Em meio a lama e ao caos de uma barulheira infernal, a mais linda criatura do universo age botando ordem e encantando a bagunça. Seu nome é Verdade. Pela pista de mármore do salão real, ostenta sensualidade, sem cortesia. Os olhos castanhos de veludo não deixam se encontrar: dançam sobre os olhares alheios, assim como ela. Ventrista do infinito. As sutilezas de seu corpo e curvas, e delicadezas ao gestos em sua dança impressionam a todos ao salão. Fazendo carecer de analogias até seu narrador. Subitamente, ao vê-la, calam-se. Boquiabertos, babando, observam cada ato, cada gesto, cada curva, cada detalhe que conseguem processar diante tanta beleza e magnificência. Maga alquimista, havia os enfeitiçado com sua dança poética. Pelos pensamentos, pois não atreviam-se a emitir sons, pedem aos céus que a dança, sem música, nunca acabe. O silêncio e a paz dominam o salão, antes enfestado pelo caos. O aroma de seu corpo soado desfila pelo ambiente, cheiro doce como a mais pura flor do paraíso. Petrificados, vêem em seu rebolar o que procuraram por toda a vida... A dança termina. O salão se espanta. Ela emite um som e desaparece, se esvai como fumaça. Encantados, todos ao salão desde verbos a artigos, substantivos a adjetivos buscam alguma forma de expressar o que viram. Atrás de gritos e ditos o caos volta a tomar conta do local. Buscam, buscam, dito vai, grito vem... Busca vã, não encontram nenhuma palavra ou gesto que a abrangiam, ou ao menos descrevessem o que viram e sentiram. A Verdade, vaidosa, exala sua presença pelo salão, o abençoado aroma dança pelo os quadris dos tolos desesperados. Enlouquecidos por não conseguirem expressá-la ou descrevê-la, clamam para que ela apareça novamente dando fim ao caos instalado. Os verbos tentam com toda sua realeza... Nada. Os substantivos com toda especificação... Sem sucesso. Artigos, adjetivos, advérbios.... E um jovem verbo em um ato espontâneo, mostra sua genialidade. Tem a brilhante ideia de chamá-la pelo som que emitiu ao deixá-los. "Amem". O salão o acompanha, vibram em um só som. "Amem, amem...". Começam a sentir a música, antes muda em seus ouvidos, passarem por suas veias. Dançam em um ritmo constante de pura beleza e magia. Dançam ao som de "amem". A sentem dançando novamente entre eles, aconchegam-se pela harmonia da vibração que produz a presença mística da Verdade... Após o espetáculo, o salão volta a paz, como se ela jamais tivesse ido. E com a certeza de que sempre estará por perto de cada um, ao som de "amem". Aliás, no início, era o verbo. Amem!
#Crônicas beretas, De Jgoblin

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M-83 Poesias
PoetryCaros leitores e leitoras, Este livro surgiu de uma reunião de poetas e, tem o intuito de mostrar o talento e o trabalho desses mesmos poetas. Esperamos que gostem da nossa obra, que comentem, votem e, sobretudo, deliciem-se com esta obra-pr...