Depois Daquele dia

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Eram 4:00 da tarde de sexta feira e, pelo que me falaram eu tinha sofrido leves queimaduras, nada grave.
Eu me sentia com o oposto.
Meu corpo estava doendo muito, mas eu tinha meus amigos. Ao saberem da notícia, Leon e Aline foram logo me visitar no hospital. Eu já ia ser liberada à noite, mas eles foram lá para me ver. E além disso, eu estava muito feliz em ver minha família toda. Minha mãe arranjara uma passagem de avião ás pressas ao saber que eu tinha estado em um incêndio. Ela falou que quando lhe ligaram, ela não acreditou, mas quando soube que era sério começou a fazer as malas desesperadamente. E Leon e Jack ficaram super amigos, conversando sobre Star Wars. Aline falou que o fofo do Leon chegou há muito tempo, e ficou esperando eu acordar.
Apesar de tudo, eu ainda estava com o sentimento de que meus livros se foram. Meu refúgio se foi.

Uma semana depois, descobriram o que causou o incêndio.

Saiu no jornal uma reportagem que dizia que:
De acordo com Kate - Ela foi entrevistada!- um sujeito estava fumando dentro da biblioteca. Aí Kate pediu pra ele sair mas ele era daqueles encrenqueiros e quando ela ameaçou chamar a polícia o cara foi embora mas ficou com raiva e jogou o cigarro em uma janela da biblioteca que atingiu uma estante de livros (eu vi isso, que emoção!) e então tudo pegou fogo.
Eu estava confusa, mas de uma coisa eu sabia: não tinham mais livros pra mim.
☆ ☆ ☆ ☆ ☆ ☆
Nas aulas, eu passei a jogar vôlei em todos os recreios, e um mês depois fiquei conhecida como "Rainha da manchete". Sempre que acabava a aula, eu pedalava para a biblioteca, mas quando chegava lá lembrava que acabou. A cidade decidiu reconstruir a biblioteca mas se passavam anos e a obra não andava. Nesses anos eu comecei a entender de que sim, a vida é um livro. Mas a vida também é um teatro e um filme, que precisam ser vividos e assistidos. E nós somos os protagonistas, coadjuvantes e a platéia, tudo ao mesmo tempo.

Sempre penso em quantas coisas eu poderia ter feito nos meus recreios, quantos amigos poderia ter feito, se não estivesse tão vidrada em livros. Eu ainda leio, mas com muito menos frequência. Eu ensinei Jack a jogar xadrez, e quase todo o fim de semana Aline e Nico iam lá em casa. Minha mãe deu um jeito de viajar menos a trabalho, ou seja, a partir daquele dia minha vida mudou bastante. Eu continuo sendo amiga de Kate, que ás vezes me recomenda uns livros muito bons. Leon, Aline e eu viramos grandes amigos, e até passamos uma de nossas férias de verão juntos, na casa de praia dela.

Uns nove anos depois, quando eu já tinha 21 anos, e estava fazendo faculdade de biologia, (nós três não fomos para a mesma faculdade, mas ainda éramos grandes amigos) parei para pensar: epa, não é todo mundo que já passou por um incêndio.Bem que eu poderia aproveitar isso.Então decidi, com coragem, escrever um livro. Que aliás, é o que você acabou de ler.

Fim :)

Aquele DiaOnde histórias criam vida. Descubra agora