Desmistificada

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Aquelas mãos grossas violaram seu corpo feminino, tirando sua magia, afastando-a de cada ente vivo ao seu redor, tornava-se domesticada, seguidora. E o homem, com seu falo e prepotência, por seus poros esgueiraram-se, conquistadores, romperam nela o selo da Mãe, e ali dentro depositaram milhões de chances, era preciso muito do homem para conquistar uma mulher, tê-la para si. E na relva deitou-se Asial, regozijada, com a maçã do rosto corada, e os mamilos duros, sensíveis ao toque persuasivo das mãos do príncipe. O sexo era, por tudo que dele não falavam, um ato nada extraordinário, simples balançar de corpos reprimidos, e por fim, extasiados. Ninguém sabia os rumos a se tomar. O príncipe se satisfez e, instantaneamente, vieram-lhe a cabeça suas responsabilidades para com seus súditos, seu pai, a Rainha, e as moçoilas, a moça ali deitada haveria de compreender seu chamado. E por entre os arbustos que pareciam mais afiados, ele escapou, levando da floresta uma irmã, e deixando caída uma fruta provada, e de seu suco, agora provado, restava o azedume, continuo e silencioso.

- Leafar? Príncipe Leafar? Para onde foi meu querido?

E apenas as aves e os insetos a respondiam, assim como o vento que sussurrava em seu ouvido aquela sentença. Asial caiu aos prantos, arrependida e coisificada, fora então só mais uma na vida daquele homem, seus encantos e talentos, que julgava superiores, eram incapazes de seduzir um príncipe. Restaria a ela a vida ordinária, aceitando a ofensiva de um plebeu, e a posição de esposa, mãe e dona do lar. Quão parcos minutos trouxeram-na a isto? Para o príncipe horas, e a grama pouco se recurvara.

- Eu a tudo assisti minha filha. E confesso que já me canso de tais cenas. Quantas mais serão de meu ventre roubadas diante de mim? E eu incapaz de protegê-las, de me indispor com o homem? Hoje sinto-me tão fraca, incapaz de movimentar grandes enxames ou catástrofes, resta-me os pequeninos seres que pelo mundo habitam desconhecidos. Sou eu escrava da menor forma de vida.

- Me diga, Senhora. Se sabia que isto me ocorreria, por que permitistes então? Não há nada que possa fazer para aliviar o coração desta sua pobre filha?

- Sois vós donas de vossos destinos, eu a abracei e acolhi, mas me renegaste por um sentimento muito do humano. Agora temo que terás de provar todos os demais feelings por ele apresentado. Mas não se esqueça, a Mãe te ama, a ti e as prostitutas.

E sumiu, o vento voltou a ser mudo, os galhos secos e duros, e as folhas pontiagudas. Até mesmo os animais fugiam dela, e os mosquitos de seu sangue se alimentavam, causando pápulas pruriginosas em suas partes desnudas. Não mais se sentia parte da natureza, precisando dominá-la ao seu conforto. Retirou-se dali em meio às sombras, enquanto corria construía uma máscara de remorso e infelicidade, a incredulidade gritava no centro de sua cabeça, tão enraizada e ancestral. Dava costas ao puramente seu para conquistar com garra um espaço menor naquela sociedade.

PredadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora