A solidão me acompanha

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Ano de 2016 — entre 2 e 3 meses

***


Uma sensação estranha preenchia os minutos antes das aulas. Não havia reparado que estava tão acostumado com a presença da Violet, a carteira vazia ao meu lado ficava incompleta sem ela.

— E aí, Gustavo? — Maurício apertou rapidamente o meu ombro e seguiu para o seu lugar.

— Onde está a Violet, Gustavo? — Robin perguntou ao meu lado.

— Não se sentiu bem e resolveu ficar em casa.

— São essas viroses. Hoje em dia tudo é virose. — A cadeira do Maurício foi arrastada sobre o chão às minhas costas.

Uuuuhhh! Então hoje vou ser a Violet. — Robin tentou passar por trás da minha cadeira como a Violet fazia, mas acabou preso entre ela e a mesa às suas costas.

— Vai um pouquinho para a frente, Gu! — ele me pediu com uma pobre imitação da voz dela.

Maurício e eu rimos.

— A Violet nunca me pediu isso. — Eu me prensei contra a mesa para que ele pudesse terminar de passar.

— Isso porque ela é magrela — ele rebateu sem nova imitação.

O som de saltos contra o chão ecoou em nossa direção. Os passos firmes e espaçados, como quem não tem pressa, insinuavam a sensualidade da sua dona, e não precisei sentir o perfume floral para descobrir que era Sheila quem chegava.

— Oi, rapazes. — Sheila segurou meu rosto com firmeza, comprimiu os lábios finos contra a minha bochecha em um forte beijo e seguiu para o seu lugar no fim da sala, sem aguardar por uma resposta.

— Filho da mãe! — Robin deu um peteleco em minha cabeça. — A Sheila está caidinha por você.

— Ela só está sendo simpática — discordei.

— Não mesmo. — Maurício riu. — Aposto que ela não fez nada ainda porque não sabe como chegar em você.

— Você tem sorte, a Sheila é uma tremenda gostosa. Só curvas — Robin contou.

— Realmente — Maurício concordou. — A Sheila é gata mesmo.

— Ela também não conseguiria passar por trás da sua cadeira, tem um traseiro de responsa. Já a Violet, ela passa com folga. — Robin riu.

— Que isso, cara, elas são diferentes — Maurício protestou. — A Violet também tem o seu próprio tipo de beleza.

— Isso é verdade. A Violet pode não ter muitas curvas, mas tem uma voz... — Robin fez cócegas em minha orelha. — Imagine sussurrando em seu ouvido.

Estiquei o meu braço e dei um leve soco em seu abdômen.

Au! — ele gemeu.

— Mais respeito com a Violet — exigi.

— O que foi isso? Eu só elogiei a voz dela, cara — ele voltou a reclamar. — Tem certeza que é só tutoria que rolando aí?

Tornei a bater nele.

Ou! agressivo hoje. — Ele riu sem realmente se importar com aquilo.




<Próximo dia>


Além De Ver, Sentir -- AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora