Capítulo 3: Apenas escutar.

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— Jonas! — Os olhos verdes dele se arregalaram, fazendo os meus se espantarem ainda mais. Só depois de ouvir o seu meio grito entrar em meus ouvidos é que sai do transe do qual estava refém. — Há quanto tempo você está aí, cara?

— Ah... — Me virei de costas para Apolo, sendo possuído por um turbilhão de sensações desconhecidas. O frio no estômago era como borboletas de gelo voando entre minhas entranhas enquanto as maçãs altas do meu rosto queimavam. Se eu pudesse enterrar a cabeça na parede, com toda certeza o faria. — Desculpe. A porta estava destrancada. Eu não... — Era inútil, mesmo que eu tentasse, palavra alguma saía para fora de minha boca. Minha mente já estava uma bagunça tentando queimar a imagem de segundos atrás. Uma visão que fazia meu corpo reagir por vontade própria.

— Tudo bem. Eu deveria ter trancado — ele resmungou, e eu ouvia os barulhos de seus movimentos rápidos caçando por algo, ou tentando se cobrir.

Pigarreei por instinto, sem nem mesmo saber o motivo. Talvez fosse uma maneira de mudar o assunto, ou algo assim. Se continuássemos falando sobre aquilo, elas chegariam mais rápido, logo estariam dançando em sua prisão e esfregando a excitação do meu corpo pervertido na minha cara. Mas por incrível que pareça, as vozes não estavam lá. Mas certamente estariam se continuasse falando a respeito.

— Tudo bem, já pode se virar!

Não se pode dizer que não pensei em simplesmente sair dali, sem olhar para trás e esperar o quarto estar absolutamente vazio. Porém, assim que ouvi aquilo, meu corpo foi mais rápido que os pensamentos e meus olhos já estavam sobre ele, um garoto absolutamente atraente com apenas uma cueca — melhor que nada — cobrindo seu corpo. Veias eram suavemente nítidas em seus braços e barriga, essas eram próximas das "entradinhas v" chamativas e perfeitamente delineadas.

— Eu termino no banheiro.

Ele disse mesmo aquilo? O friozinho na barriga alavancou-se como uma pontada, elevando minha timidez ainda mais. Deveria ser ele a sentir vergonha, não era?

Sua feição estava séria, parecia bravo, mas não disse nada depois disso, apenas deu meia volta e foi para o banheiro onde se trancou. Enquanto ele "terminava" o que eu tinha interrompido, permaneci ali enquanto me recompunha, espantando aquelas sensações crescentes dentro e fora de mim.

Você gostou do que viu, não foi?!

Elas demoraram, mas chegaram.

Dessa vez não!

Rebati imediatamente, deixando claro que não as deixaria torturar-me, não daquela vez.

***

Naquela mesma tarde, conversei com o pai de Ana e pedi para que ele me deixasse ficar um tempo com eles. Sabia que minha mãe não iria me querer na mesma casa que Rebeca, afinal já fazia tempos que ela me proibira de conversar com minha prima por ser uma "má influência". Tinha certeza de que seria completamente desconfortável e que meus pais prefeririam que eu ficasse com Ana a viver sob o mesmo teto que minha prima. Eles próprios não viveriam se tivessem escolha.

Quando Cleber decidiu morar no litoral permanentemente, Ana e eu ficamos bastante tristes, pois seria uma despedida entre mim e minha melhor amiga. Uma daquelas ocasiões chatas e cheias de lágrimas, com palavras bonitas. Mas o destino nos reservou algo maior do que o mesmo clichê de sempre. A decisão repentina do pai dela chegou exatamente quando eu iria precisar de um lugar para ficar, afinal tia Cátia morava no litoral também, exatamente na mesma cidade em que Ana iria morar dali em diante. Pode parecer estranho, mas Samuel também estava prestes a se mudar permanentemente para onde estávamos, pois não queria ficar longe da namorada, e aquilo se encaixou perfeitamente bem. Não precisaríamos mais nos separarmos uns dos outros, mas claro que após as férias de verão, Samuel teria que convencer seus pais a morarem no Guarujá, mas o que não lhe faltava era lábia para isso, tirando o fato de não haverem impedimentos para uma mudança em se tratando de sua família.

O Peso de Amar. (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora