EPÍLOGO

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Brandon eliminou todas as lembranças enquanto largava o carro no estacionamento e corria para dentro do hospital.

Foi recebido por Torey, que estava nervoso.

- ONDE VOCÊ ESTAVA? - perguntou seu cunhado, visivelmente irritado - ESTAMOS O DIA TODO ATRÁS DE VOCÊ!

- Eu... - Brandon estava ofegante - Não importa. Ela já entrou?

Torey bufou, ia dizer alguma coisa, mas Angelica o conteve e disse, sorrindo:

- Já. Os médicos avisaram que você pode entrar. É por ali.

Brandon correu para onde ela tinha apontado. Quase berrou "eu sou o pai!" para que as enfermeiras o deixassem entrar na sala de parto, depois de, é claro, colocar as vestes azul claras. Chegou a tempo de dar a mão para sua mulher e estar ao lado dela, enquanto ela o recebia, sorrindo e feliz, mas com dor.  

Alguns minutos mais tarde, ele e Tana ouviram o choro do bebê. Sorrindo, e com lágrimas nos olhos, via as enfermeiras limparem e seu filho e o enrolarem em uma trouxinha, para então o entregarem com um sorriso no rosto.

- É uma menina - disse uma das enfermeiras, sorrindo. - Parabéns.

Tana pediu para que entregassem a ele primeiro. Tremendo, ele pegou aquele pequeno pedaço de gente e sentiu uma imensa emoção quando os seus olhares se encontraram. É como se aquele pequeno anjo o tivesse reconhecido, instantaneamente.

Sua esposa estava sorrindo, igualmente feliz. Ele a entregou e deu um beijo em sua testa.

- Brandon... - ela disse, bem baixo

- Shh, não fale. Muito obrigado, querida.

- Brandon - Tana disse, emocionada - Eu que agradeço. Te amo.

- Eu também, te amo. - ele percebeu, ainda que levemente, a pequena hesitação.   

Algumas horas mais tarde, ele estava do lado de fora do berçário, olhando para aqueles bebês, mas hipnotizado pela trouxinha rosa que estava ali, próxima. Uma plaquinha no bercinho sinalizava:  

SOPHIE MAGDALENA FLOWERS  

Uma das enfermeiras pegou sua pequena filha e levou até ele, na porta do berçário.

- Não posso deixá-la com você por muito tempo, - ela disse, com ar cúmplice - mas sou sua fã. Por favor, fique por perto...

Ele sorriu, pegando o bebê cuidadosamente.

- Obrigado. Obrigado mesmo. Não sairei daqui, fique tranquila.

Ela sorriu e se retirou, deixando-o com sua princesinha.

Ficou conversando com ela, falando sozinho, enquanto ela o olhava em silêncio, com os olhinhos bem abertos. Ele andava lentamente, enquanto às vezes cantava, às vezes falava. Aquela era o seu anjo, um presente de Deus, que o ajudaria a esquecer de Sofia. Pensar nela dava uma dor quase insuportável no peito, como se estivessem enfiando uma faca em seu coração, mas ele seria forte e seguiria em frente. Muito intimamente, ele se questionava o que ela ia lhe dizer no dia em que terminaram. Assim como era importante ele contar a ela o que lhe tinha acontecido - que ia pedia o divórcio a Tana e esta lhe revelara que estava grávida - Brandon começava a se dar conta de que talvez o que Sofia tinha a lhe dizer era ainda mais relevante. Seu maior temor era que o segredo que morreu com Sofia tivesse o poder de ter mudado alguma coisa relacionada à ela, ou aos dois.

Mas Brandon não conseguia pensar em nada. Primeiramente, ele chegou a imaginar que ela também estivera grávida, mas quando saiu o laudo médico junto do atestado de óbito, nada sobre isso foi divulgado (e com toda certeza teria sido espalhado aos quatro cantos). Ele pensava no que teria sido capaz de fazer se por acaso Sofia estivesse mesmo grávida dele e os dois, mãe e filho, tivessem sido mortos por Michael Hamburg. Ele provavelmente teria enlouquecido, teria sido uma catástrofe emocional irreversível.

Brandon se sentia, em partes, culpado pela morte de Sofia. Ele gostaria de ter voltado atrás, feito várias coisas diferentes. Mas se o tempo tem uma virtude, esta é a liberdade de seguir em frente sem o consentimento de ninguém. Sentir isso na pele, pensando nos e se de toda a vida era a sina que Brandon teria que carregar pelo resto de sua existência. Ele levaria a sombra do remorso consigo como se ela fosse uma velha amiga e ela o acompanharia até o fim de seus dias, quando finalmente poderia encontrar a redenção que tanto procurava e, ele esperava, reencontrar Sofia.

Enquanto isso não acontecesse - e ele sabia que iria demorar - ele iria se dedicar em ser um melhor marido, um melhor pai e um melhor frontman do The Killers. Resumindo, um melhor Brandon. Talvez, recebesse o perdão de Deus ao final da vida.

Mas no momento ele estava entretido demais em divertir sua pequena Sophie - cujo nome foi escolhido por ele, e Tana sequer questionou - com suas conversas e cantorias. Ela o fitava, como se prestasse atenção em cada palavra ou verso dele, como se o compreendesse.

Se afastou um pouco do berçário e a levou até uma das janelas de vidro. Mesmo fechadas, era possível ver as luzes de Las Vegas ao longe. A visão colorida e brilhante, ainda que distante, chamou a atenção de Sophie quando ele a inclinou para que olhasse através do vidro. 

Então ele a apresentou, lembrando de uma noite apaixonada, a certo tempo atrás:

Milady, me dê a honra de apresentar a você a Cidade do Pecado, também conhecida como Las Vegas.

Sophie sorriu. Ou parecia um sorriso. A Brandon não importava; a reação dela foi a deixa para ele continuar, sorrindo:

Me dê a liberdade de fazer da minha casa, a sua casa...  

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