no banheiro

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Sinto água escorrer pelas minhas bochechas, sinto a água caindo em mim, lavando meu rosto junto com as lágrimas. A esse ponto não sei mais o que é água do chuveiro e o que saiu dos meus olhos.

A imagem dela gritando passa novamente pela minha cabeça, jogando o objeto de madeira no chão, quebrando-o. Sua voz e seu rosto explodindo de raiva, e uma pequena parte da contribuição para isso foi eu. Fui eu que dei o empurrão para ela ficar assim, da mesma maneira que seu acesso de raiva como nunca tinha visto foi o pequeno empurrão para que eu fique chorando desse jeito.

Mesmo com a água caindo em mim, meu rosto insiste em esquentar e os soluços voltam. Tiro a minha cabeça do chuveiro e o desligo, encosto na parede do box chorando incessavelmente por tudo que tem acontecido. Me lembro das outras vezes que chorei assim: duas vezes foi aqui em casa, sendo que uma eu estava jogada no chão de meu quarto e outra foi na sala, também no chão e a terceira vez foi na escola enquanto conversava com uma tia da escola.

Sinto minhas costas deslisar sob a parede até que minhas nadegas nuas encoste no chão frio do box, me encolho abraçando as minhas pernas, desejando ficar tão pequena a ponto de sumir. Escondo a cabeça entre as pernas e fecho os olhos por um longo tempo e deixo meus pensamentos me guiarem novamente. Cada motivo que me fez chorar assim foi completamente diferente do outro mas todos têm algo óbvio em comum: eles reúnem vários sentimentos dentro de mim, fortes o suficiente para me atingir mentalmente. Levanto a minha cabeça e olho para cima, para o chuveiro; parece tão alto e inalcançável visto daqui, parece que está a quilômetros de distância... será que é assim que as pessoas desse tamanho veem as coisas? Será que era assim que eu via?

O choro passa, mas a sensação deprimente ainda está aqui comigo me fazendo compania. Penso que o que me fez ficar assim, fez ela ficar com raiva: dois sentimentos negativos contrários mas que podem tornar-se a mesma coisa. Dessa vez, olho para a torneira do chuveiro. Lembrando-me de uma frase que uma vez li em algum lugar, não lembro onde. "A dor precisa ser sentida". É isso que estou fazendo nesse exato momento, estou me permitindo sentir tudo o que é para sentir, uma espécie de desabafo comigo mesma, estou sentido a dor em vez de reprimi-la como costumo a fazer.

Acho que agora já estou pronta para levantar e sair daqui do banheiro. O meu acesso terminou e é isso que eu queria: ficar no banheiro até que terminasse. Crio coragem para me levantar, abro novamente o chuveiro para tirar a friagem de minhas costas. Depois, saio do banheiro. Pronta para enfrentar o gelo que está entre mim e ela depois do que aconteceu.

E a vida continua...
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Acho que nem preciso falar muito sobre isso, né?
DICA: Quando você estiver passando por um momento muito complicado e quiser chorar até desidratar ou sair berrando, faça. É o melhor jeito de se livrar desse sentimento, reprimir só vai piorar... ah, outra opção é escrever sobre o que está te encomando, a mão de preferencia porque é bom desacarregar tudo o que está sentindo através da maneira que tá escrevendo OU simplesmente rasge um papel como quiser: com a boca, com uma tesoura, com os dentes. Outra maneira é contar o que aconteceu pra alguém...

Enfim, encontre uma maneira de descarregar a emoção, se não ela pode ficar te torturando. Isso já aconteceu comigo, fiquei muito muito tempo sem fazer isso e fiquei muito sobrecarregada a ponto da minha cabeça explodir.

Ciau!

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