E com a outra se tira... Vagarosamente

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Os servos se acumulariam com o tempo, o alquimista e seu filho, o dono da loja de tecidos e seu cunhado, os enfeitiçados das ruas que cruzavam seu caminho. Aos poucos os homens eram fisgados por aquele encanto, ludibriados por ela passavam o tempo a espreita da sua chegada, sempre sorridentes e bobalhões. As esposas e donzelas a odiavam em silêncio, Asial comportava-se perante a sociedade, não permitindo que a denunciassem, ou fazendo com que mexericos chegassem aos ouvidos de sua família. Apenas tornara-se formosa em excesso, desabrochando doce e suculenta. Ainda na volta para a cidade, desviava das insinuações do cocheiro, afastando-se dele sempre que suas pernas se tocavam. Mas o pobrezinho não desistia, o desejo impulsionava suas investidas, cegando sua compostura. E então no vento fez-se audível uma voz conhecida, "deite-se com ele, deite-se com todos eles", dissera ela entre pios de coruja. E a voz não mais se discernia de uma alucinação auditiva de um doente mental. Pouco tempo restava à moça, logo adentrariam os limites do reino, e as ruas encher-se-iam de vida, e olhos curiosos. Ao mesmo tempo refugiava-se em um conflito, alardeando-o pela inconstância das mãos, não desejava aquele homem, sentia repugnância em imaginar seu órgão penetrando-a, mas havia o compromisso com a Mãe, e com todos os que com ela contavam, uma promessa maior do que qualquer sacrifício. Entregar-se-ia a ele, em silêncio, como única forma de protesto e demonstração do livre arbítrio remanescente. E a mão dele pousou em seu joelho, permanecendo ali por alguns minutos, notando que ela não se esquivara, ousou mais e subiu para a coxa, Asial apenas mirava os pés, o rosto em brasa, envergonhada de sua posição.

O homem tentara um flerte, mostrar-se romântico, mas logo viu que não precisaria esforçar-se para tê-la em seus braços peludos. Não mais falou, ou agiu com delicadeza, procurava os lábios, expondo a virilha da moça. Os cavalos parecendo compreender as intenções do dono, deslocaram-se para a sombra de uma árvore nas mediações da estrada e ali permaneceram, pastando e olhando a Lua, cúmplices de ambos os lados.

Satisfeito, seguiram o caminho, o silêncio imperou, e as nuvens vieram em boa hora, impedindo que a luz iluminasse as poucas lágrimas que rolavam pelo rosto da menina. O encanto de outrora não mais existia, e o cocheiro tampouco sentia-se obrigado a cumprir com a promessa de deixar a moça na porta de casa. Deixou-a na periferia, com apenas um "Fique bem" e rumou para casa, esfomeado, de lá partiu para o cabaré, onde julgava ser a moradia das mulheres de verdade.

PredadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora