Capítulo 1

537 27 6
                                    


Passava da meia-noite quando Edward abriu a porta dos fundos de seu restaurante e no mesmo instante entrou em estado de alerta, apressando os movimentos. Ao longe ouviu o som de uma voz masculina grave. Um intruso tinha violado o sistema de segurança do restaurante. Embora o restaurante ficasse sempre cheio devido ao chique jantar que serviam até tarde e ao pessoal do pós- balada, ele ficava fechado aos domingos e às segundas. Com certeza, não deveria haver ninguém lá dentro naquele momento. Silenciosamente, fechou a porta dos fundos, apertando o taco de polo que trazia em mãos. Sua ideia era substituir este, que estava rachado, por um outro, intacto, de seu depósito. Mas, naquele momento, tinha outros planos para o objeto.

Na maior parte do tempo, Edward mantinha a postura levemente bem humorada e cínica de um experiente libertino que vira de tudo na vida. Um homem sem família, sem país, sem credo, com apenas algumas posses terrenas às quais tinha direito, e que, na verdade, eram muitas. Mas pelo que afirmava de fato ser seu, ele lutava. Sempre. Apenas não tinha percebido até então que o restaurante que comprara recentemente tinha se tornado tão importante, a ponto de estar preparado para lutar por ele..

Percorreu vagarosamente o corredor na penumbra, seguindo o brilho da luz que iluminava uma porta parcialmente fechada e levava à grande área do bar. Ele virou a cabeça, com a audição aguçada para ouvir o menor barulho. Um calafrio percorreu sua espinha diante do som de uma risada feminina. Um riso grave de homem entrelaçou-se àquele primeiro som áspero e íntimo. Escutou o som distinto de taças tilintando, como um brinde.

Edward aproximou-se da porta e inclinou a cabeça pela fresta.

— Por que você faz esses joguinhos comigo?, ele ouviu o homem perguntar.

— Joguinhos?

A pulsação crescente de Edward pareceu hesitar por um momento frente à voz da mulher. Estranho. Ela era do mesmo país em que ele nascera. Seu tom era divertido, melodioso e leve, o sotaque francês entremeado com um toque britânico. Talvez tivesse reconhecido a pronúncia por ser muito similar à sua.

— Você está me provocando, disse o homem roucamente. – A noite toda. Não apenas a mim. Não houve um homem naquele restaurante hoje que não tenha ficado enfeitiçado por você.

— Na verdade, estou sendo bem cautelosa. Afinal, vamos trabalhar juntos, respondeu a mulher, o tom subitamente mais rápido, frio.

Edward teve a impressão de que ela dava o sinal vermelho.

— Quero mais do que apenas trabalhar com você. Quero ajudar. Quero você em minha casa...minha cama, disse o homem, ignorando os avisos femininos. Em um segundo, Edward mudou seu estado de espírito de alerta para irritado ao reconhecer o homem que falava. Não tinha interrompido um roubo em sua propriedade.

Tinha flagrado uma sedução.

Enojado, abriu a porta e entrou no restaurante pouco iluminado e polido. O casal estava sentado perto do bar de mogno envernizado, de frente um para o outro, as mãos em torno de copos de cristal. Notou que a mulher se afastava levemente do homem, como se repelia pela insinuação. À distância registrou que ela usava um vestido de noite preto que colava aos seios e às curvas tesas. Possuia um decote nas costas, que revelava um relance da pele branca, perfeita, reluzindo sob a iluminação suave. A visão da mão de Mike Newton sobre aquele pedaço de pele nua inexplicavelmente transformou a irritação de Edward em raiva. O extremamente talentoso chef, que Edward contratara de um restaurante cinco estrelas de Las Vegas, tinha um quê de celebridade. Ele só percebeu Edward a poucos metros. Quando o viu, seus olhos arregalaram-se.

— Edward! O copo cheio tombou da mão de Mike. O olhar de Edward seguiu rapidamente para a peculiar garrafa sobre o balcão.

Edward jogou o taco de polo sobre o bar de mogno, o som ecoou no ar como uma repreensão.

— Não sabia que tinha lhe dado o código de segurança do meu restaurante. Ou permissão para acessar meu bar particular. Explica-se Mike, disse Edward, o tom frio, porém, neutro, pois já tinha entendido a natureza da intrusão em sua propriedade. Sim, estava irritado pela infração de Mike e queria deixar isso claro para seu funcionário. Apenas não sabia ainda se o demitiria. Nunca fora com a cara de Mike, mas chefs assim, talentosos, eram raros, afinal.

— Eu... eu não esperava vê-lo, Mike gaguejou.

— Obviamente.

Edward notou o braço nu e flexível da mulher cair. Pela primeira vez, inspecionava o rosto da outra ocupante da sala. Teve de olhar duas vezes para acreditar.

— Merde.

— Edward.

— O que está fazendo aqui, Bella?

Certamente ele estava vendo coisas. O rosto do passado..um rosto lindo, mas que definitivamente seria melhor não reaparecer a essa altura de sua vida. O que diabos Bella Swan estava fazendo em seu restaurante em Chicago, a milhares de quilômetros do país de origem deles, a léguas do passado dourado que tinham em comum? Seria isso algum tipo de piada cósmica?

— Posso perguntar o mesmo de você, Bella retrucou rapidamente, os olhos castanhos faiscando. A compreensão fez sua expressão ficar séria. – Você é dono deste lugar?

- Sim

— Quê? Vocês dois se conhecem?, perguntou Mike.

Edward olhou para Bella repreendendo-a. Os lábios sedutores dela se fecharam, e ela devolveu o olhar desafiando- o. Ela tinha entendido o aviso de silêncio a respeito da ligação deles, claro, mas isso não lhe dava nenhuma garantia. Conhecendo Bella, ela ainda não tinha decidido se ficaria quieta ou não. Um espasmo de ansiedade atravessou-o.

Ele precisava tirá-la do restaurante a qualquer custo...tirá-la de sua vida ali em Chicago. Bella provocava o caos em qualquer lugar que seu pezinho elegante e manicurado pisava.

— Isso não é da sua conta Mike.. e você está despedido, Edward disse.

Mike piscou sem entender. Edward começou a ir embora.

— Edward, você não pode fazer isso!, exclamou Bella.

Ele virou-se rapidamente ao ouvir o som da voz dela. Por um segundo, apenas a fitou.

— Faz quanto tempo?, ele perguntou em voz baixa para ela, só para ela. Viu uma estranha mistura de emoções cruzarem seu belo rosto: desconforto, confusão..raiva.

SubmissaOnde histórias criam vida. Descubra agora