A nova roupa do Imperador

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O pai de Asial foi despertado pelo chiar da fritura no andar de baixo, verificou então que a esposa ao seu lado não mais se encontrava, o seu habitual. Ao menos agora voltavam a dividir a mesma cama. O frio e os três cobertores prendiam-no ao colchão, embora a paternidade também o chamasse. Decidiu ficar ali mais alguns minutos, enquanto a mulher não terminasse o café e viesse o acordar. Mas a mulher não veio, do contrário, seguiu para o outro lado, trazia consigo a refeição, que lhe abriu o apetite. Eram ovos, novamente, talvez tivesse que comer algo a caminho do trabalho. Buscava em si inspirações para levantar quando alguém bateu a porta da casa, e os passos ligeiros da esposa desceram os degraus, do banheiro ele reconheceu uma voz fina e melosa, em tanto mel escondia-se uma víbora, pensou. A vizinha viera especular sobre o que vira na noite anterior. O pai urinou e saiu do quarto, precisava checar se a filha estava bem, atravessou o corredor com os pés arrastados, bocejando e coçando os pesados bagos, logo teria de urinar novamente, constatou. Ao abrir a porta, no entanto, deparou-se com algo inimaginável, a filha encontrava-se nua, e o encarou com olhos vazios. Há quanto tempo não à via assim? E se perdeu pela atração que agora dominava a moça e todos os homens.

Asial já se encontrava acordada quando a mãe primeiro abriu a porta, mas preferiu fingir um sono pesado, não sabia como se portar, e tampouco estava pronta para uma discussão aquela hora do dia. Quando ela retornou trazendo o café, contudo, obrigou-se a se levantar, a mãe lançou-a um olhar de desaprovação e a menina cobriu-se com o tecido. A senhora então cruzou o quarto até a cadeira e pegou as roupas ainda intocadas, entregando-as a filha. Logo em seguida as batidas na porta fizeram-se constantes, e por mais que a menina lançasse olhares imploradores à mãe, esta desceu ao encontro da sociedade. Estava faminta, e exalava um cheiro estranho, talvez fosse só o mofo da mobília, imaginou, nada que interrompesse suas mãos de levarem o alimento à boca, de uma vez, sem modos ou etiqueta. Não ficou saciada, o gosto da fritura estimulava a salivação, queria mais, e pensar que por longos períodos de tempo privou-se de comidas assim. E então a figura do pai fez-se presente.

Em alguns instantes inúmeras emoções e pensamentos tomaram sua mente, seria a Rainha tão sádica a ponto de permitir que até seu progenitor se sentisse atraído por ela? Seu estômago se revirou, estava envergonhada por encontrar-se naquele estado perante o pai, e com raiva de si por causar aquele efeito em alguém que ela tanto amava e respeitava. Mas era ele simples peça de um vasto tabuleiro sem concessões, sem família, onde todos os vilões eram postos de um único lado, sem escolha, sem distinção ou grau de perversão. Asial o encarou, e em seus olhos viu o desejo, assim como na calça de flanela. Não suportaria um assédio, escondeu-se tapando o possível do corpo, mas ele avançava enfeitiçado, com uma das mãos estendidas em sua direção e a outra perdida a meio caminho do pênis.

- Pai o senhor pode sair até eu me trocar, por favor?

Ele continuou no mesmo frenesi, como se as palavras da garota dissessem o que ele almejava escutar. As palavras da garota, desta garota, mas quem seria essa garota que se exibia nua para ele em sua própria casa, e gesticulava com os dedos sobre seu clitóris, enquanto revirava os olhos de prazer e gemia gostoso, como nunca antes uma mulher gemera para ele?

- Pai, não quero que o senhor me veja neste estado.

E os olhos dela o provocavam, e seu corpo o convidava, trazendo ao velho pênis uma vitalidade já perdida, como era lindo o corpo daquela menina, talvez estivesse sonhando, sim, estava em mais um dos seus sonhos eróticos, e desta vez não era a filha do padeiro ou a vendedora de cocada que se despia para ele. Estava ali a mulher mais apetitosa que seu cérebro poderia criar, perfeita, e tão real ao toque, macia, ainda que sua pele estivesse gelada e coberta de tremores. Está tremendo de prazer, minha querida? O papai vai fazer parar.

- Pai o senhor está me assustando!

As mãos do velho percorriam as panturrilhas da filha, atento a cada toque, demorando-se nela. O homem tinha uma expressão de sofrimento doloroso, como se recusasse a acreditar no que lhe acontecia.

- Mãe! Mãe! Mãe!

Asial não mais sabia por qual das mães clamava, ao mesmo tempo em que desejava que sua progenitora irrompesse a porta e afastasse o marido dela, também ansiava pela intervenção mágica da Rainha, que fizesse aquela provação se interromper, dando a menina aquela sensação de plenitude experimentada na mata, sem sofrimentos e amarguras, sem pretensões ou fracassos.

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