Capítulo 10 Mestre e Aprendiz

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CAPÍTULO 10

Mestre e aprendiz

Alguns meses passaram e Christian permanecia no bosque vivendo com Élmig. O velho alquimista começara a lhe ensinar algumas coisas. Além de seu vasto conhecimento sobre química e alguns feitiços, ele era alguém de exímia sabedoria. Christian estudava suas poções e métodos de transformações elementares com muito empenho, embora não tivesse a mesma disposição todos os dias. Os dois começavam a se conhecer e entendiam-se melhor, talvez na tentativa de suprir o vazio que cada um tinha em si. O jovem aprendiz percebia a importância do conhecimento e virtudes repassadas pelo alquimista, por este motivo empenhava-se tanto. Talvez em sua mente lembrasse do bom homem que foi seu pai e tentasse lhe imitar os passos e de alguma forma ser um motivo de orgulho. Porém, conhecimento não é tudo o que eles precisavam para sobreviver. Élmig estava um pouco velho para caçadas então restava à Christian a missão de caçar a refeição todos os dias. A princípio foi um grande desafio e não poucas vezes tiveram que comer apenas frutas. Posteriormente o jovem caçador foi adquirindo habilidade e experiência.

Certa vez, em suas primeiras caçadas, Christian estava à espreita de um javali, aguardando o momento exato para cravar sua afiada flecha. O animal estava próximo à um riacho. Este era um grande desafio para Christian. Literalmente grande, por que até então o maior animal que caçara havia sido um coelho.

O javali percebeu a presença de Christian e enfureceu-se. O menino correu sem saber como reagir. "As caças costumam fugir, e não me caçar!" pensava enquanto rapidamente corria. Naquele momento começava uma grande caçada, mas não era possível saber quem estava caçando quem. O furioso animal perseguia Christian em todas as direções, este só sabia correr e pedir perdão para o javali que não entendia uma palavra. Em dado momento o garoto conseguiu distanciar-se consideravelmente do animal enlouquecido. Foi então que avistou e subiu em uma arvore que estava um pouco mais à frente em sua direita. Mal subiu e lá já estava o javali aos pés da arvore tentando trucida-lo. Naquele dia, Christian passou toda a manhã e tarde na arvore até o insano javali ir embora. Ao chegar na cabana em que vivia com o velho e contar-lhe a história, esperava ouvir uma boa reclamação, mas ao invés disso ouviu apenas boas gargalhadas de Élmig que estava a imaginar a cômica cena do javali correndo atrás de Christian. "Há muito tempo não ouvia uma boa história assim!" dizia o velho aos risos.

O aniversário de Christian estava próximo. Ele completaria seus 13 anos, os quais, pretendia passar com sua mãe que há muito não via nem tivera notícias.

_ Vou procurar minha mãe! _ disse Christian para Élmig.

_ Acha que já está pronto? E se alguém ou algum guarda te encontrar? Você sabe que irá para uma detenção e que não será tão fácil sair como a primeira vez!

_ Tenho que tentar! E se ela estiver me procurando?

_ Bem. Não tenho muito o que opinar, até porque a decisão é sua. Então, é você que escolhe.

_ Está bem. _ disse Christian.

_ Quando pretende ir? _ perguntou Élmig.

_ Amanhã mesmo.

_ Irei com você! _ Christian olhou para o velho alquimista surpreso.

_ Por que?

_ Só para garantir que ninguém te siga ou capture.

_ É, acho que é melhor assim. _ disse Christian pensativo. _ No caminho você pode me contar uma daquelas suas histórias de guerreiros, magos e essas coisas.

_ Então vamos organizar algumas coisas para a viagem. Se lembre que serão dois dias de caminhada.

No restante do dia organizaram algumas coisas e cozeram uns poucos alimentos para a jornada que teriam. Christian estava ansioso para reencontrar sua mãe. "Espero que ela esteja melhor!" pensava ele lembrando-se da doença de sua amada mãe. Élmig não conhecera a mãe do menino mas soube de sua doença pelas histórias que tinha ouvido, por esta razão, sabia que ao chegar em Bonjardin, não deveria esperar apenas por boas notícias. A noite chegou e logo foram dormir. Pretendiam acordar cedo para partir o quanto antes. Élmig dormiu muito bem, a julgar pelos grandes e estrondosos roncos. Mas para Christian que estava acordado, a noite parecia sem fim.

Ao amanhecer, o velho levantou-se e logo viu que o dejejum estava pronto e Christian estava de pé.

_ Acordou cedo hoje! _ exclamou Élmig com satisfação ao ver o dejejum pronto.

_ Na verdade não dormi.

_ Christian, não fique tão ansioso. Não quero ser pessimista nem desanimá-lo, mas você deve esperar por tudo, desde o pior até o melhor.

_ Eu sei disso. _ respondeu Christian desviando o olhar.

_ Espero que saiba mesmo.

Logo após o dejejum partiram em sua caminhada. O velho seguia com seu cajado, já que sua bengala havia queimado no incêndio de sua antiga casa, e uma trouxa que continha uma troca de roupa. O menino carregava todo o restante; comida, algumas ferramentas, suas roupas e uma pequena caixa que pretendia entregar como presente para sua mãe. Os dois estavam calados, cada um olhava para um lado da estrada que estava deserta e assim permaneceram nas primeiras horas de viajem.

Em dado momento Christian falou para Élmig.

_ Por que você não conta uma história?

Élmig olhou para o garoto e ficou alguns minutos pensativo, talvez imaginando que história contaria. Então começou a contar.

Certa vez, existia um grande e poderoso guerreiro. Ele vencia qualquer batalha e era mais poderoso do que qualquer já tinha sido. Todos o respeitavam e o admiravam pela sua força e bravura. Mas ele possuía um defeito que apenas uma pessoa conhecia. O orgulho era esse defeito.

_ É errado ter orgulho mestre? _ indagou Christian.

_ Não. Claro que não. Pelo contrário, devemos ter orgulho. Nos valorizar. Mas uma coisa que você tem que aprender é que qualquer coisa, por melhor que ela seja, em excesso, não trará nada de bom para você.

_ Entendo. Mas quem era a pessoa que sabia disso? _ disse Christian pensando no que acabara de ouvir.

_ Apenas o rei sabia. Ele era alguém muito observador e havia percebido em alguns detalhes o defeito do guerreiro. Mas o defeito até então não era maior que suas qualidades. Foi então que o rei decidiu colocá-lo como general do exército. O guerreiro ficou muito feliz e isso o incentivou a se esforçar mais. Eram tempos de prosperidade e paz em todo o reino. Todos viviam felizes e seguros. Aos poucos, o agora general, deixava seu orgulho tomar conta de si. Começou dando todo o mérito das batalhas ganhas a si. Depois, humilhando qualquer um que falhasse. Após alguns tempo, ele exigia que todos se curvassem diante dele, algo que só o rei poderia exigir. É claro que o rei, observador e informado como era, já sabia dos acontecidos. Foi então que general tomou uma decisão que acabaria consigo. Ele decidiu que de alguma forma seria o novo rei.

_ Que ingrato! Logo o rei que pôs ele como general! _ exclamou Christian.

_ É verdade. Aconteceu uma rebelião, mas nada que o rei não pudesse controlar. O rei julgou todos os envolvidos e os declarou culpados.

_ Todos morreram?

_ Não. O rei era um bom homem. Então ele os expulsou do exército e do reino para que vivessem suas vidas em outro lugar.

_ Eu não teria feito isso. Acho que no mínimo deixaria o general preso por toda a vida. Mas acho que o rei devia saber o que estava fazendo. Essa é uma história triste.

Aquele dia passou e restava ainda mais um dia de caminhada. Quando a noite caiu, entraram alguns poucos metros mata a dentro e armaram uma pequena barraca para se abrigarem. Ali continuaram a conversar, fizeram uma fogueira e comeram um belo ensopado que já haviam preparado antes de sair de casa. A noite estava estrelada. Em seguida dormiram, imaginando como seria o próximo dia e a chegada em Bonjardin.

CAROLLINEOnde histórias criam vida. Descubra agora