Resgatando Sabores

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Hoje aquelas melodias antigas conversaram com meu ímpeto;
resguardaram as fórmulas compostas por dualidades catastróficas;
impediram que o meu vislumbre se tornasse impiedoso;
Hoje aquelas melodias salvaram-me de mim mesma.

A noite aspirou minhas aflições por entre corredores iluminados de brilhantes ofuscados,
enquanto meu corpo reagia freneticamente com os arrepios que se agregavam na minha nuca.
Hoje eu perguntei para meu reflexo: é possível identificar-me tanto com os personagens criados em algum momento desbravador do passado?
E foi instantâneo o frio me banhar da cabeça aos pés em uma pequena conexão com o improvável.

E a fome?
Como posso sentir-me tão bem com ela?
Como se meu corpo estivesse limpo,
como se, de alguma forma, eu só precisasse de energia espiritual para satisfazer-me,
como se eu só precisasse de música e algumas histórias desconexas para redescobrir-me;
Talvez seja isso mesmo. Nada além disso.

E a morte?
O quão agridoce ela pode ser?
Quanto tempo para se assimilar que essa é a única verdade?
Bom, a noite engoliu também meus desesperos inúteis. As dúvidas imobilizadoras deverão se encerrar com o fim esclarecedor;
A vida não imita a arte, a arte não imita a vida;
A morte é a arte da vida.
A vida não passa de uma imensa sacola vazia voando ao vento universal, sem direção,
sem real controle da situação. Coitada, tão limitada.

Essa madrugada senti uma leve brisa macia em minhas mãos enquanto me embriagava com acontecimentos paralelos,
foi como um singelo despertador anunciando a tal verdade incurável,
que, de tão evitada, voltou para debaixo das cobertas;
Estava temendo fielmente a minha ausência de medo.
Sim, meus medos foram todos crucificados junto com as conveniências demarcadas;

Meu passado foi enfeitado com flores frescas, foi perfumado pelo doce aroma do presente;
apenas o momento atua sobre meus acordes desregrados,
apenas os olhos desse instante observam-me enquanto sou;
Hoje o futuro não é nada além de probabilidades largadas em qualquer chão de terra por ai.

Não quero ser, não quero lembrar que já fui. Só quero estar;
Estar e conter os pulmões nessa grande queda incontrolável. Porque eu também sou o receio.
Eis que dentre esses delírios amortecidos uma ideia absurda se fez presente: seria eu, mente alarmante, a personificação do pseudônimo Ângela Pralini? Ou a reencarnação de Jim Morrison?
Bem, de qualquer forma continuarei planando entre essas aspas inquietantes.

#Tardes de Náufrago, De DaiahOliveira

M-83 PoesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora