Aquelas palavras soaram como música para os meus ouvidos, mesmo sabendo que eu não tinha experiência e que esse tipo de lugar não faz bem o meu estilo, me senti obrigada a aceitar, me vi sem saída naquele momento e apenas confirmei. Passei um dia com ela na boate, para ter uma mínima noção do tipo de trabalho. O chefe dela, Ryan, me apresentou o lugar inteiro. De fato, é um bom lugar, entretanto não consigo me identificar com essa coisa toda de música alta demais, muitas bebidas e todos esses detalhes, mas confesso que eu adorara ir a estas boates para me divertir; para trabalhar é diferente.
***
Abri os olhos e pisquei algumas vezes. Puxei o lençol enrolado no meu corpo e virei de lado na cama. Encarei o chão por alguns rápidos segundos e depois o teto. Peguei o meu celular e vi uma mensagem na tela.
“Ryan quer falar com você, esteja pronta às 05:30pm, passo p te pegar 06:00pm.“
Fixei meus olhos na parte superior da tela do celular e vi o relógio marcando 09:40am. Levantei e fiz as coisas de costume. Tomei o apressado banho de sempre, vesti uma roupa quentinha e fui até a cozinha. Fiz um café da manhã para duas pessoas por causa de Oliver. Andei até o quarto dele e bati na porta.
- Oliver?! - ele não respondeu.
Não sabia se seria o certo, talvez não, mas entrei no quarto dele e o vi dormindo, jogado na cama feito uma criança que passou a noite acordada brincando de guerra de travesseiro. Antes de sair meus olhos grudaram na mesa do quarto dele e vi alguns desenhos, os quais não consegui identificar por causa da distância e do angulo. Minha curiosidade fez eu querer me aproximar. O olhei rapidamente, mas ele continuava a dormir. Fui até a mesinha e olhei os papeis, foi quando percebi algo curioso. Eu me reconheci nos desenhos. Todos tinham meu rosto de várias formas ou meu corpo inteiro realizando alguma ação e então cheguei a amável conclusão de que ele realmente me considerava importante, talvez ele fosse como Olivia, por algum motivo ele se sentisse responsável por mim.
Pude ouvir um baixo resmungo sonolento e deduzi que ele estivesse prestes a acordar. Apressei os passos e saí do quarto. Voltei para a cozinha com algumas lembraças irrelevantes embaralhadas tomando conta do meu pensamento, apenas tentei ignora-las e sentei no banquinho à frente do balcão e enfiei um pedaço de um pão na boca. Ouvi o barulho da porta do quarto de Oliver se abrindo e fechando logo em seguida. Por um tal motivo desconhecido estava me sentindo nervosa, minhas mãos tremiam. Tomei um gole do chocolate quente e o senti passar queimando pela minha garganta.
- Bom dia. - ele disse e eu apenas sorri sem graça.
Não sei bem como lidar com Oliver, apesar de tudo as vezes tenho a impressão de que ele se sente desconfortavel várias vezes quando está comigo. Não sei se é algo relacionado ao meu jeito de ser ou de agir, ou até mesmo as coisas que eu falo, mas isso me incomoda um pouco.
- Pensativa?! - ele disse curioso.
Rapidamente levantei o olhar para ele.
- Só... To planejando meu dia hoje... Tenho algumas coisas para fazer. - tentei passar tranquilidade embora não o tenha feito.
O tempo era relativamente frio, me senti obrigada a soltar meus cabelos louros e longos para que pudesse criar de alguma forma uma barreira contra esse frio. Levantei apressada e andei até a porta, sentia necessidade de sair daquela cena com Oliver e ficar um pouco sozinha. Decidi ir até uma conveniência ali perto comprar algumas bobagens para comer e beber durante o dia.
Andei pela rua com as mãos nos bolsos da calça de tecido grosso que fielmente me livrara do vento gelado nas pernas. A conveniência era perto então cheguei em menos de 5 minutos, empurrei a porta de vidro e o aquecedor me ajudou a respirar melhor já que os dias pareciam cada vez mais frios. Comprei umas torradinhas, bobons, chocolates, alguns biscoitos salgados e pipoca e hamburguers de microondas além de sucos artificiais e energéticos.
No caminho de volta para casa vi Olívia buzinar e parar apressada o carro ao meu lado.
- Entra.
Ela disse parecendo preocupada. Fiquei confusa, mas obedeci.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntei sem olhar para ela ajeitando a sacolinha de bobagens no meu colo.
- Emily... Preciso que fique calma. - ela disse e eu a encarei esperando por uma continuação - Sua mãe... - ela engoliu em seco e eu respirei fundo - Ela tava no caminho para um daqueles exames de rotina dentro de um taxi e... - ela travou.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas então desviei o olhar dela e fixei no teto do carro.
- Outro carro bateu no taxi que a sua mãe tava... - ela engoliu em seco de novo e continuou - Chamaram uma ambulância, ligaram pro seu celular mas você deixou ele em casa então... Oliver atendeu ja que ele viu que era a sua mãe e um cara falou pra ele...
Abaixei a cabeça e as lágrimas sairam desorientadas pelo meu rosto.
- Eles chamaram Emi... Chamaram a ambulância mas ela não resistiu, eu sinto muito.
Ela se apressou em dizer o final e me abraçou. Eu a empurrei e saí do carro. Andei com pressa pela rua sem saber para onde estava indo, meus soluços eram muitos, acompanhados de gemidos de dor e agonia, minhas lágrimas aumentavam e escorriam com velocidade pelas minhas bochechas, minhas pernas tremiam, minha visão era um tanto quanto turva e eu me sentia mal, me sentia sem rumo, me sentia perdida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Promessa
RomanceJovem e inteligente, porém um tanto quanto sonhadora, Emily Benstock, de apenas 21 anos, sempre acreditou que o amor da sua vida apareceria como em um conto de fadas, mas depois de tantas desilusões amorosas Emi, como gostava de ser chamada, decide...