Demigods: Filho das sombras.

Minha conversa com o velho cavalo

Mais um sonho. Desta vez, diferente dos que eu sempre vinha a ter, este parecia ainda mais sombrio.

A escuridão reinava. Havia um vasto campo, onde inúmeros corpos humanos estavam jogados, como se estivessem mortos. No céu, a lua brilhava, mas não em seu tom prateado, era um vermelho sangue. No centro do campo, uma silhueta vagava sozinho por entre os corpos. Por um tempo, tentei distinguir quem seria aquele ser, mas não pude. O solo estava banhado de sangue, e do mesmo uma voz sonolenta surgiu.

- Escórias...

Em meio toda aquela escuridão, outras duas vozes ecoavam, uma feminina e outra masculina, falavam e um uníssono.

- Mortes...

E por fim, uma última voz vinha daquela lua vermelha. Era um timbre difícil de se distinguir, afinal, ele falava como em um couro de vozes juntas.

- Novo mundo.

Acordei assustado, dando de cara com uma garota, que se assustava ao me ver. Ela parecia me observar a algum tempo, e eu não fazia a menor idéia do que estava fazendo ali. Até onde eu me lembrava, estava com Catherine e aquela outra garota estranha, descendo uma colina em direção a uma velha casa de fazenda. Se eu havia desmaiado, não tinha certeza. E então do nada acordava em um recinto que eu nem sabia como havia chegado ali, e pior ainda, tinha uma garota me observando.

- Que lugar e esse? Onde está minha irmã? - Perguntei olhando em volta.

Era um quarto grande, com varias camas, ou melhor, macas de hospitais. Estava vazio, sem contar com minha presença e a da garota, que agora se encolhia em um canto da parede, escorada com as bochechas ficando vermelhinhas.

A menina tinha a pele clara, um tanto bronzeada, com o rosto cheio de sardas, e o cabelo longo, em um ruivo intenso. Devia ter uns 14 anos, e a julgar por sua altura, ela era bem baixinha para tal idade. Seus olhos castanhos penetraram os meus, e eu me vi obrigado a olhar para o outro lado. Em toda minha vida, pouco contato com outras crianças eu tive, e para mim, era complicado estar na presença de qualquer outra pessoa que não fosse minha irmã.

- Aqui e a enfermaria. Você desmaiou por um tempo, como acontece com todos que chegam aqui. - Ela falou. Sua voz era fina, e um tanto irritante, porém eu podia perceber que um grito que ela desse, seria capaz de deixar alguém surdo.

- Minha irmã, onde ela está?

Eu não me importava realmente em que lugar estávamos, bastava apenas me dizer onde Catherine estaria.

- Ela está bem, e o espera para conhecer Quíron e o Sr. D. Se estiver tudo bem com você, posso te levar até eles. - Voltei a fita-la, e percebi que ela já estava deixando o quarto, como se me obrigasse a segui-la.

Desci da cama, e quase não pude me equilibrar. Estava tonto, e principalmente fraco. Não entendia bem o que estava acontecendo, mas mesmo assim me forcei a segui-la. Quando deixei o quarto, um clarão vindo do sol batia em meu rosto, e me desequilibrando, caia com o traseiro no chão.

A garota que já estava a caminhar alguns metros a frente, e ao me ver, voltou correndo até mim.

- Droga, esqueci disso.

Ela tirou de uma bolsinha, que estava em sua cintura, presa ao seu shorts, uma flor.

- Aqui, coma!

Olhei para ela como se estivesse louca, porque eu iria comer uma flor? De certo modo, por fim, acabei pegando a mesma, dando uma mordida naquelas pétalas roxas. O sabor me surpreendeu. Tinha gosto de lasanha, do mesmo tipo que Catherine sempre fazia para mim nos domingos. No mesmo instante, queria mais da flor, meu corpo estava revigorado, e eu sentia que estava pronto pra outra. Afim de dar mais uma mordida naquela flor, a menina a tomou de mim, guardando a de volta em sua bolsa.