A arma

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Aqui está, como havia dito. Perdoem a demora. Para os que não sabem, meu pc está com problemas e vou demorar a resolvê-los. Consequentemente, demorar a postar os capítulos. Obrigada a todos por não desistirem de Kat e Hannah. 

Mais uma coisa, há pessoas que comentam sempre e que merecem ter um capítulo dedicado a elas. Se eu ainda não dediquei um capítulo a você, comene aqui em baixo! Obrigada e boa leitura :)

Três dias após a tragédia de Hannah, Octavio voltou a trabalhar. Minha irmã não queria sair da cama e não alimentava-se direito. Eu fiquei com ela, preparava suas refeiçoes, ajudava-a a tomar banho e fazia companhia. No quinto dia ela levantou-se e fez seu almoço sem falar nada. No sexto, arrumou-se para trabalhar. Ela era uma verdadeira guerreira, não sei como eu havia me esquecido disso. Ela falava francês enquanto eu ainda aprendia o alfabeto. Ela lutava contra uma possível depressão para trabalhar enquanto eu vivia um eterno domingo.

Octavio chegou um pouco mais tarde naquela noite. Ele tinha um recado para mim. Disse que encontrara Crispim pela cidade e ele queria me ver. Eu fiquei paralizada como sempre. Quase uma semana sem notícias de Crispim teriam me deixado louca se Hannah não precisasse tanto de mim. Eu era um monstro, mas não a esse ponto. Minha irmã balançou a cabeça, confirmando que ela ficaria bem apenas com Octavio.

Eu procurei por um casaco específico, até lembrar que ele estava no apartamento de Crispim. Fiquei um tempo para decidir-me sobre a roupa, e então percebi que, por mais que não fosse obrigada, existiam sim roupas adequadas para cada situação. Coloquei algumas outras roupas na mochila que usei em minha viagem pelo deserto pois não sabia o que ele queria comigo. Aquela mochila me lembrou que já tinha quase um mês desde que eu chegara a An'angelo. Eu tinha aprendido tantas coisas. Olhei-me no espelho e eu estava tão diferente. Os cabelos soltos, as roupas curtas e coloridas... Como estava Verena? E Clícia? E Mario? Eu suspirei. Não queria voltar para a Sociedade do Sul, mas precisava. Eu nunca estaria pronta.

Quando parei de me perder em pensamentos sobre minha casa, já estava em frente ao prédio de Crispim. Chamei-o pelo interfone e ele liberou minha entrada. Subi a escada correndo, não aguentava a ansiedade por vê-lo de novo. Ele abriu a porta e parecia desesperado. Não vestia calças e sua camisa branca do trabalho estava torta e amarrotada. Sem dizer anda, ele puxou-me para um abraço e fechou a porta atrás de nós.

-O que aconteceu? –eu perguntei. Parecia que isso era o que eu mais perguntava para Crispim. E eu fazia muitas perguntas.

-Recebi uma carta vinda da Sociedade do Sul –eu arregalei os olhos, curiosa. –Meu pai... Ele falesceu a alguns dias.

Essa morte não pode ser associada à nova Kat. Eu espero que não. Soltei minha mochila e abracei-o devolta. Pensei em meu pai. Em minha mãe. Em minha irmã. Eu não receberia carta nenhuma se algo acontecesse a eles. Derramei uma lágrima. Depois mais outra. Logo estava chorando; pela perda de Crispim, a de Hannah, e pelas minhas incertezas. Os olhos dele estavam vermelhos e umas poucas lágrimas escorreram deles. Isso o fez parecer tão humano que foi surpreendente. Crispim para mim sempre fora além de qualquer outra pessoa. Não sei dizer quanto tempo ficamos abraçados à porta de sua casa, mas quando ele sentiu-se bem o suficiente para soltar-me, agarrou meu rosto com delicadeza.

-Senti muito sua falta –ele disse antes de me beijar.

Pela primeira vez, perguntei-me por que? Por que eu? Mas eu não falei nada. Eu não queria saber a resposta, talvez não gostasse dela. Empurrou-me contra a porta e desabotoou minha calça. Continuamos os beijos agressivos e não nos importamos com todo o barulho inapropriado que fazíamos tarde da noite. Quando ambos deram-se por satisfeitos, Crispim pediu que eu me limpasse e preparasse para saír. Abandonando minha dignidade por completo eu andei até o banheiro e tomei um banho rápido. Usei as roupas extras da mochila e encontrei-o na cozinha, arrumando alguma coisa de metal. Quando me dei conta do que era o objeto, dei um passo para trás. Ele deu risada.

-Não vou atirar em você –ele falou, clicando alguma coisa na arma. –Mal tenho munição.

E então, Crispim teve a pior ideia de sua vida. Provavelmente a que ele mais se arrepende de ter tido. Ele me levou para um lugar onde pessoas aprendem a atirar. Alguém colocou uma arma em minha mão e abafadores em meus ouvidos. Crispim dispensou o instrutuor e ele mesmo me mostrou como o revólver modelo Smith & Wesson Governor funcionava. Eu não acertei os lugares marcados no meu alvo nenhuma vez. Não naquele dia. Mas eu me senti muito melhor. Crispim disse que eu deveria pensar em algo que me deixasse brava e extravasar nos tiros. Pensei primeiro nos policiais da Sociedade do Sul. Depois em Galileu e suas maldades. Depois nas mentiras do governo, nas mortes que eu presenciei. Eu me saí melhor, mas ainda assim não acertei as áreas demarcadas. Crispim desapareceu por alguns instantes e voltou com nossos casacos, penteando os cabelos agora desarrumados com os dedos.

-Vamos –ele sinalizou a saída com a cabeça. –E eu conversei com aquela moça, ela me vendeu esse revólver. Pode ficar com ele, senhorita "líder da revolução". Acho que vai precisar.

A moça à quem ele se referia estava atrás de um balcão, fofocando algo com outra funcionária com o queixo apoiado em sua mão. Sua amiga, ou quem qer que a outra fosse, apontou para Crispim e riu. A outra virou-se para onde estávamos e piscou para ele. Eu não vi o que ele fez, mas o sorriso dela murchou e ela revirou os olhos. Crispim empurrou-me, delicadamente, para fora.

-Quem era ela? –Eu não costumava fazer perguntas como essa, mas pareceu-me extremamente necessário. De alguma forma isso afetou Orgulho e fui obrigada a questioná-lo.

-Eu não sei o nome dela. Mas de que importa? Obrigado por passar esse tempo comigo. Precisava disso. –delicadamente acariciou meu rosto e me beijou. Depois, continuou a andar em direção a seu carro. E tudo ficou bem. Ele nem precisou sorrir para mim. Ele nunca precisava.


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