Hannah

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Quero dedicar este capítulo à @RainhaTargaryen por seus comentários constantes e sempre muito divertidos.

Mais uma coisa, só para exclarecer: No capítulo anterior, Kat disse que havia passado horas para comprar uma "bolinha colorida de fazer espuma na água". Aquilo não é sabonete, mas sim "bombas de baho". Sabem aquelas bolinhas feitas para deixar a água da banheira colorida e cheirosa? Então, é isso. Eles tem sim sabonete na sociedade do sul :)


Eu acordei sorrindo naquela manhã de domingo. Ah! Os domingos! A carta de Mario me inspirou a recuperar minha vida aos poucos. Inscrevi-me nas aulas de violino às quintas e domingos. Não sei muito bem por que escolhi aquele instrumento, mas estava recuperando minha alegria pouco a pouco. Não vou enrolar, contar sobre o café da manhã, a aula de violino e o meu banho de água morna. Vamos direto ao ponto, sei que estão curiosos.

Acomodei um pano em meu ombro para amarrar em meus cabelos depois. Mamãe e Papai estavam na cidade para pegar mais encomendas e Verena estava em sua aula de dança. Eu peguei uma maçã para levar para V. Deveria ter preparado almoço, mas não havia feito nada. Perdi tempo demais com meu creme para mãos. Admirando-o. Dei uma mordida na minha própria maçã e alguém bateu na porta. Eu rapidamente amarrei o pano no cabelo, mesmo molhado. Achei que era algum funcionário de meu pai, pois vinha da porta dos fundos, que dava acesso à cozinha da padaria. Andei até lá descalça, mastigando minha maçã. Pensei que encontraria Fausto Hiro, o lavador de pratos, mas, obviamente, não era ele. Eu dei um pulo para trás, derrubei minha maçã no chão e fiquei de boca aberta. A visão de minha irmã não foi nada do que eu esperava, foi arrepiante.

Os cabelos loiros dela estavam expostos, cortados na altura do queixo. Para meu horror, ela estava vestindo calças, tão curtas que deixavam a mostra toda sua perna. Era quase como se vestissse roupa de baixo jeans. Sua blusa era branca e caía de seu ombro, deixando a mostra a alça de um sutiã com uma cor que mal sabia descrever. Era rosa, porém mais brilhante. Havia coisas prateadas em sua orelha, sobrancelha e umbigo. Desenhos coloridos e frases em preto e branco enfeitavam sua pele. Além de tudo, ela estava suja da viajem, com areia no cabelo e arranhões por todo o rosto. Ela abriu os braços e sorriu.

-Olá irmã.

Eu mal senti Hannah me abraçando. "Kat, me espere de braços abertos", ela escrevera na carta. Isso não era possível, nem se me esforçasse. Eu não sabia processar o que estava sentindo e o que queria pensar. Estava feliz, indignada, assustada, surpresa e preocupada, tudo ao mesmo tempo. Queria saber se ela estava bem, o que eram aquelas coisas em seu rosto, a tinta em sua pele, por que demorara tanto, por que voltara justamente agora que minha vida estava começando a melhorar. Tudo isso me causou uma paralizia indiscritível. Esqueci como se respirava até sentir uma gota gelada escorrendo pela minha orelha. Hannah fungou e olhou-me nos olhos.

-O que foi que eu perdi? –ela disse, rindo logo em seguida de sua piada de mal gosto.

Essa foi a primeira e última vez que Represália e Katleia se misturaram. Ao mesmo tempo eu quis abraça-la e chorar junto dela, e acertar meu melhor tapa em sua bochecha. Como ela se atrevia a voltar depois de dois anos e perguntar o que tinha perdido? Ela devia desculpas à mim, aos nossos pais, à toda Sociedade do Sul. Minha vida se tornou um inferno por causa dela, eu me transformei e perdi tudo por sua causa e ela se atrevia a fazer uma piada? Mas respirei fundo e dei dois passos para trás. Eu não sabia o que dizer.

-V está fazendo aula de dança e... Papai e mamãe foram para a cidade –comecei a ficar tonta. Todas aquelas emoçôes tomando conta de mim e Represália gritando por um tapa bem dado me deixaram atordoada. Hannah fez algum comentário sobre o ballet de Verena que eu não me dei ao trabalho de ouvir. –O que há no fim da linha do trem?

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