Saída de quinta

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Meu coração disparou, isso já era rotina, ela passava por ali, fazia meu coração disparar, meu estomago coçar e minha calcinha molhar. Sempre assim. Já faziam quatro meses que eu vivia isso.

- UOU! — gritou Adalberto quando ela dobrou a esquina.

- Puta que pariu! — Washington disse se levantando.

Eu estava em silêncio, tremendo por dentro, olhando-a fixamente, a mão chegava a tremer segurando a colher da marmita. Ela andava devagar e com classe, sabia o efeito que causava nas pessoas. Ela trancou o carro com o alarme e saiu andando.

Ela estava com uma roupa colada, um decote e os cabelos ondulados, ela sempre usava preto, da cabeça aos pés, o que a deixava fodidamente sexy, eu estava quase chorando com a cena. Que mulher, meu Deus! Estava eu e mais cinco companheiros de obra, todos sentados na calçada, Washington não estava mais conosco, ele saiu e entrou para dentro da construção, advertindo estar "duro".

- Ô gostosa! — gritei

Ela soltou um risinho fraco. Ela não havia jogado um olhar de nojo, apenas riu. O que causou euforia entre os rapazes e eu.

- Puta que pariu, Karlão! Vai que é tua — Emerson gritou cuspindo sua comida

Nós dávamos pulos na calçada a cada passo que ela dava, eu já estava jogando minha comida no chão quando ela parou e olhou para a obra.

Ficamos sem reação, ela nunca tinha parado para nos olhar, a primeira reação do Robertinho foi gritar, ele gritou muito forte, chamando atenção dos carros que passavam na rua. Eu estava de pé mordendo minha mão, Emerson estava chorando.

- Bora Karlão, vai lá! — Gersinho gritou de cima do andaime.

Acabei de engolir o ovo que estava comendo e gritei:

- Eu não sou a cor preto mas você pode me usar quando quiser!

Ela começou a rir. Os rapazes começaram a me dar soquinhos no ombro em sinal de aprovação. Eu continuei comendo e ela atendeu o celular, me fazendo ganhar mais tempo observando ela. Ficamos em total silêncio, certamente nós cinco estávamos olhando cada detalhe do seu corpo.

- Eu ainda vou mostrar pra essa mulher o poder que os dedos de um pedreiro tem — comentei comendo minha marmita.

- Tu é o bicho mesmo, Karlão.

Ela desligou o celular e abriu a porta do escritório, eu não perdi a chance de gritar:

- Você é a carne que falta na minha marmita, princesa.

Ela ouviu e fechou a porta. Levantamos, estávamos ali apenas para vê-la passar.

- Hoje você foi boa Karlão. — Adalberto comentou.

- Essa aí se fosse um sanduíche seria o X-Princesa.

Eles riram e eu peguei novamente a minha pá para continuar o trabalho. Trabalhamos até 16h40, hoje era quinta-feira, corremos para a porta da obra. E lá estava ela, saindo e entrando no seu luxoso carro, começamos a aplaudir.

Ela foi embora e nós fomos juntar nossas mochilas.

- Amanhã a gente trabalha de madrugada porque ta com previsão de chuva.

- Nós nada... Eu vou vir a tarde — resmungou Emerson

- Quem pode vir de madrugada?

- Eu venho — comentei colocando minha mochila nas costas.

- Beleza, então Gerson e a Karlão vem de madrugada e nois fica a tarde, vocês têm que passar os fios pra colocar luz, não vai rolar de fazer isso durante o dia por causa da chuva.

Concordei e sai para pegar o ônibus e ir para casa, enquanto andava vi o carro da madame parado no sinal de trânsito. Assobiei para ela, que olhou automaticamente.

- Opa, me desculpa, eu cheguei a pensar que era a Megan Fox — falei rindo abanando os braços.

Ela ficou em silêncio e voltou sua atenção para o trânsito. Parei no ponto de ônibus, ela passou novamente quando eu estava entrando no mesmo, eu percebi que ela me viu, mas não fez nada, eu somente entrei e me sentei no lugar que costumava sentar.

Sorri satisfeita, hoje o dia foi produtivo... Eu sabia que não a veria amanhã, mas tudo bem, ela sempre passava no escritório nos sábados, e eu tenho ficado um pouco louca por essa mulher, algo prazeroso, muito desejado e proibido torna-se uma obsessão, eu deveria diminuir meu contato e voltar a levar essas cantadas apenas como brincadeira, como havia feito nos últimos anos.

Antes que o ônibus desse partida, ouvi um grito:

- Fala aí, Karlão!

Virei-me rapidamente, era Vero, uma amiga de quando eu fazia faculdade.

- E aí sua degustadora de clitóris! — gritei dentro do ônibus me levantando e abrindo os braços

Ela começou a rir, enquanto as outras pessoas do ônibus olhavam assustados e desconfortáveis.

- Chupando muitas? — ela perguntou quando passava na roleta para entrar

- Desejando só a sua — pisquei pra ela e fiz um gesto obsceno.

Ela entrou e se sentou ao meu lado:

- Saudades de você.

- Topa uma chopada hoje? Só trabalho amanhã de madrugada.

- Fechado, eu vou pra casa e te encontro na barra ás 18h.

Ela desceu cinco pontos depois e eu desci em seguida, Vero era uma parceira para todas as horas. Cheguei em casa e fui tomar um banho, fiquei alguns minutos tentando fazer com que a água esquentasse, depois a luz parou de funcionar e eu fui trocar.

Coloquei um vestido e passei um creme nas mãos, eu lidava com pás e enxadas o dia inteiro, mas como uma lésbica digna, eu deveria ter as mãos macias. Coloquei um vestido e uma maquiagem preta, minha mãe chegou quando eu já estava pronta.

- Vai sair? — Sinu perguntou

- Vou só dar um role.

- Com quem?

- Vero.

- Não quero você bêbada dia de semana, Camila. Da última vez que você saiu na companhia dessa menina eu fiquei a noite inteira acordada ouvindo os barulhos da sua cama e do seu quarto.

- Ok, mãe.

Falei e sai rindo, eu não tinha celular, então só entrei no ônibus e fui para o lugar marcado com Vero, apesar de não termos uma condição financeira boa, nós sempre saímos para beber em lugares sofisticados, já nos poupávamos de muitas coisas, menos de um bom chope.

Ela chegou 40 min depois do combinado, me juntei a ela e fomos para o lugar marcado, era um lugarzinho sofisticado em copacabana, chegamos e nos sentamos, jogamos conversa fora até que uma ilustre presença vez com que eu me calasse.

- Primeira classe... — falei baixo

Era ela... Acompanhada de um homem e mais um casal. Vero ouviu o que eu disse e se virou.

- Quem é?

- Uma mulher que trabalha em frente a obra.

- Uau, é linda...

A madame percebendo o contato, se virou rapidamente para nós, e em seguida voltou sua atenção para a mesa. Segundos depois olhou de novo, parecendo reconhecer alguém, que no caso, era eu.

Engoli mais um gole de chope, essa noite vai ser longa... 

Construindo Barreiras (camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora