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Mila Cromwell

"Você quer açúcar no seu café, Robin?" Eu pergunto enquanto Anne assa uns pães de queijo, um salgado brasileiro que comprou em um mercado latino no final da rua. Anne compra essas coisas direto. Ela jura que é uma delicia e eu estou realmente curiosa para saber o gosto.

"Sim, obrigado." Diz e eu o sirvo.

Harry aparece na cozinha e pergunta se precisamos de ajuda. Anne responde. "Acho que não, filho, obrigada. Você quer café?"

"Não gosto de café, mãe." Diz para ela como se fosse óbvio. Anne abaixa os olhos, como se estivesse triste consigo mesma por não conhecer bem o filho. Não acho que isso seja tão profundo assim, mas ela parece estar chateada por isso.

O som de uma música coreana aumenta e Robin comenta. "Alisson gosta muito dessas músicas, né?"

"Sim." Bufo de brincadeira e coloco leite no meu café.

"Ela é sua irmã?" Harry me pergunta. Eu nem ao menos me pareço com Alison, eu sou branquela e ela é negra. Toda a família do meu padrasto, Roward, é bem mais bonita que eu. Harry realmente não sabe de mais nada sobre mim ou sobre minha vida.

"Ela é filha do meu padrasto." Falo sem dar importância, pegando os pães de queijo do forno.

"Seus pais se separaram?" Harry pergunta, quase como se estivesse assustado. Chega a ser engraçadinho.

"Harry!" Anne briga com ele, como se fosse grande coisa.

"Sim, há dois anos, e ela se casou com Roward há alguns meses." Sei que Harry está perdido por ter deixado os Estados Unidos há oito anos. Essa, entre outras perguntas que ele já me fez, não me incomodou tanto. eu também ficaria curiosa se fosse o contrário.

"Tem que parar de fazer tantas perguntas, filho." Anne fala, reprovando a atitude dele. Não quero que isso cause um problema entre eles.

"Está tudo bem, de verdade." Sorrio e isso parece reconforta-la. Harry fica em silêncio, mas me me olha como se estivesse me agradecendo.

Minha mãe chega ao lado de Louis em nossa casa uma hora depois de comermos os pães de queijo, que por acaso são maravilhosos. Eu ando até a sala e ela me abraça.

Minha mãe é tão elegante com sua bolsa cara. "Voltei! Que bom que já está pronta, eles chegam daqui a pouco."

"Eles já estão aqui, te mandei mensagem." Falo e ela me olha em choque.

"Está brincando?" Pergunta e eu nego, dizendo que estão na cozinha. Ela corre até lá e cumprimenta a família do Harry.

"Recepcionou as pessoas? Alguém aqui está virando mais simpática?" Louis me zoa e eu não nego. Meu humor está um pouco melhor, acho que é porque aceitei que não preciso odiar o Harry, porque talvez ele esteja apenas tentando ser legal.

É claro que não vamos ser melhores amigos e que ainda o acho irritante, mas eu não deveria ter implicado com ele me elogiando. Ele disse que está tentando se adaptar. Por isso, decidi dar uma chance à ele.

Harry aparece na sala com o sorriso de sempre e cumprimenta o Louis. Eles começam a conversar e minha mãe e Anne aparecem na sala. Eu começo a conversar com Robin porque está tão deslocado quanto eu. E quando meu padrasto chega, começa a conversar com ele e eu resolvo esperar o jantar ficar pronto sentada no sofá, mexendo no celular.

Qual é o Instagram do Harry? Todo mundo fala sobre isso e eu nem ao menos sei o que ele posta. Pesquiso seu nome e é o primeiro perfil a aparecer na tela. Ele tem cinco mil e setecentos seguidores? É bem mais que os meus seiscentos e pouco.

Nove fotos. Uma em frente ao espelho, um clássico. Tem duas de paisagens, uma dele com um cachorro, uma em grupo com seus amigos de intercâmbio, e o resto são dele ou na Austrália ou em Londres. Ele tem muitas curtidas e comentários, é tão popular. Talvez realmente tenha se tornado um cara legal.

"Me stalkeando?" Ouço sua voz e sinto a vontade de sair correndo.

Meu coração dispara pelo susto. "Para com isso, garoto! Sempre me assusta."

"Qual é sua foto preferida?" Ele se senta ao meu lado e encosta nossas pernas. Se Harry se sente tão confortável e age com tanta intimidade comigo que mal o conheço, imagino como age com outras garotas pelas quais ele se interessa.

Engulo em seco e falo qualquer uma. "Essa da praia."

"Só por que estou sem camisa? Danadinha você." Ele fale fala brincando e muda drasticamente de assunto. "Queria te agradecer por ter me defendido para a minha mãe. Eu realmente faço muitas perguntas e não penso muito antes de falar... E fico feliz que você não ficou chateada por eu ter perguntado sobre o divórcio."

Isso foi... Legal? É, eu achei legal que ele tenha vindo me falar isso.

"Está realmente tudo bem." Sorrio e ele estranha. "O que foi?"

"Ficou estranhamente legal comigo de repente. Foi a referência à Harry Potter que te conquistou ou era sua gêmea malvada que estava no quarto?" Ele sorri de canto e arruma seu cabelo. Ele sabe o quanto fica bem fazendo isso?

"Bem, talvez sua referência tenha conquistado a gêmea do mal porque ela continua aqui." Decido ser agradável.

Isso que eu disse faz Harry morder o lábio em um sorriso, se ajustando no sofá "Bem, ela é tão bonita quanto você."

Eu rio, negando. Harry volta a falar. "Vejo que ainda não curte muito os elogios. Talvez tenha alguma outra gêmea que goste?"

Ele sabe que é atraente. Ele sabe.

"Eu gosto dos elogios, Harry, só fico desconfortável porque é estranho vindo do garoto que espalhou para toda a sala que eu tinha um vírus mortal e fez com que ninguém quisesse ser mais meu amigo e nem chegar perto de mim." Eu falo e Harry gargalha.

"Isso faz muito tempo! Não lembra quando colou um chiclete no meu cabelo? Eu até tive que raspar a cabeça. Você também não era santa."

"Você era bem pior que eu." Me defendo, achando tudo isso bem divertido.

"De jeito nenhum!" Ele sorri e para e pensa um pouco. "É, eu era pior mesmo."

"Viu?" Rio.

"Mas eu mudei, eu juro. Queria que visse isso." Ele me encara nos olhos e eu desvio a vista para outra coisa.

"Estou fazendo isso, estou sendo mais legal agora. É só... Estranho que esteja aqui." Admito.

"Eu sei." Encolhe os ombros e pega em seu celular, e a conversa morre.

R.E.M - HSOnde histórias criam vida. Descubra agora