Todd Pickett fez dois de seus três melhores filmes sob a égide de um produtor chamado Keever Smotherman. O primeiro, intitulado Gunner, era o tipo de filme de alto conceito, marinado em testosterona, pelos quais Smotherman era famoso. E transformou Todd — até então um desconhecido do Ohio — em um autêntico astro do cinema, se não da noite para o dia, certamente dentro de uma questão de semanas. Ninguém lhe pediu que tivesse uma grande desempenho artístico. Smotherman não fazia filmes que exigiam atores, mas apenas espécimes físicos de tirar o fôlego de quem os via. E Todd era certamente isso. Sempre que se punha diante de câmeras, fosse dividindo a cena com uma mulher ou um avião de combate, ele era tudo o que se queria ver. A câmera produzia nele algum tipo de alquimia e ele fazia a mesma magia no celulóide.
Na vida real, era bonitão, mas com defeitos. Era mais baixo do que alto, com quadris largos e também visivelmente encurvado. Na tela, porém, todos esses defeitos sumiam. Tornava-se vistoso, a perfeição do macho, com uma linha de mandíbula heróica, olhar cristalino, e a boca uma mistura incomum do sensual e do sério. Sua beleza particular combinou com o gosto dos tempos e, ao fim daquele primeiro e extraordinário verão de conquista de fama, sua imagem vestida em um uniforme branco imaculado, que lhe transformava as nádegas em poesia, tornou-se uma peça indelével da iconografia cinematográfica.
Ao longo dos anos, outros astros subiram à mesma altura e muitos com a mesma rapidez. Mas houve poucos tão prontos para a ascensão como Todd Pickett. E era isso o que ele vinha polindo pessoalmente desde o momento em que sua mãe, Patrícia Donna Pickett, levou-o pela primeira vez a um cinema no centro de Cincinnati. Olhando para a tela, observando a parada de rostos desfilar à sua frente, soube instintivamente (pelo menos foi o que disse mais tarde) que seu lugar era ali em cima com aqueles astros e que, se desse um duro suficiente, aplicasse força de vontade e trabalhasse por isso, era apenas uma questão de tempo antes de se juntar àquela parada.
Após o sucesso de Gunner, encaixou-se sem esforço no trabalho de ser astro do cinema. Em entrevistas, era cortês, engraçado e modesto, brincando com tanta facilidade com as entrevistadoras que todas, menos as mais cínicas, desmaiavam de deleite. Tinha confiança em seus encantos, mas não era arrogante, era leal às suas raízes no Meio Oeste e permanecia infantilmente dedicado à mãe. Mais encantador que tudo, era honesto sobre suas deficiências como ator. Havia uma agradável falta de pretensão na persona Pickett.
No ano que se seguiu a Gunner, fez mais dois filmes, um após outro.
Outro arrasa-quarteirão para Smotherman, Lightning Rod, lançado no Dia da Independência, explodiu em pedacinhos todos os recordes de bilheteria e, em seguida, para o mercado de Natal, Life Lessons. Este último era um filme docemente sentimental, no qual contracenava com Sharon Campbell, uma modelo da Playboy transformada em atriz, que havia sido capa de tablóides na época graças a seu divórcio de um marido alcoólatra e que a maltratava. A combinação de Pickett e Campbell funcionou como um amuleto e foram extremamente generosas as críticas sobre a atuação do rapaz. Embora ainda dependesse de seus dotes físicos, disseram os críticos, havia sinais claros de que ele estava assumindo a plena responsabilidade do ator, mergulhando fundo dentro de si mesmo para cativar a audiência. Tampouco tinha ele medo de demonstrar fraqueza. Duas vezes em Life Lessons, o papel exigiu que soluçasse como um bebé, o que fez convincentemente. O filme foi um imenso sucesso, significando que os dois filmes mais vistos do ano tiveram seu nome merecedor do título. Ele era oficialmente ouro puro de bilheteria.
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O Desfiladeiro do Medo
TerrorO Desfiladeiro do Medo é um livro sem paralelo: uma descrição implacável e irresistível de Hollywood e seus demônios, contada com um estilo cru e o poder narrativo que transformaram os livros e filmes de Clive Barker em fenômenos mundiais. Hollywood...