Capítulo 7 - Me ajude

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Eu não sei o que está acontecendo. Tudo está indo tão rápido. Meu mundo está de cabeça para baixo. Passo a maior parte do tempo no meu quarto, trancada com Chelsea. Meu pai em vez de ser nosso aliado se tornou um inimigo, e eu não quero mais batalhas. Percebo que em vez de estarmos caminhando para frente, estamos regredindo. Não só meu pai com os seus surtos, mas toda a casa. Sinto-me péssima, sem ânimo, sem alegria. Não sei o que será de Chelsea e eu. Até quando isso vai durar?

Meu pai passa a maior parte do tempo bebendo, fumando, coisa que nunca fez, falando sozinho e quebrando coisas. O trabalho que o Sr. Harrison deu? Faz tempo que não dá as caras. E o meu colégio? Também nunca mais fui. Não sei o que fazer. Está tudo confuso. Não tenho a quem recorrer, um parente para pedir socorro, nada.

Ele já está fora de casa de novo. Passa o dia fora fazendo besteiras e volta à noite para me fazer chorar de raiva. Eu vou fazer alguma comida para Chelsea e eu comer, só é nessas horas que ele sai que eu sinto um pouquinho de paz. O telefone tocou.

- Alô? - perguntei.

- Amberly? Sou eu, Sr. Harrison. - respondeu animado.

- Olá Sr. Harrison. Como vai? - perguntei demonstrando toda a minha falta de ânimo.

- Eu vou bem, mas aparentemente você não. - ele falou com um ar preocupado. - Cadê o seu pai? Como está você? - ele perguntou.

Bufei. - Meu pai? Que pai? Eu não tenho pai. Eu tenho um parente. E por isso estou péssima. - respondi.

- Você quer que eu vá visitá-la? Na verdade você está me prometendo um jantar. - Harrison riu.

Ri. Era verdade, com tanta coisa, tinha me esquecido. - Oh meu Deus Sr. Harrison, é verdade. Perdão. Pode vir, começarei a preparar a janta agora mesmo. Pelo menos terei a compania de um bom amigo. - ele não viu, mas do outro lado da linha me peguei sorrindo.

- Então ótimo. Em uma hora chego ai. Aproveitamos e conversamos um pouco, você poderá desabafar. Acredito que as coisas estão piores do que imagino. - ele disse.

- É verdade. Bom... Vou arrumar as coisas. Vejo o senhor em uma hora? - perguntei tentando esquecer um pouco a raiva e a indignação.

- Sim. - respondeu contente.

- Ok então. Tchau Sr. Harrison. - disse.

- Tchau minha princesa. - se despediu.

Eu comecei a preparar a tal janta. Preparei uma macarronada e um pudim, como prometi. Estava ansiosa para ver o Sr. Harrison. Fazia já algum tempo que não o via. Lembro-me de tê-lo visto no enterro da mamãe, ele estava lá comigo. Meu pai ficou de canto, não fez muito contato comigo nem com Chelsea. Tenho muito que falar. Muito que colocar para fora. É tanta tristeza. Mesmo rindo às vezes e brincando. Dentro de mim, minha alma está ferida e angustiada. Eu gostaria de ver o Sr. Harrison e dar boas notícias, me divertir, conversar. Não contar minhas desgraças. Mas eu preciso contar tudo o que estou sentindo a alguém, preciso muito tirar isso do meu coração.

Chelsea está na sala brincando com algumas bonecas e assistindo televisão. Lembrei-me de quando era uma criançinha como a Chelsea, e que não precisa me preocupar com muita coisa, a não ser fazer as tarefas da escola e ser feliz. Agora cá estou eu. Olhei para o relógio da sala. Nossa, já se passou uma hora, eu nem percebi. Ouvi alguém bater na porta. Fui abrir.

- Sr. Harrison! - disse animada e o abracei. Ele retribuiu o abraço passando a mão nos meus cabelos.

- Como você está? - perguntou-me ainda no abraço.

- Me sentirei melhor depois desse jantar. - respondi.

- Assim espero. - ele falou. Afastamos-nos do abraço. Ele entrou e eu fechei a porta.

- Onde está o seu pai? - Sr. Harrison perguntou-me olhando para os lados.

- Eu também gostaria de saber. - respondi cruzando os braços e de cabeça baixa.

- Bom... Pelo menos poderemos conversar a sós. - ele disse em quanto ia em direção a Chelsea a pegando nos braços.

- Realmente. - eu disse descruzando os braços. - Preparei uma macarronada. Acredito que o senhor esteja ansioso pelo tal jantar. - sorri.

- Ah, com certeza! - me seguiu em direção a cozinha.

Eu me sentia bem. Era um bom amigo. Às vezes eu me sentia esquisita, algumas olhadas diferentes dele, mas deveria ser coisa da minha cabeça. Eu gostava da sua companhia. Conversamos sobre boas coisas, notícias do país, rimos. Quando Chelsea dormiu, finalmente eu pude expressar toda a minha dor. Levei-a para o quarto e desci rapidamente as escadas correndo para um abraço. Chorei. Eu não aguentava mais. Eu preciso de ajuda. Preciso de socorro. Por favor!

Além da Coroa (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora