Capítulo 7 O dia da tempestade

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Todos os dias de manhã cedo, antes mesmo de amanhecer Ernesto regressava à Nazaré junto com os outros pescadores com o peixe fresco para a lota.

O mar nem sempre era generoso, mas quando era, vinham felizes, o dia estava ganho, era só deixá-lo na lota e vender fresquinho.

Quando as redes eram lançadas, nem sempre sabiam o que de lá viria, a sardinha era o peixe mais procurado, mas os robalos e mesmos a pescada também eram bem-vindos e muito ansiados.

O mar da Nazaré era conhecido por ser um mar perigoso, quantas vezes não tinham já salvo algum banhista mais aventureiro e que tinha tido a sorte de encontrar um barco de regresso à praia nos meses de verão.

Do que se lembrava, Ernesto já tinha perdido a conta às vezes que tinha partido e regressado.

Naquela madrugada havia um presságio, mar muito calmo, podia muito bem e depressa transformar-se em mar revolto de uma hora para a outra.

Naquele dia, partiram como sempre e lançaram as redes ao mar, mas os ventos começaram a soprar com mais força e tudo à volta se transformou.

A ondulação era forte, as ondas começaram a ser gigantes e o balouçar do Esperança começou a tornar-se instável.

Nada que não se tivesse já passado, mas no meio do mar, uma luz azul claro surgiu no meio quase como uma luz ofuscante. Os pescadores começaram a sentir medo nunca tinham vislumbrado nada assim.

Parecia o canto da sereia, a luz era brilhante, e o cheiro era diferente da maresia a que já estavam acostumados.

O Esmeralda debatia-se ferozmente contra aquela ondulação forte, a água entrava no convés e depressa recolheram as redes que de pescado não trazia nada.

Pensaram em regressar o mais depressa possível. Mas, no meio daquela decisão repentina e sábia, uma onda mais forte tomou conta do Esmeralda e a embarcação começou a andar à deriva. Perderam-lhe o norte e já não sabiam em que direção seguir.

Embora conhecedores daquelas águas, aquele fenómeno estava a ser diferente de tudo o que já haviam vivenciado.

A onda tombou a embarcação. Ernesto agarrou-se à boia de salvação, mas outro colega não teve a mesma sorte e foi simplesmente engolido pelo mar, para dentro daquela luz forte e clara que tinha surgido como um remoinho.

Arriscar tanto para ganhar tão pouco nem sempre valia a pena o risco.

A chegada a terra foi negra como a noite que ainda se fazia sentir. Gelados e apavorados, deitaram-se sobre a areia e pensaram naquele companheiro que tinha perecido e como iriam dar a notícia à família.

Ganhando forças não se sabe bem de onde, ergueu-se da areia molhada da praia e foi até casa da família lesada e com ar pesaroso deu a tão temível noticia para qualquer família de pescadores.

Depois regressou a casa, abraçou a sua Maria, o filho ainda pequeno e chorou todas as lágrimas que tinha guardado em alto mar.

Maria consolou-o e disse-lhe que em terra se tinha sentido um pequeno tremor de terra, no mar a onda só podia ter sido consequência disso mesmo.

- Meu belo marido, que me ia ficando no mar, a Senhora da Nazaré irá prover por nós, se não ficaste lá foi porque não tinha que ser. – disse Nazaré chorando.

Nos dias seguintes, ficou taciturno e pensativo sobre a sua vida. O Esmeralda tinha dado à costa, mas estava seriamente danificado.

O pai e ele começaram os trabalhos de reparação, mas Ernesto tinha ficado com medo e a lembrança daquela luz forte tinha-o amedrontado.

Seria um presságio para mudar de vida?

Pensou em algo maior e foi quando começou a ouvir falar na Terra Nova e em como se ganhava bem para quem lá ia.

Foi informar-se e ficou entusiasmado, a Terra Nova nem sabia onde ficava, mas porque não informar-se melhor sobre o que era e o que faziam lá?

***

- E você foi saber como era a Terra Nova? – perguntou-lhe Ricardo.

- E o que lhe disseram?- perguntou Ricardo.

- Que era uma grande aventura. E eu pensei que era o melhor que eu tinha a fazer. O Esmeralda estava quase desfeito, o meu pai inconsolável e precisávamos de dinheiro. Parti para aquela aventura.

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⏰ Última atualização: May 15, 2016 ⏰

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