Eu me encontrava afogada em lágrimas. Pude sentir um grande aperto no meu coração. Eu estava farta. Já bastava a morte trágica da minha mãe, agora meu pai. Tudo está desmoronando, e eu sinto como se tivesse que carregar esse mundo nas costas. Deveria ser diferente não? Tudo mais fácil? Mais simples. Só viver.
- Não chore querida. - falou Sr. Harrison me abraçando bem apertado. Pude ouvir o seu coração. - Não chore. Vamos, conte-me tudo. Eu sei que você está a ponto de explodir.
- Eu quero morrer! - falei afundando meu rosto em seu peito. Eu respirava forte.
- Não diga isso. Por favor! - disse Harrison afastando meu rosto do seu peito. Ele passava seus polegares nas minhas bochechas, limpando as lágrimas que a molhavam. - Vamos. Conte-me. Existe algo que eu possa fazer por você? - perguntou-me.
Eu olhava para o Sr. Harrison como o pai que o meu pai não estava sendo. Companheiro, preocupado, gentil, bondoso, amigo, amoroso e acolhedor.
- Meu pai está se transformando em um monstro. Um perfeito monstro. Na noite passada, foi capaz de quebrar as molduras das fotografias da mamãe, quebrou o meu violino, me empurrou, gritou com Chelsea e eu, e ainda foi capaz de nos chamar de... - pude me lembrar da noite passada. Lembrar-me das palavras que ele me transferiu. - fardo. - voltei a chorar.
- Fardo? Ele está louco. - disse Sr. Harrison com uma cara de espanto e pena. Pude perceber que ele pensou um pouco. - Você não precisa viver assim. Você é uma princesa. Você é bondosa, maravilhosa. Você não precisa passar por isso com sua irmã. Seu pai está fora de si. Ele pode chegar a fazer algo pior além de apenas te empurrar. - ele olhou para o meu corpo, como se procurasse algum hematoma.
- O que o senhor está me sugerindo? Ir embora? - perguntei franzindo o cenho.
- Exatamente. Ir embora. - ele acenou a cabeça com um sim. Suas mãos ainda estavam no meu rosto. Eu as tirei e fiquei de costas, cruzei os braços.
- Eu... Não sei. Ir pra onde? Como viver? - olhei ao redor. Vieram lembranças a minha mente. Tudo o que eu já tinha vivido naquela casa. Os momentos bons, ruins, iria deixar tudo isso pra trás?
Sr. Harrison colocou a mão no meu ombro e disse:
- Para a minha casa.
Virei-me rapidamente de súbito. Soltei os braços que antes estavam cruzados. Eu o olhei com espanto. Ficamos com as faces muito próximas, acabei por dar um passo para trás e o olhei de baixo para cima.
- Para... A sua casa? - perguntei por impulso, mas já sabia a resposta.
- Sim, Amberly. Você poderá levar sua irmã. Eu darei a vocês duas de tudo. Vocês serão as meninas mais felizes desse país. - disse pegando nos meus ombros.
Eu estava tão assustada com a sua proposta que não sabia o que dizer. Olhei para os lados como se procurasse a resposta nas paredes. Não sabia se era boa ideia, mas sabia que não aguentaria muito tempo convivendo com um homem selvagem que estava transformando minha vida em um completo inferno.
- Eu... Eu não sei. Está tudo tão confuso. - passei a mão no meu quadril descendo para as pernas como se quisesse aliviar a tensão. - Não tem outro jeito? - perguntei olhando para o chão. Eu já não chorava. Mas meus olhos ainda ardiam.
- Você prefere ficar aqui? Ser empurrada, esnobada? - ele ignorou totalmente minha pergunta.
- Não. - respondi convicta olhando em seus olhos.
- Então. Eu te trouxe solução. Vamos? - perguntou me soltando.
- O que? Já? Agora? - novamente mais uma informação espantosa. Não pude conter o meu semblante de espanto.
- O que você está esperando? Que seu pai chegue e destrua tudo mais uma vez? - perguntou-me enquanto já subia o primeiro degrau da escada.
- Eu não se... - fui interrompida por batidos na porta. Virei-me rapidamente. - Ah não. - dei alguns passos para trás. As batidas foram aumentando a intensidade e foi seguida pela voz do meu pai dizendo "Abre logo isso." Olhei para Harrison, que me olhou de volta.
- Eu não vou abrir. - sussurrei já com os olhos marejados. Harrison desceu o degrau e foi em direção à porta e abriu-a. Meu pai entrou cambaleando, e quando notou o Sr. Harrison, parou de andar, tentou se erguer e disse:
- O que você faz aqui? - disse meu pai franzindo o cenho. Suas palavras saíram meio enroladas por causa do álcool. Eu quase pude sentir que aquilo não ia dar certo.
- Vim ver como Amberly estava já que você não dá a atenção devida. - Harrison veio na minha direção, pondo seu braço sobre o meu ombro. - E sim, você está despedido. - eu fiquei em silêncio. Não sabia nem o que dizer.
- O pai dela sou eu. Você não tem nada que se meter. - meu pai cambaleando veio na minha direção, tirou o braço de Harrison sobre os meus ombros, e com força me puxou do meu lugar me colocando atrás dele. Deixei escapar um grito de espanto por causa da intensidade ao qual ele me puxou. Harrison olhava para o meu pai com os olhos estreitados.
- Você é um imbecil. - disse Harrison. Fiquei em choque.
- O que? Imbecil? - perguntou o meu pai enquanto dava alguns passos pra perto de Harrison.
- Olha o que você está fazendo com a sua filha. Ela é jovem, bela, você está a destruindo. E é por isso que eu tomei uma decisão. Ela e Chelsea vão embora comigo, hoje. Eu cuidarei delas. - disse o Sr. Harrison.
- Ela não vai pra canto nenhum. - disse meu pai.
- Eu não estou pedindo sua permissão. - disse Harrison vindo à minha direção. Mas não pode chegar até mim, pois o meu pai segurou-o pela camisa e acertou-o bem no meio do rosto com um soco.
- NÃO! - gritei. Segurei o meu pai como se pudesse com ele. Rapidamente pude sentir sua mão no meu rosto. Toda a minha face queimou. Foi forte, minha vista embaçou, pude sentir que tropecei em algo, não sei o que, mas cai no chão, completamente tonta. Harrison não se conteve, e respondeu meu pai a altura. Eles brigavam, enquanto eu tentava retomar minha vista perfeita. Meu pai estava bêbado, mas ainda era forte, muito forte. Eu olhava para o chão e piscava os olhos loucamente na esperança de melhorar. Tentei me levantar, mas voltei a cair. Eu não acredito pai, a que nível você chegou. Na verdade, quem é você? O que fez com o meu pai?
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Além da Coroa (Pausado)
RomantikQuem via Amberly não imaginava o segredo que ela escondia por debaixo daquele belo rosto. As feridas de um estupro não eram visíveis na carne, mas ainda estavam na alma e ela ocultava muito bem isso com um falso sorriso. Por causa de problemas...