Nos limpamos batendo a mão por cima do tecido e olhamos o carro da madame até sumir de vista.
- Vamo aprontar o que com a fresquinha?
- Deixa isso comigo... — falei enquanto saia para o ponto de ônibus
- Nem to com clima de continuar o rolê — falou Vero limpando a testa.
- Nem rola mesmo... Vamos embora, depois eu te ligo avisando como foi com a Grã fina.
- Tá com celular?
- Não, quando for 13h de segunda-feira fica naquele orelhão perto da sua casa, vou ligar pra lá.
Nos despedimos e fomos embora, Vero pegou outro ônibus dessa vez. Apesar de tudo, a noite tinha sido animada, e eu estava ansiosa pelo o que eu iria fazer com a madame, mas o que me desanimava é que eu só trabalharia a noite no dia seguinte, então só a veria na segunda feira...
Cheguei em casa e me troquei, tirei o excesso da maquiagem e me deitei, meu quarto era simples, assim como toda a casa, apesar de não termos uma condição financeira adequada, a casa de minha mãe tinha uma boa estrutura, de forma humilde mas aconchegante.
A luz do meu quarto estava piscando, certamente estragaria assim como aconteceu com a do banheiro. Era eu quem fazia todo esse tipo de serviço em casa, seja instalar os fios para dar eletricidade ou apenas trocar uma lâmpada, eu consertava e protegia tudo por aqui, era o "homem da casa".
Despertei com o rádio da minha mãe, a música parecia penetrar nos meus sonhos;
E ao som de suas guitarras
- Puta que pariu mãe nem amanheceu ainda — falei colocando a mão no rosto
Quatro guapos a cantar
- O mãe!
Ela não ouvia
Galopeira, galopeira
- Alguém me leva pra obra pelo amor de Deus — afundei a cabeça no fino travesseiro
GALOPEIRAAAAAAA
NUNCA MAIS TE ESQUECEREI GALOPEIRA
Levantei.
- Da pra fechar a matraca? — cheguei na cozinha com os olhos arregalados de raiva
- Fechar a matraca? É assim que você fala comigo Karla? Eu vou esquentar teu coro menina
Virei as costas, não é possível, eu convivo com ela a 19 anos e ela ainda não aprendeu que eu não suporto ser acordada com música/grito/interfone tocando?
Antes que eu virasse o corredor senti um chinelo no meu rosto, me virei rapidamente, ela tinha mandado e estava se preparando pra mandar o outro.
- Se correr piora!
Eu apanho na rua, apanho em casa, assim não dá...
- Mãe por favor...
- Passa!
- Mãe...
- Vou te ensinar como conversa com sua mãe.
- Eu tenho 19 anos mãe.
- Karla Camila passa aqui.
Ela estava com o outro chinelo na mão e apontando para o chão ao seu lado, a cena me deu uma vontade imensa de rir, mas eu não podia, estaria fodida se risse.
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Construindo Barreiras (camren)
ComédieEu construía prédios e casas, mas quem construiu um amor em mim foi ela, a senhorita que passava por frente a obra todos os dias, ela era o cimento da minha areia, e eu me considerava um caminhãozinho muito forte para aguentar toda aquela massa que...