(2*) Parte Um - O Preço da Caçada

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Sandru tomou a frente pelo corredor até a outra porta, menor do que a de carvalho que haviam cruzado para chegar a esse nível. Pegou o chaveiro, abriu-a, e, para surpresa de Zeffer, havia outro lance de escada, levando-os para um nível ainda mais baixo da Fortaleza.

— Pronto? — perguntou o frade.

— Inteiramente — respondeu Zeffer.

Desceram. Os degraus eram mais íngremes e o ar tornou-se visivelmente mais frio à medida que desciam. Frei Sandru nada disse enquanto continuavam.

Duas ou três vezes olhou por cima do ombro, como se para ter certeza de que Zeffer vinha logo atrás, embora a expressão de seu rosto estivesse longe de feliz, como se lamentasse muito a decisão de trazer o visitante até ali e estivesse pronto, ao menor convite, para dar meia-volta e voltar para o relativo conforto do nível superior.

Ao pé da escada, parou e esfregou vigorosamente as mãos.

— Acho que, antes de continuar, devemos tomar um copo de alguma coisa para nos aquecer — disse. — O que o senhor acha?

— Eu não recusaria — respondeu Zeffer.

O frade dirigiu-se a um pequeno armário a uns poucos metros do pé da escada, do qual tirou uma garrafa de bebida destilada, forte, e dois copos.

Zeffer nada disse sobre a existência da bebida tão próxima nem podia culpar os irmãos por precisar de um copo de conhaque para se fortificarem quando desciam para ali. Embora o nível mais baixo contasse com eletricidade (havia guirlandas de lâmpadas elétricas ao longo das paredes do corredor), a luz nem aqueceu o ar nem lhes fortificou o espírito.

Frei Sandru entregou-lhe um copo e tirou a rolha. O estouro baixo ecoou da pedra nua das paredes e do chão. Serviu a Zeffer uma generosa dose da bebida e outra ainda mais generosa para si mesmo, que emborcou antes de o visitante levar o copo aos lábios.

— Quando vim aqui para... — disse o frade, reenchendo o copo —, nós fazíamos nosso conhaque com ameixas de nossas próprias árvores.

— Mas não agora?

— Não — respondeu o frade, visivelmente triste porque eles não produziam mais a bebida. — A terra não presta mais, de modo que as ameixas nunca amadurecem como deviam. São pequenas e amargas. O conhaque feito com elas é amargo e ninguém quer bebê-lo. Nem mesmo eu o bebo, de modo que o senhor pode julgar por si mesmo como tem que ser ruim! — Riu dessas palavras de autodepreciação e usou-as como dica para reencher o copo. — Beba — disse, tocando o copo de Zeffer, como se fosse o primeiro que bebiam.

Zeffer bebeu. A bebida era mais forte do que a que havia tomado no hotel, em Brascov. E desceu suave, aquecendo-lhe o corpo ao chegar ao estômago.

— Bom, não? — disse o frade, tendo emborcado o segundo copo.

— Muito.

— O senhor devia tomar outro copo, antes de continuarmos. — E reencheu o copo de Zeffer sem esperar resposta. — Estamos bem no fundo aqui na terra e vai ficar infernalmente frio...

Copos foram reenchidos e esvaziados. O estado de ânimo do frade estava visivelmente melhor nesse momento, e o tom, mais simples. Recolocou os copos e a garrafa no armário e seguiu à frente pelo estreito corredor, enquanto falava:

— Quando a Ordem veio para a Fortaleza, havia planos para fundar aqui um hospital. Entenda, não há hospital por aqui em um raio de 200km. Seria muito prático. Mas este não é um lugar para doentes. E certamente não para moribundos.

— De modo que, nada de hospital?

— Bem, nós fizemos preparativos. Ontem o senhor viu as enfermarias...

O Desfiladeiro do MedoWhere stories live. Discover now