A madame

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O dia estava quente, o Sol mais forte do que de costume, limpei o suor que caia sobre meu rosto, era meio dia, terminaríamos uma parede e em seguida iríamos dar uma parada para o almoço.

- Bora Karlão, manda esse tijolo, não temos o dia todo! — gritou Robertinho, um companheiro de obra.

Virei-me segurando o tijolo com dois dedos e em seguida lançando para Robertinho, enquanto ele colocava na parede, eu misturava a massa de cimento, areia e água com a pá. Estávamos construindo um prédio, três andares, futuramente seria um escritório, o terreno se localizava no centro da cidade, no Rio de Janeiro, era uma área onde continha diversos locais de trabalho, passava todo tipo de gente pela aquela rua.

Eu sou uma mulher, mas sempre me interessei sobre esse tipo de coisa, eu queria ser Engenheira Civil, porém acabei frequentando mais bares do que a faculdade, e em seguida trancando a mesma. Eu cursei na UERJ, nos primeiros semestres eu estava indo bem, mas as chopadas no final da aula falavam mais alto.

Eu chegava em casa chapada, me endividei até a cabeça, vendi meu apartamento e voltei para a casa de minha mãe, ela não aceitou e acabou fazendo que eu largasse a faculdade e começasse a trabalhar para pagar minhas dívidas. E aqui estou eu. Não posso deixar de comentar o meu interesse por mulheres, já faz um tempo desde que isso começou a interferir na minha rotina, preferir as mulheres, não dar tanta moral aos homens e até me considerar melhor do que eles. Confesso que tenho me dado muito bem com os rapazes que trabalham aqui na obra comigo, obviamente sou a única mulher, eles tentaram me cantar nos primeiros dias, mas eu os coloquei no lugar e agora nós ficamos juntos no nosso horário de almoço sentados na calçada esperando as mulheres passarem.

Eles são simpáticos, têm uma condição financeira degradável assim como a minha, mas nos mantemos felizes e cheios de cantadas todos os dias. Alguns deles são casados, mas isso não impede que eles joguem um bom charme para cima das mulheres que passam por aqui. Esse é o nosso dia a dia, construir e ver mulheres, quer coisa melhor? Falamos de mulheres, comentamos de mulheres, contamos sobre nossas mulheres, e depois paramos para observar mulheres. Mas tinha uma que chamava mais a minha atenção, eu já tinha declarado aos rapazes que "Aquela ali é minha, sem cantadas para cima dela".

Eu não sabia o nome dela, mas ela passava ali três vezes ao dia, e três vezes ao dia fazia com que eu parasse qualquer coisa que estivesse fazendo e fosse a observar, eu não perdia a oportunidade de lhe jogar algumas cantadas. A única coisa que eu sabia é que ela trabalhava em um grande escritório, era uma administradora de sucesso, com o sobrenome valorizado no Rio de Janeiro, eles a chamavam de Senhorita Jauregui. Eu a chamava de Primeira Classe ou Madame. Aliás, meu nome é Camila, Karla Camila. O pessoal daqui aderiu por me chamar de Karlão, não que eu seja tão masculina assim, mas aqui eu faço meu trabalho pesado, e até prefiro que me chamem assim, nada de frescura por aqui.

Eles levavam como brincadeira e até um passatempo elogiar as incontáveis mulheres da rua, eu também, até que ela passou por aqui pela primeira vez, o meu riso descontraído se fechou quando eu a vi, quando ela me olhou deve ter se assustado por ver uma mulher trabalhando em uma obra, mas talvez também tenha gostado desse novo passo para o poder feminino.

Ela tinha um lindo Porsche Cayenne, ele agregava ainda mais sua beleza, e seus olhos verdes, ah! E que olhos... A primeira vez que ela me fitou com eles eu lhe garanto, nada aqui ficou bem, dizendo isso me refiro a meu estômago e a minha calcinha. Eles nunca mais foram os mesmos depois daquele olhar. O nosso alarme tocou, eram 12h30, hora da pausa pro almoço, minha primeira hora favorita do dia, eu iria ver a madame passar por frente a nossa obra para ir almoçar, e uma hora depois passar novamente para voltar ao trabalho.

O estacionamento onde ela deixava seu carro ficava de frente para a nossa obra, por isso eu sempre a via três vezes ao dia. Na hora do almoço, na volta do almoço e na hora de ir embora. E eram certamente minhas horas favoritas do dia.

- A primeira classe já deve estar quase chegando — disse Emerson descendo do andaime.

Coloquei a pá no chão e fui em direção a minha mochila para pegar minha marmita, os rapazes fizeram o mesmo, tirei o capacete e me sentei no chão, estávamos na beira da calçada, como sempre ficávamos todos os dias, eu peguei uma colher e comecei a comer meu almoço.

- Olha lá quem vem, Karlão — Washington falou me chamando atenção me cutucando com seu cotovelo.

Ajeitei-me na calçada, ela estava vindo.

Construindo Barreiras (camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora