Capítulo 1

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Existem muitas perguntas sem resposta, concluía Brandon, enquanto dirigia em direção à sua casa. A ida ao cemitério o deixara ainda mais confuso, embora muita coisa não pudesse ser alterada ou resolvida.

Estava quase chegando em casa quando recebeu a ligação de Torey, seu cunhado. Parou o carro e atendeu.

- Onde raios você está, cara?! - berrava Torey, do outro lado da linha.

- Estou chegando em casa.

- Então corra para o hospital. Tana está dando entrada agora.

Brandon se despediu, desligou e partiu a toda velocidade para o hospital. 

No trajeto pensava em como tudo tinha começado.  

NOVEMBRO - 2013

Henderson - Las Vegas  

A moça corria embaixo do tórrido Sol do deserto e ocasionalmente ela se virava para trás, somente para fitá-lo e sorrir.

Os longos cabelos cor de mel, que estavam soltos, esvoaçavam pela corrida. Ela não parecia cansada, muito pelo contrário, olhava para ele com um pouco de desprezo por seu cansaço.

Enquanto ele tentava alcançá-la, se perguntava porque não devia deixá-la ir, mas ao mesmo tempo, sentia que não conseguiria.

Sentiu muito medo quando ficou ainda mais longe. Estava parando, não conseguia mais correr.

Ela parou, se virou e o fitou. E caminhou lentamente em sua direção.

Ele estava de joelhos, ofegante, ela se abaixou e pegou seu rosto com as duas mãos.

Ele estava prestes a finalmente descobrir o rosto da moça. Piscou, seus olhos ardiam.  

Brandon abriu os olhos e fitou o teto branco de seu espaçoso quarto. Ele podia ver pelas janelas que já amanhecia através da réstia de Sol que entrava pelas fendas da cortina.

Estava com sua esposa adormecida nos braços quando ouviu o choro do bebê. Henry já tinha dois anos, mas sempre acordava cedo. Ele se levantou lentamente e, sem acordar Tana, saiu da cama e foi até o quarto de seu pequeno filho. Henry o reconheceu e sorriu quando ele entrou, estendendo os bracinhos para o colo.

A vida em Henderson era tudo o que ele poderia querer depois da movimentada turnê que tinha sido a do álbum Battle Born. Era tranquila e pacata, silenciosa, reservada. Porém aquela sensação de paz só durava poucas semanas, porque Brandon não conseguia ficar parado. Era só o tempo que seu corpo levava para se recuperar de todas as viagens, jat lags e shows que ele já sentia que poderia fazer tudo aquilo de novo. Por isso, já estava produzindo seu segundo álbum solo - os demais integrantes da banda pareciam não ter o mesmo metabolismo. Era praticamente certo que Ronnie faria o segundo álbum do Big Talk, mas o baterista estava em Utah, na casa de férias em Park City, descansando com a esposa e o cachorro, ou seja, não iria acontecer nada pelo menos por enquanto. Dave e Mark não fariam nada, pelo menos até onde ele sabia - se bem que Dave não costumava fazer muita coisa mesmo além de passar os dias com o filho, tomando cerveja e assistindo jogos de basquete pela tv; enquanto Mark era sempre surpreendente: se fizesse algo, seria na surpresa.

Brandon foi com Henry para a cozinha e começou a preparar o café. Logo os outros dois meninos também acordaram e estavam entre ele, os quatro brincando e conversando enquanto tomavam café. Em poucos minutos viu sua esposa, parada na porta, olhando para eles e sorrindo.

Sempre fora apaixonado por sua esposa, desde o primeiro momento que a viu, e realmente não tinha do que se queixar. Era a segunda mulher mais importante da sua vida (depois de sua mãe, é claro), mãe de seus três filhos, ele não conseguia imaginar sua vida sem ela.

Mas tentava não pensar nos contínuos sonhos com a moça misteriosa.

Ele não sabia quem era e qual o real significado daquilo, mas estava cada vez mais perturbado com aquela presença que dominava seu sono.  

MAIO - 2014

Nova York  

Os eventos e as críticas que o cercavam após o lançamento do seu segundo álbum solo somente reforçavam que ele tinha trilhado o caminho certo. Ele preferia mil vezes estar entre a banda, mas se o The Killers queria descansar, tudo bem, ele iria respeitá-los - assim como respeitavam seu desejo de fazer mais um álbum solo.

Brandon estava atendendo a alguns fãs após o show quando a viu. Era uma jovem que estava ali com duas amigas - estas duas, aliás, extremamente empolgadas pela oportunidade - que não exibia a reação dos demais fãs e ficou afastada quando suas amigas foram tirar as fotos com ele. Brandon soube que a conhecia de algum lugar.  

Uma semana depois, voltou a reencontrá-la. Foi em uma agência de publicidade, onde sua assessora tinha marcado com ele para verificarem a campanha para o lançamento do segundo single do álbum. Estava atrasado, de modo que simplesmente invadiu o primeiro elevador que viu, que por sinal estava fechando as portas. Mas conseguiu entrar e deu de cara com a moça, que o fitava indiferente.

O silêncio se estendeu de forma incômoda por alguns andares enquanto o elevador subia.

Nenhum dos dois pronunciou uma palavra, até quando ela disse, bem baixo:

- Você é Brandon Flowers?

Ele se virou e assentiu, respondendo.

- Sim, eu sou Brandon Flowers.

Ela somente assentiu.

- Eu sou uma grande fã sua - ela declarou, um segundo mais tarde. - Fui a seu show semana passada. Muito bom...

- Obrigado - ele sorriu.

- Mas prefiro você com a banda. - ela completou.

Brandon ficou sem saber o que dizer e eles chegaram. Ela desceu no mesmo andar que ele. Ele deixou ela sair primeiro, ela se virou e agradeceu, com um sorriso.

Ele ficou paralisado na porta do elevador. Reconheceu de onde ela era: a moça do sonho.

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