Decisions

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 Eu não sabia o que diria á Sasha quando a visse. Não sabia como explicar o que passou por minha cabeça nesses últimos momentos. Não sei se ela deve saber sobre a OSCORP ou sobre mim. 

 Não notei se o Aranha havia visto o meu rosto. Ele era escondido pelo capuz mas, era apenas um capuz. Contudo, eu espero que não. 
 Eu estava frente á porta de Sasha quando Abby abriu-a sem que eu precisasse bater. 
 - Ah! Scarlet. - Disse aliviada enquanto me abraçava forte. - O que aconteceu? 
 - Desculpa. - Murmurei.
 - Ta tudo bem, tudo bem. - Repetia Abby com intenção de me acalmar. - Vem, vamos entrar. 
 Nós entramos e Sasha veio direto em minha direção, abraçando-me. 

 - Sua louca. 
 - Estou bem.
 - Ótimo. - Disse ironicamente. 

 - Você precisa descansar - Disse Abby com uma das mãos em minhas costas. - Vá tomar um banho e se deitar. 

 - Esta bem. - Concordei. 
 Obedeci as palavras de Abby e fui em direção ao banheiro. 
 A água estava mais quente do que aparentava. Imaginei que fosse graças aos efeitos das experiencias, minha pele poderia ter ficado mais sensível também.
 Enquanto meu corpo relaxava sobre a água da banheira, pude ouvir a conversa de Abby e Sasha. 

 - Ela terá de ir a escola! - Afirmou Abby. 

 - Sim mas.... 
 - Ela perdeu um ano todo, não podemos ignorar o fato de ser uma adolescente e ter apenas 16 anos. 
 "16 anos" 

 Lembrei-me que passei meu aniversário dentro de uma mera sala branca. 
 O próximo não deve estar muito longe, faz muito tempo que não vejo a data. 
 - Mas não é hora para isso! - Protestou Sasha - Ela não esta bem psicologicamente, a última coisa de que precisa é stress de colegial. 
 Ambas tem razão. Mas eu realmente não me importo sobre o assunto. 
 Decidi ignorar tal conversa e levantei um dos meus braços para brincar com o gelo que saía das palmas das minhas mãos, porém, ele durou menos de dois segundos antes de derreter.
 Faz sentido, a água da banheira não o deixara completar seu formato. Isso é um tanto quanto perigoso para mim. 
 Enfim me retirei da banheira. Sasha me emprestara algumas de suas roupas já que eu não fazia ideia do que havia acontecido com as minhas. 
 A roupa era perfeita para mim, uma camisa manga longa branca e uma calça moletom preta. 
 Assim que saí do banheiro, já vestida, trombei com Sasha no corredor. 
 - A roupa ficou ótima. 

 Sorri com apenas um lado da boca em sinal de gratidão.
 - Podemos conversar? - Disse Sasha com um olhar preocupado.
 Eu sabia o que Sasha queria, mas evitaria o máximo possível. 
 Não respondi sua pergunta, fui em frente, em direção ao quarto e sentei-me na cama. Sasha me seguiu insistindo: 
 - Vai responder minhas perguntas?

 - Não!? 
 - Por que não? - Indagou Sasha - Você some por um ano inteiro, deixa todos extremamente preocupados, seus pais morrem, você volta depois de todos esses acontecimentos extremamente estranha e ainda não quer dizer o que aconteceu!? 

 Sasha reproduziu todas essas palavras extremamente irritada, porém, eu só pude ouvir: "Seus pais morrem". Isso me deixou um pouco magoada, ou talvez muito. De qualquer forma Sasha tem razão, eu podia mesmo ter evitado a morte dos meus pais.
 - Meus pais morrem e você acha que pode assumir o cargo deles? - Indaguei com pranto em minha garganta. 
 Sasha hesitou, sabia que havia dito coisas que eu não estava preparada para ouvir. Sabia que havia dito coisas que provavelmente me perturbariam.
 Um desconforto enorme surgiu sobre mim. Eu não queria mais estar ali, eu queria sumir para o mais longe possível.
 O mais rápido possível apanhei minha jaqueta com capuz e fui em direção a janela.
 - Scarlet... - Disse Sasha
 Ela não sabia o que eu faria, então repetiu meu nome varias vezes antes de eu pular.
 Rapidamente o gelo formou-se embaixo dos meus pés, como antes. Pude ouvir um último chamado de Sasha antes de me afastar completamente e aterrissar sobre o terraço de um alto edifício cinza. 
 A cidade estaria em silêncio se não fosse o barulho dos carros apressados e agressivos cujo pertenciam a pessoas que estavam tendo um péssimo dia.

 O céu estava nublado, tão cinza quanto minha mente, confuso exatamente como ela.
 Desde todos os acontecimentos com a OSCORP, a raiva havia virado minha melhor amiga, segurando minha mão nos piores momentos e as vezes até nos melhores. Na verdade, ela sempre estava ali.
 - Você ama me seguir não é mesmo? - Disse o Aranha assustando-me.
 - Com certeza sou eu que ama te seguir. - Disse ironicamente evitando virar para trás para que ele não visse meu rosto.
 Ele riu, uma risada confortante e prazerosa de escutar. 
 Ele percebera que eu me escondia, contudo, respeitou essa decisão e não se aproximou o bastante para me ver de frente. 
 - Ta fazendo o que aqui, Ravena? - Indagou ele
 - Ravena, que? 

 - É ué - O ar de suas palavras e o modo como reproduzia cada uma, o deixava bobo. - Você nunca me disse seu nome então... Decidi te chamar assim. Deve ser melhor que o seu nome de verdade. 
 Minha única reação no momento era rir, um riso um pouco abafado pelo pranto e talvez forçado. Porém uma bela reação.
 Uma de suas mãos pesou meu ombro, no mesmo momento abaixei a cabeça e fiz com que o capuz cobrisse meu rosto.
 - Não se preocupe, não pretendo saber quem você é.
 - Ótimo. - Disse com dificuldade graças as lagrimas.
 O silêncio tomou conta do momento quando ele se aproximou ao meu lado.
- O que te aflige? - Disse ele mais uma vez com um ar bobo.  
 Eu queria poder contar á ele, queria poder desabafar tudo e gritar por socorro ao final de cada frase. Mas isso não mudaria nada. 
- Você não precisa saber. 
- Como vou te ajudar se não saber? - Insistiu.
- Não pode me ajudar, nem me conhece! 
- Você conhecia aquele garoto que salvou mais cedo? 
 Isso me fez permanecer em um longo silêncio, pois ele tinha razão. Você não precisa conhecer alguém para que possa se preocupar. 
- Aquele sentimento, eu precisava muito dele agora, sabe? 
 Ele riu mais uma vez. 
- Por que não torna isso oficial? 
- Oficial? 
- É, Ravena. - Ele sorriu ao reproduzir "Ravena" -  Você gosta disso. Gosta da ideia de ser uma heroína e receber aquela gratidão que te faz sorrir a semana toda. Você gostaria de ter tal responsabilidade. 
 Isso me fez pensar.
- Nova York já tem você. 

- É mas o Eu aceita a ajuda e apoia firmemente uma ideia como essa. Afinal, em dois, imagina quantas pessoas poderiam ser salvas ao mesmo tempo. 
 - Você tem razão. 
 - É eu tenho! 
 - Vou pensar nisso, afinal, não quero que ninguém me veja. Preciso de um capuz maior. 
 - Perfeito! Te espero então.  
 Nossas risadas foram sincronizadas. 
 A raiva que eu sentia por ele havia diminuído, afinal, talvez não tenha sido culpa dele, ele só foi o motivo.
 - Ah! - Lembrei - Da onde tirou esse lance de Ravena?
- Os Jovens Titãs em Ação.
- O... que?
- Não enche, Ravena é legal.
 Eu sorri em sinal de deboche.
- Que foi, garota? 
- Nada. - Disse enquanto gargalhava. 
- Não tenho culpa se você não entende, ta? - Disse ele, também em forma de deboche enquanto ria. 

 Eu sorri. 
- Que bom que parou de chorar. - Disse ele brandamente. Dessa vez, sério. 
- Valeu.
 E então nós sorrimos. 
 Ele tem um dom forte de me acalmar, mesmo não nos conhecemos, confio nele. Mesmo tendo um pouco de medo de tal decisão que tomamos ou que pensarei em tomar. Só espero não me arrepender disso, não tenho tanto potencial pra isso como ele.

Ravena (Irá mudar um pouco)Onde histórias criam vida. Descubra agora