Capítulo 2

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Quase dois anos desde aquela noite no seu apartamento, ela disse. Ele tinha que lhe parabenizar. Apesar do tumulto de emoções que passaram pelo seu rosto, quando respondeu, tinha voltado a ser a fria aristocrata. Maldita. Qualquer homem que tentasse decodificar o enigma de Bella estava amaldiçoado a uma vida inteira de obsessão. Quem era ela? Uma menina má, uma herdeira incontrolável ou um raio de sol luminoso dourado e ilusório que atraía e provocava?

- Edward, não seja precipitado, disse Bella suavemente, com um sorriso de bruxa formando-se em seus lábios, que provavelmente poderia convencer um homem a cometer um assassinato.

- Seria tolice demitir o Mike por causa de como se sente em relação a mim.

- Não estou despedindo ele por conta de como me sinto em relação a você, ele afirmou. A visão da mão de Mike sobre a pele branca dela surgiu em sua mente. Mentiroso. Forçadamente, ignorou a voz dentro de sua cabeça. - Estou despedindo o Mike, pois ele, sem autorização, obteve o código de segurança do restaurante e invadiu minha propriedade privada.

- Não pode demitir o Mike, declarou, todos os seus traços de engodo sedutor tinham sido substituídos por teimosia irritada. Edward impediu-se de sorrir frente àquela alteração abrupta.

- Posso fazer o que bem entender. Este lugar é meu.

Viu uma conhecida expressão desafiadora retesar a expressão dela, a mesma de quando tinha catorze anos e ele lhe dissera que o cavalo dos estábulos de seu pai era perigoso e forte demais para ela controlá-lo - uma expressão da qual gostava muito, apesar de tudo.

- Mas...

- Sem mas, disse Edward, forçando a voz a voltar ao volume e ritmo calmos de costume. Ele não permitiria que a presença de Bella o desequilibrasse. Ela tinha o hábito de fazer um homem pirar com sua beleza inigualável e com a tentação de domesticá-la. Lembrava-se bem demais de quando quase sucumbiu ao canto da sereia, naquele último encontro no apartamento. Recordava-se de Bella olhando para ele conforme desabotoava suas calças, as pontas de seus dedos roçando contra um membro fervendo com luxúria quente e crua, os lábios vermelhos e inchados pela recente possessão raivosa de sua boca, os olhos brilhando como safiras em fogo, o sabor dela permanecendo em sua boca, viciante e doce.

Você quer esquecer seu passado, Edward? Vai ser tão gostoso que você vai esquecer tudo que aconteceu com seu pai. Prometo.

Seu corpo ficou rijo com a lembrança. Ele tinha acreditado nela.

Se alguém seria capaz de fazê-lo esquecer por um instante glorioso, esse alguém seria Bella. Havia lhe custado muito se livrar dela naquela noite, mas ele tinha conseguido. Ela manipulava com a mesma facilidade que tinha para respirar. Sabia precisamente como colocar o mais desafiador inimigo em seu bolso e fazê-lo implorar como um cachorro faminto.

E para piorar, depois daquela noite no apartamento, Bella ficou sabendo demais.

Ainda sabia, droga.

Havia uma única maneira de convidá-la para sua vida, e ele sabia que Bella nunca aceitaria jogar sob suas regras. Não Bella Swan.

Ou aceitaria?, uma vozinha em sua mente provocava.

- Quero que os dois sumam daqui. Estão com sorte por eu não chamar a polícia, declarou Edward, virando-se outra vez. Parou quando notou, pelo canto do olho, Mike vindo agitado em sua direção. Aparentemente, o chef tinha recomposto parte de sua típica arrogância nos segundos que se passaram.

- Não seja bobo. Você vai abrir o restaurante amanhã. Precisa de mim. Onde vai arrumar outro chef?

- Eu me viro. Estou neste negócio há tempo suficiente para saber como lidar com empregados abusados.

- Está me chamando de abusado? De empregado? Obviamente, Mike não sabia o que era pior: ser chamado de abusado ou de assalariado.

Edward pausou, avaliando, absorvendo o olhar de Mike. Aparentemente, Mike já tinha bebido sua cota antes de chamar Bella ali para encher a cara dela de cachaça. Ele planejava fazer amor com ela no sofá de couro próximo ao bar também? O pensamento lhe ferveu de raiva. Supunha que Mike poderia ser atraente o suficiente para algumas mulheres, mas seria atraente para Bella? Não importava o fato de que Bella provavelmente já tinha tido quatro vezes mais amantes do que ele, Mike ainda era um papa-anjo no cio, na opinião de Edward.

- Você é surdo ou o que?

- Você não pode demiti-lo, Bella de repente surtou. Edward fitou-a de lado, surpreso pelo pânico na voz dela, mas não queria tirar os olhos de Mike, que já cerrava os punhos. Por que ela estava tão desesperada por Mike? Tinha tido a impressão de que não gostara do flerte do chef.

- Fique fora disso. Não é da sua conta, Edward murmurou.

- É da minha conta. Se demitir Mike, o que eu vou fazer?, exclamou Bella, pousando o copo sobre o bar.

- Do que você está falando?, quis saber Edward, mas Mike não estava interessado naquela discussão tensa e particular.

- Você sempre foi um francês maldito e convêncido, achando que poderia ser meu chefão, Mike falou alto. Ele agarrou Bella pelo braço com força. - Bem, você não pode me mandar embora porque eu me demito! Venha, Bella. Vamos sair do covil deste demônio.

Bella manteve-se firme e puxou o braço.

- Ninguém me diz o que fazer, ela exclamou. Edward apertou o antebraço do homem com força. Mike gritou de dor.

- Solte-a, ordenou Edward. Viu o relampejo de agressão na expressão de Mike e resistiu ao impulso de revirar os olhos de irritação. Ele não estava a fim daquilo àquela noite. - Tem certeza de que quer começar isso?, ele perguntou moderadamente. - Acha que é prudente?

- Não faça isso, Mike, Bella avisou.

Por um segundo, Mike hesitou, mas o álcool em suas veias deve ter rugido. Sem contar a explosão de testosterona provocada por Bella. Soltou Bella e arremeteu com o punho no ar. Edward bloqueou o soco de Mike e afundou o punho logo abaixo das costelas.

Um, dois, pronto. Fácil demais, Edward pensou amargamente quando o ar saiu dos pulmões de Mike com um som sibilante, seguido de um gemido gutural de dor.

Edward lançou um olhar de "é tudo culpa sua" para Bella e depois colocou as mãos sobre os ombros do Mike. Pegou o paletó dele de sobre a banqueta do bar e, pelo colarinho, guiou o homem sem fôlego e gemendo até a porta da frente.

Quando voltou, alguns minutos depois, sozinho, Bella ainda estava ao lado do bar, o queixo empinado, sua postura tão ereta e orgulhosa, o olhar cauteloso sobre ele. Andou na direção dela, incerto se queria enfiá-la em um táxi como fizera com Mike, dar-lhe um chacoalhão pela estupidez, ou colocá-la de joelhos e punir sua bunda pela infração de espionar seu mundo pessoal.

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