A realidade de Tony

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A vida, como ela pode ser tão cruel comigo?  passar fome como eu passo todos os dias, viver sem estudo para se sustentar trabalhando clandestinamente, e viver em um país sob uma ditadura fascista, com uma mãe sem saúde. O que é pior? O que será do meu futuro? O que eu faço da minha vida? 

Se você ainda não me conhece eu sou o Tony, tenho 20 anos, moro na cidade de Constância com minha mãe, Dona Felipa, ela não está vivendo bem, está com as pernas fracas e não consegue andar com firmeza, tem problemas na visão, enfim, por mais que nós sempre brigamos eu não consigo me ver sem ela, ela é tudo para minha vida. O meu maior sonho é fazer uma faculdade de Direito e me tornar um bom advogado, porém, infelizmente nem tudo que eu quero eu posso ter, terminei o Ensino Médio a um ano atrás, era para eu ter dado início a Faculdade, porém com que dinheiro? Aqui no meu país o Ensino é de graça, vivemos em uma ditadura socialista, mas para conseguir uma vaga na Faculdade é necessário realizar uma Avaliação de teto a nível nacional para ser selecionado, e aí sim fazer a faculdade de Direito gratuitamente, infelizmente quando eu ainda frequentava a Escola, eu nunca era de prestar atenção, e raramente estudava, eu nunca fui um bom aluno, não era dedicado, e isso fez com que eu perdesse a oportunidade de mudar a minha vida, pois quando eu peguei a Avaliação para responder, me senti um verdadeiro analfabeto, fiquei muito triste e nem aprovado fui. Minha mãe não tem condições de pagar meus estudos, recebe uma pensão pela morte do meu pai e pelo fato de ter sido agricultora ela recebe no total de R$700,00 do Governo, raramente  meu irmão Antony e o meu tio Sony que estão morando em Agramonte e nos ajuda financeiramente. Exatamente por ela está ficando de idade, eu estou passando agora todo o meu tempo vendendo produtos, bebidas, frutas, alimentos na rua, isso para conseguir sustentar, porque as vezes o Ditador não paga a pensão dela por causa da crise, e precisamos de outra fonte de renda, e vender é a unica saída que eu vejo no momento para poder se sustentar. Por ser uma ditadura socialista, o Estado não permite o livre-mercado, eu vendo ilegalmente sem a cobrança dos impostos que estão na média de 70% sob o valor do produto, se os fiscais me pegarem eles são capaz de me matar, pois eles já me quebraram um braço e jogaram minhas coisas no chão e destruíram e falaram se me vissem novamente vendendo ilegalmente iriam me pegar.

Como qualquer outro dia da minha rotina, acordei as cinco horas da manhã e saí vendendo pelas ruas em direção ao Centro de Constância, _"Olha a água fresca e geladinha, o sanduíche saboroso, e uma cocadinha para adoçar o seu dia, é agora mesmo compre, compre, compre apenas hoje com desconto!" . E assim foi o meu dia, na manhã de hoje pude ter um lucro líquido de R$3,00 reais, enquanto isso mãe faz o almoço (a coitada com problemas na vista, não enxerga nem as formigas cozinhadas nas panelas com arroz), ela vai fazendo o almoço e preparando mais lanches para eu vender com o dinheiro da receita do dia anterior, aí volto para casa a pé andando no sol quente e vendendo com meu isopor bem pesado, do centro para casa são 8 quilômetros e todo dia faço esses trajetos (não pelas mesmas ruas - por causa dos fiscais) mas eu faço, e vou indo gritando pelas ruas, vou e volto todos os dias no centro quadro vezes ao dia, exceto nas segundas-feiras que fico arrodeando vendendo lanches pelo centro, pois em horário de almoço me rende mais, mas fico sem aguentar. Depois do almoço voltei para o Centro, mas na tarde de hoje não consegui vender quase nada, comecei a me desesperar, e no final da tarde voltei para casa. Durante o caminho já na escuridão da noite, eu tive uma estranha sensação de esta sendo perseguindo, olhei para trás tinha dois fiscais do Governo quase me alcançando, meti o pé e sai correndo com toda velocidade, corri bastante fiquei sem ar e joguei os produtos para cima, com a caixa de isopor e tudo, entrei dentro de uma floresta no bairro próximo, e eles continuaram correndo quase me alcançando, minhas pernas estavam tão cansadas que nem eu sei como conseguir correr tanto, eu corria desesperadamente, olhava para trás a todo o momento para tentar ver se ele estava muito perto, não conseguia ver quase nada pois já estava noite e dentro de uma floresta ainda mais, eu só ouvia o barulho de seus passos rápidos logo atrás de mim e o som das respirações afoita pela corrida, mas o que prevalecia era o som das batidas do meu coração disparado. Disparado pelo esforço da corrida, pelo medo, pelo receio de ser pego, pelo desespero, e a cada minuto o som das batidas do meu coração eram cada vez mais frequentes e fortes, até que de repente eu caí em um precipício que parecia não ter fim, do nada me choquei contra o chão e senti meu corpo "se quebrar" completamente, me encostei e fiquei ali quieto, escutei a conversa dos fiscais lá em cima, um deles falou: _"O trouxa deve ter caído aqui , vamos embora antes que sobre pra nós" e depois vi apenas a luz de uma lanterna, passei muito frio a noite inteira e fiquei pensando na minha mãe que deveria está muito preocupada, eu mesmo não consegui dormir naquele lugar. Ao amanhecer comecei a andar para um lado da enorme cratera e fui sair em um córrego, próximo ao meu bairro, quando cheguei no nosso barraco chamei pela minha mãe não a encontrei, e pensei ela deve ter ido fazer um boletim de ocorrência na polícia, quando fui para a cozinha e vi o nosso facão ensanguentado e o chão totalmente sujo, segui as marcas, o que foi dar no banheiro, quando eu chego levei um susto enorme e gritei desesperadamente, vi ali a unica pessoa que cuidou de mim por toda a vida morta, minha mãe. O telefone tocou e eu o atendi, era o Tio Sony e ele me falou _ "Tony, saia imediatamente de Constância, você tem que vir agora para Agramonte, arrume um disfarce e embarque no próximo trem o mais rápido possível, os capangas de Henrique Diaz me ameaçaram falando que mataria vocês e o trato foi comprido com ela, agora falta você, então saia imediatamente daí, preste bastante atenção Tony: Tem duas malas debaixo da cama do quarto da sua mãe, uma está cheia de drogas e você tem que traze-las e a outra está com muito dinheiro, venha, venha, venha imediatamente, quando você chegar eu lhe explicarei tudo!"

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