Amar. (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora